Como aplicar a produção e comércio responsável na sua empresa

Especialista e representantes de grandes marcas comentam a importância da produção e comércio responsável

como-aplicar-a-producao-comercio-responsavel-na-sua-empresa-noticiasFoto: Shutterstock
Você trabalha para um futuro sustentável? As empresas têm um papel fundamental na construção de uma nova mentalidade de produção e também na mudança dos hábitos de consumo. Essa relação entre o setor privado e o bem-estar das pessoas e do meio ambiente foi tema de um painel no 1º Fórum de Sustentabilidade para o Varejo, organizado pela área de Sustentabilidade e Internacionalização da GS&MD.
O presidente do Instituto Akatu, Hélio Mattar, o diretor de ações corporativas da Natura, Marcelo Behar, e a country manager de sustentabilidade da HP no Brasil, Paloma Cavalcanti, foram convidados para debater o assunto e falar sobre ações de sustentabilidade e economia circular.
O PLANETA PEDE SOCORRO
O Akatu é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para contribuir com uma transição acelerada para estilos de vida sustentáveis, isso num mundo que opera em um cenário de insustentabilidade.
Segundo seu presidente, Hélio Mattar, em 8 de agosto de 2016 o planeta Terra ‘entrou no vermelho’. O chamado Earth Overshoot Day representa o dia do ano em que os recursos naturais renováveis reservados para o período de 365 dias chegam ao fim, fazendo com que o planeta comece a ‘operar no cheque especial’.
Ao analisar os Eart Overshoot Day dos últimos 30 anos, Mattar chegou à conclusão de que não houve melhora significativa no período de dias em que a Terra trabalhou sem entrar na reserva, o que indica que, apesar das movimentações em pró de um mundo mais sustentável, ainda há muito o que fazer pelo planeta.
‘O mundo está consumindo 60% mais recursos naturais renováveis do que o planeta consegue repor. Água, ar, absorção de resíduos e terras agricultáveis. Isso ocorre quando apenas 16% da humanidade é responsável por 72% do consumo’, conta Mattar, ressaltando as disparidades em termos de consumo que levam a um outro tipo de insustentabilidade: a social.
Segundo o presidente do Akatu, nos próximos 20 anos, a classe média aumentará em cerca de 1,75 bilhões de pessoas, o que representa um avanço, mas também uma ameaça, já que o grupo terá maior poder de consumo. ‘Se mantidas as mesmas formas de produção e de consumo, nós vamos precisar de quatro planetas’, conta Mattar, contabilizando apenas os 16% que já consomem e as pessoas que irão ascender socialmente. Ao considerar a população total da Terra consumindo com ferocidade, serão necessários recursos correspondentes a seis planetas.
Segundo o especialista, mantendo o atual padrão de consumo, para alcançar a sustentabilidade e reduzir de quatro para um único planeta a quantidade de recursos renováveis necessários, seria preciso minimizar em 75% o total de recursos utilizados, isso sem diminuir a produção.
O COMPROMISSO DAS EMPRESAS
‘A sustentabilidade é o suficiente para todos e para sempre’. A frase foi adotada pelo Akatu como definição de sustentabilidade. Segundo Mattar, para alcançar esse objetivo serão necessárias mudanças tecnológicas, mudanças em políticas públicas, nova consciência dos consumidores, produtos e serviços radicalmente novos e uma nova organização da sociedade. Além disso, as empresas deverão continuar apostando em práticas sustentáveis, mas reduzindo ainda mais as emissões, os gastos com água e energia.
A indústria e o comércio ainda contam com ativos físicos e mindset voltados à insustentabilidade. Por isso, é preciso que seja criada uma nova consciência de consumo nas pessoas. Mattar explica que isso não é sinônimo de consumir menos, mas consumir diferente, reduzindo impactos negativos e aumentando os positivos sobre meio ambiente, a sociedade, a economia e os indivíduos.
‘Essas mudanças no consumidor têm que estar ligadas a mudanças significativas na produção e no que vai ser produzido, exigindo produtos e serviços radicalmente diferentes, saindo do descartável para duráveis, do global para a produção local, do individual para o compartilhado, aproveitando o integral e evitando o desperdiço’, explica Mattar.
Diante desse cenário, o especialista conta que o segmento do varejo ganha um novo papel, o de Choice Editor, escolhendo os produtos que serão vendidos dentro das lojas. ‘Os consumidores não vão conseguir fazer essa seleção olhando para a imensa quantidade de produtos que estão disponíveis. São os varejistas que vão fazer a escolha e vão oferecer produtos que estejam nessa linha (sustentável)’, opina.
COMO É FEITO NA NATURA…
‘A Natura é uma empresa que tem uma construção de sustentabilidade muito coerente’, disse Marcelo Behar, diretor de ações corporativas da marca. Atualmente, segundo Behar, a empresa está construindo um novo conceito, com o objetivo de levar maior clareza para o consumidor sobre o que está sendo feito em sustentabilidade e para que seja possível lidar mais facilmente com o mundo de recursos finitos.
A Natura nasceu como uma loja de produtos naturais, no momento em que a indústria química comandava o segmento dos cosméticos. A partir de 1974, foi estabelecido o modelo de venda direta, que pulverizou a distribuição dos produtos com a ajuda de 5 mil consultoras. Segundo o diretor da marca, hoje já são 1,4 milhão de vendedoras no Brasil. Desde o início já existia a valorização das relações e dos ingredientes da natureza.
‘Houve uma construção muito importante na história da Natura, que foi o conceito do ‘Bem Estar Bem’, da relação empática dos produtos com as pessoas e da empresa com o mundo. O comportamento empresarial da Natura passou a se perceber de outra forma e várias iniciativas da década de 1990, como a criação do Instituto Ecos, foram fundamentais para explicar esse modo de se tentar fazer negócios com outra preocupação, para além da preocupação econômica, trazendo as dimensões sociais e ambientais para dentro do negócio’, conta Behar.
A partir de 2000, a Natura começa a adotar a marca Ecos, que hoje é o carro-chefe da empresa. Com isso, a Natura começou a trazer para seu portfólio de produtos elementos da biodiversidade brasileira. ‘Isso foi uma escolha estratégica do negócio’, explica. Em seguida, com a consolidação do conceito de sustentabilidade, passou-se a praticar uma gestão integrada de resultados econômicos, sociais e ambientais.
A marca estabelece, então, metas nesses três aspectos, que elencam objetivos para os anos de 2020 e 2050. ‘A ambição da Natura é ajudar na construção de produtos e serviços que consigam de fato reduzir as emissões e as chamadas externalidades do processo produtivo. A busca do momento é tentar integrar o que antes era uma externalidade como parte da produção’, conta Behar, fazendo menção à chamada economia circular.
Pensando isso, a empresa está fazendo a contabilidade ambiental dos seus produtos, para que seja possível medir, e para que o consumidor possa saber, quanto aquele produto custa em valor monetário e quanto ele custou para o planeta em insumos.
COMO É FEITO NA HP…
Paloma Cavalcanti foi convidada para falar sobre a cadeia de suprimentos integrados realizada pela HP Brasil, que por ter uma produção nacional local teve a oportunidade de pensar em projetos inovadores e na gestão dessa cadeia de fornecedores. Para ilustrar a iniciativa, Paloma apresentou um case de economia circular, que se tornou uma referência para as outras unidades da HP ao redor do mundo.
Antes disso, a country manager comentou sobre o papel do setor de tecnologia no universo da sustentabilidade. Segundo ela, o grande desafio das empresas do ramo, cuja maior parte dos insumos para produção global vem de regiões específicas do sudeste da Ásia, é pensar em soluções de reciclagem e reinserção desses recursos localmente, após o fim da vida útil dos produtos.
‘A empresa tem mais de 70 anos e foi uma das fundadoras do Vale do Silício. Sempre tivemos uma reflexão muito grande, que veio até dos próprios fundadores, de qual é o papel de uma empresa de tecnologia nesse cenário e qual sua contribuição para a sociedade”, contou a gerente. Segundo Paloma, a HP tem uma das maiores cadeias de suprimento do mundo e precisa ser responsável sobre as práticas que estabelece dentro de suas operações.
‘Por esse papel de liderança, estamos construindo planos que vão além da contribuição individual como empresa. Para citar um exemplo, em relação à ética nas compras e nas nossas cadeias de suprimento, começamos a perceber que o setor de TI é um grande consumidor de metais preciosos. Para vocês terem uma ideia, dentro dos materiais como celulares e computadores existem as placas de circuitos internos, que têm a utilização de ouro, de prata e uma série de metais nobres. A gente começou a perceber que não havia um rastreamento de onde estava vindo esses metais preciosos por ser uma cadeia extremamente globalizada. Então, começamos a liderar um trabalho, que depois se tornou uma prática da indústria, de chegar a ter um rastreamento de onde está vindo esse ouro e evitar, por exemplo, a compra de áreas de conflito na África, com a República do Congo’, explica.
Do ponto de vista das emissões, a principal fonte dentro da cadeia total da HP advém do consumo de energia de seus produtos. Com isso, a empresa assumiu uma meta de ter uma redução de 25% de emissões em seu portfólio, pensando em intensidade de emissão por produto, até 2020, em relação às emissões de 2010. Isso significa pensar em produtos que emitam cada vez menos energia e sejam mais eficientes no consumo energético.
Em função disso, foi criado há 25 anos o programa Design For Enviroment, que considera três pilares principais para o estabelecimento de práticas mais sustentáveis: eficiência energética, inovação de materiais e design para reciclagem. “Hoje em dia, quando se pensa no design eficiente, é preciso ter em mente o que aquele produto vai virar no final da sua vida útil, o que é extremamente complexo, já que eles são feitos com diversos componentes e todos precisam retornar, de alguma forma, para o meio”, conta Paloma, assumindo essa questão como o grande desafio da empresa na questão da economia circular.
Outra tática adotada pela companhia foi a aposta nos modelos de serviço, além da venda de produtos. ‘Essa questão vem crescendo, mas ainda é difícil pensar ‘vou compartilhar o uso do meu celular ou uso do meu computador’. É difícil do consumidor e entender e ainda é preliminar do ponto de vista de negócios, mas é um avanço que o setor de tecnologia vem encarando’, afirma.
Sobre o case de sucesso brasileiro, Paloma conta que o trabalho com manufatura local e de forma totalmente integrada permitiu a criação da “Credle to Credel Supply Chain”, ou seja, uma cadeia de ponta a ponta. ‘A questão da manufatura, da distribuição, a relação que temos com os canais de varejo e com os serviços, utilizando-os, inclusive, para a questão do retorno dos nossos produtos ao fim de vida útil (permite essa cadeia integrada). Com esse retorno, conseguimos trabalhar com o mesmo parceiro de manufatura em soluções de reciclagem e com projetos de P&D que consigam viabilizar a reinserção da matéria prima local’, explica a country manager da HP.
‘Hoje temos 8% de conteúdo reciclado em todo o nosso portfólio de Brasil, com uma meta de conseguir, até o final do ano que vem, com alguns projetos que estão saindo, um total de 20%’. Para isso, além das ações de reciclagem, a empresa lançou mão de inovações tecnológicas, como uma etiqueta de identificação digital para cada produto, que conta a história desse item, oferecendo informações como, por exemplo, quanto tempo passou no mercado, qual é a sua composição, entre outros.
Fonte: Santander Empresas&Negócios
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