Por que o fomento ESG em mobilidade corporativa representa uma oportunidade criativa e inovadora de mudanças sociais
Mobilidade e impacto ambiental são pontos fundamentais na discussão sobre o desenvolvimento sustentável de territórios ao redor do mundo, principalmente nos adensamentos urbanos. Com efeito direto na qualidade de vida da população, a conscientização e investimentos responsáveis nestes temas são tão necessários para governos, cidadãos e empresas.
Falta de planejamento urbano, dependência do transporte rodoviário e a motorização individual são algumas das causas de um cenário com altos custos econômicos e grandes desigualdades sociais. Tais transtornos não atingem somente o cotidiano das pessoas. Eles prejudicam também a saúde através dos impactos ambientais gerados.
De acordo com a WRI, no Brasil, até 60% dos deslocamentos nas cidades são realizados por motivo de trabalho. A cada ano, perdemos em média 15 dias nesses trajetos. É importante perceber que são números expressivos, indicando que a mobilidade urbana não pode ser responsabilidade apenas dos governos: a contribuição do setor empresarial é crucial para fazer com que as pessoas optem por meios mais sustentáveis de transporte.
Além de “retornar” parte desse tempo às pessoas, a redução de deslocamentos pode trazer outros benefícios ao país. Tende a diminuir os prejuízos causados por congestionamentos, atualmente de cerca de 4% do PIB. E, pode salvar milhares de vidas. Anualmente, no Brasil, morrem cerca de 50 mil pessoas por doenças causadas ou agravadas pela poluição do ar, e cerca de 35 mil em decorrência de acidentes de trânsito.
Ao investir em estratégias corporativas de mobilidade, as empresas reduzem gastos, aumentam a produtividade e oferecem um ambiente de trabalho mais atrativo para as pessoas. Isso é investimento ESG na veia! Trata-se de uma quebra de paradigma, pois exige comprometimento e mudanças na cultura organizacional. Um exemplo de investimento em mobilidade corporativa, há tempos iniciado de modo tímido, tornou-se escancarado em tempos de pandemia: o teletrabalho ou, como queira, home office. Hoje, o home office é visto como uma oportunidade econômica.
Conforme a WRI Brasil Cidades Sustentáveis, as empresas que investem em mobilidade e são comprometidas na redução de impactos ambientais negativos e na geração de mudanças sociais positivas apresentam uma acelerada e diversa transformação, pois, produtoras de:
1. Benefícios para as pessoas:
1.1 Aumento da satisfação com a organização;
1.2. Melhor aproveitamento do tempo perdido em deslocamentos; e,
1.3. Melhoria da qualidade de vida.
2. Benefícios para a corporação:
2.1. Retenção de talentos e redução do turn over das pessoas;
2.2. Melhoria na pontualidade e entrega de resultados;
2.3. Aumento da qualidade produzida;
2.4. Adaptação à mudança do local da organização;
2.5. Aumento da acessibilidade ao local de trabalho;
2.6. Aumento de inclusão de pessoas com mobilidade reduzida;
2.7. Cumprimento de metas de sustentabilidade;
2.8. Melhoria da imagem institucional frente aos parceiros e à sociedade;
2.9. Promoção de equidade de gênero;
2.10. Redução da demanda por espaço físico do escritório;
2.11. Redução do número de faltas ao trabalho (absenteísmo);
2.12. Redução dos custos com benefícios ao transporte individual (estacionamento, auxílio combustível, frota);
2.13. Melhoria no desempenho em índices financeiros de sustentabilidade;
2.14. Redução da demanda por vagas de estacionamento.
Perceba que as empresas adotam medidas de mobilidade também como iniciativa de retenção de talentos, visto que as novas gerações de profissionais valorizam esse tipo de benefício.
O fomento em mobilidade corporativa – ainda um conceito novo no Brasil – representa uma oportunidade criativa e inovadora para encorajar a mudança de comportamento das pessoas.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S. A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Ceará.