Locadoras e Terceirizadoras de Frotas alavancam o crescimento das Vendas Diretas/Corporativas de automóveis
O mercado de automóveis e comerc1a1s leves voltou a ter uma forte expansão nas Vendas Diretas/Corporativas em 2017, atingindo o maior porcentual da história no Brasil: no ano passado 39,9 % dos emplacamentos de carros e pequenos utilitários foram de veículos comercializados por esta modalidade, em expansão sobre 2016, quando as Vendas Diretas/Corporativas ficaram em 36,31 %, já no maior nível em 10 anos no País.
No total, foram comercializados 852 mil veículos por Vendas Diretas/Corporativas em 2017, ante 661 mil em 2016. Os números são da FENABRAVE – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores. Esta expansão ocorreu em meio a um modesto crescimento do varejo em comparação a 2016. O mercado brasileiro comprou no geral, no ano passado, mais 2,1 milhões de carros e comerciais leves, crescimento de 9,36 % sobre 2016.
Os números indicam que, tanto a indústria como o comércio, começaram a sair da recessão que abate o Brasil desde 2014. O primeiro semestre do ano passado teve vendas fracas, mas no segundo período houve recuperação. Se nos anos anteriores a tendência era que os Frotistas vendessem seus veículos para se capitalizar, terceirizando as frotas, em 2017 houve uma mudança neste perfil.
A terceirização continuou a crescer, embora em ritmo bem menor.
Andrea Falcone, diretor comercial da Arval Brasil, terceirizadora de frotas, classifica ainda o setor como “embrionário” e com espaço para o desenvolvimento. Dados fornecidos mostram que o mercado teve 4 % de crescimento em 2017, e a expectativa é de atingir 9 % em 2018. Em países como a Holanda, em comparação ao Brasil, mais de 90 % da frota é terceirizada; considerando o universo de 5 milhões de veículos corporativos por aqui, a participação na frota é ainda muito mais baixa, de 10 % a 15 %.
Mas a tendência do mercado brasileiro, ainda segundo Falcone, é de rápido amadurecimento. Muitas empresas têm optado pela terceirização em vez da aquisição de veículos, tendência parcialmente modificada este ano pelo desempenho das locadoras.
A Arval aumentou sua frota em 14 % em 2017.
O número de veículos há 3 anos (16,5 mil) alcançou 37 % de resultado positivo no período e bateu as 22 mil unidades. A companhia atende todo o território nacional e possui mais de 600 clientes, de pequenos a grandes Frotistas na carteira.
Executivos das terceirizadoras têm notado uma modificação no perfil dos Gestores de Frotas, fortemente reforçada no ano passado nos vários eventos do setor, a exemplo da Conferência Global PARAR: esses profissionais devem, cada vez mais, se transformar em gestores de mobilidade. Falcone, da Arval, indica as características deste novo profissional: “Ser um gestor de mobilidade não é apenas uma tendência. É pensar de maneira ampla e exaustiva nas inúmeras possibilidades de locomoção de todos os colaboradores da empresa: ele trabalha para que soluções de mobilidade, muitas vezes inovadoras, sejam implementadas”. Os planos da Arval para 2018 estão alinhados globalmente e direcionados: investimento em soluções e ferramentas, como recursos online e de telemetria, e car sharing .
Flávio Tavares, diretor de marketing e vendas da GolSat, diz: “Estamos vendo emergir um novo mundo de mobilidade, onde esse Gestor de Frota está sendo estimulado a repensar os modais com os quais será possível cumprir o seu propósito de salvar vidas. Esse profissional deve ser capaz de olhar não só para os carros, mas para todos os pontos que envolvem a viagem do condutor”. E reforça: “A grande questão está em como movimentar as pessoas de um ponto ao outro da forma mais segura, inteligente e sustentável”. Para 2018, o plano é continuar apostando em tecnologia e na profissionalização do setor de terceirização e Gestão de Frotas.
O setor de Vendas Diretas/Corporativas voltou às compras liderado pelas locadoras de veículos, com forte expansão das locações diárias e do turismo interno. Os empresários e gestores das locadoras acreditam que a expansão continuará com força em 2018, porque acompanha duas tendências na mobilidade que no ano passado se firmaram no Brasil: o transporte urbano e intermunicipal por carros de aplicativos (Uber, Cabify, 99 etc) e também o turismo dentro do Brasil, que cresceu a um nível mais modesto, por causa da relativa valorização do Dólar e do Euro, tornando mais baratas para o brasileiro as viagens curtas dentro do País, ao invés das internacionais.
Recuperação da indústria
O Grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles) manteve a liderança nas Vendas Diretas em 2017, com 25,4 % de market share, consideradas as marcas Fiat e Jeep, e 20,7 % se considerada somente a Fiat. A FCA passou por uma renovação da linha de produtos quase total no Brasil, com 7 lançamentos entre 2015 e fevereiro de 2018.
A General Motors ficou em segundo lugar nas Vendas Diretas/Corporativas em 2017, embora tenha mantido a liderança no varejo. Nas Vendas Diretas/Corporativas, a GM ficou com 19,02 % do market share brasileiro, principalmente com a comercialização do modelo Chevrolet Ônix, seu carro mais vendido.
A Volkswagen ficou em terceiro lugar, com 15,02 % da participação de mercado, enquanto a Renault ficou em quarto lugar, com 10,62 %.
“Em 2018, o ‘boom’ nas a locadoras e no rent a car deverá se fortalecer, junto ao crescimento do aluguel de carros para motoristas de aplicativos e também para os turistas que viajam dentro do Brasil. Ainda assim, não acredito que a renovação de frotas será o fator determinante do mercado neste ano”, diz
Fábio Meira, diretor de Vendas Diretas do grupo FCA no Brasil. “Nossa expectativa é de um crescimento de 10 % nas vendas, em linha com o setor”, comenta o executivo, ressaltando
que 2018 “poderá reservar algumas surpresas, embora deva ser um ano com um cenário econômico mais estável para o Brasil e, em consequência, para toda a cadeia automobilística e automotiva. Os últimos 3 anos foram uma montanha-russa’, diz Meira.
“Nós ainda enxergamos um espaço enorme para crescer no Brasil. É preciso lembrar que o mercado da locação de veículos no País não é totalmente desenvolvido”, diz Eugênio Mattar, presidente da Localiza Hertz, maior locadora de automóveis do Brasil e da América Latina e quinta maior do mundo. Mattar calcula que atualmente existam 7 mil locadoras de veículos no Brasil e estima que o setor de locação crescerá outros 10 % em 2018, após ter tido uma expansão semelhante no ano passado. A Localiza comprou e absorveu a operação brasileira da Hertz americana em 2017 (veja entrevista nesta edição).
A indústria brasileira também planeja um crescimento na produção e no mercado interno como um todo. A produção de veículos leves (só carros e comerciais) poderá chegar a 3 milhões de unidades em 2018. Em 2017, foram licenciados no Brasil, mais de 2,2 milhões de automóveis e comerciais leves, informa a ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.Já a produção de automóveis e comerciais leves foi de 2,69 milhões de veículos. Houve uma expansão de 10 % sobre 2016, após vários anos de quedas por causa da recessão.
As montadoras instaladas no País, contudo, aumentaram as exportações no ano passado para 766 mil veículos (dos quais 728 mil automóveis e comerciais leves). Em 2016, a indústria automotiva brasileira havia exportado 516 mil veículos, dos quais 485 mil foram automóveis e comerciais leves, segundo a ANFAVEA.
“Estimamos que a produção de veículos leves este ano chegará a 3 milhões de unidades, o que representa um crescimento de 13 % sobre o resultado alcançado no ano passado”, diz Antonio Megale, presidente da ANFAVEA.
Megale acredita que o mercado interno brasileiro absorverá em 2018 cerca de 2,4 milhões de automóveis e comerciais leves. “Isso é muito positivo, tanto para toda a indústria automotiva quanto para a economia brasileira, porque confirma a retomada do setor”, comenta. Ele diz que mesmo com a melhoria, a indústria brasileira vai demorar para superar o recorde na produção, de 3, 7 milhões de veículos, alcançado em 2013. A capacidade instalada de produção, atualmente, está ao redor de 5 milhões de veículos leves. Em março de 2018, a indústria de carros e comerciais leves ainda trabalhava com ociosidade de 40 %.
Em 2017, mesmo com a recuperação do mercado interno (vendas diretas e varejo) muitas montadoras só conseguiram fechar o ano no “azul” com as exportações.
As marcas, principalmente as chinesas, ainda sentiram os efeitos da recessão de meados da década. A Chery vendeu o controle da sua fábrica brasileira para a Caoa. A Geely, que é dona da sueca Volvo e havia encerrado suas operações no Brasil em 2016, estuda uma volta eventual ao mercado em 2018 como importadora. A JAC fechou muitas concessionárias e pretende recuperar boa parte em 2018, mudou portfólio de produtos e anunciou recentemente a instalação de uma linha de montagem em Goiás (veja reportagem nesta edição).
A FCA, Volkswagen, General Motors, Toyota e Renault, entre as marcas com maiores volumes de vendas, anunciaram investimentos de bilhões de reais durante 2017, na produção de novos motores, lançamentos de automóveis e modernização das fábricas. Uma parte das novidades deverá ser apresentada no 30° Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, maior evento da indústria no Brasil e que ocorrerá em novembro. Ao mesmo tempo, com o fim do Inovar-Auto, espera-se um aumento nas importações de veículos, embora as projeções de crescimento nas importações sejam modestas, também de até 10 % em volume de vendas. A KIA retomou a abertura de concessionárias e outra marca sul-coreana, a SsangYong, voltou ao mercado brasileiro no começo de 2018.
O setor da distribuição de veículos, um dos mais atingidos pela recessão de meados da década, voltou a crescer em 2017 e tem boas expectativas para 2018. “Hoje temos uma condição econômica favorável no Brasil, com a queda da inflação, da taxa básica de juros e da inadimplência. Isto fez com que a confiança econômica voltasse”, sintetiza Alarico Assumpção Júnior, presidente da FENABRAVE.
Fonte: Anuário 2018 – Frota & Mercado – Páginas 32, 33 e 34.