Carro elétrico fica fora de incentivo a híbrido
De Valor Econômico
Os carros elétricos foram retirados dos incentivos que estão sendo preparados para as vendas de veículos com propulsão alternativa no país. A ideia do governo, pelo menos num primeiro momento, é apoiar com a desoneração do imposto de importação apenas carros híbridos de autogeração, aqueles que aproveitam a energia produzida pela desaceleração ou frenagem do veículo para recarregar as baterias.
Carros com baterias que podem ser recarregadas diretamente na tomada – como modelos puramente elétricos ou os chamados híbridos plug in – estão fora dos primeiros estímulos a serem anunciados em Brasília. Fontes da indústria dizem que a crise energética tem impedido incentivos a esse tipo de veículo.
A leitura é que o governo teria dificuldades em explicar à sociedade o apoio a carros elétricos num momento em que o país precisa acionar usinas térmicas para garantir o abastecimento de energia. Fora isso, a viabilidade dos automóveis elétricos ainda esbarra na ausência de uma grande rede de postos de recarga das baterias.
Tidos como mais viáveis para a infraestrutura disponível atualmente, os carros autogeradores devem ser incluídos na lista de produtos beneficiados pelo regime de ex-tarifário, o que permitiria reduzir o imposto de importação de 35% para 2%. A proposta, segundo apurou o Valor, está em análise pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) para ser submetida à votação de seu conselho. A expectativa na indústria é que a medida seja anunciada nas próximas semanas, possivelmente ainda neste mês.
Há quem veja nesse estímulo o ponto de partida para uma política mais ampla de apoio a novas tecnologias de propulsão. “Acredito que o governo deve tatear esse mercado dos híbridos para depois adequar o programa a outras tecnologias”, diz uma fonte que acompanha as negociações.
O que o governo oferece, porém, está longe das expectativas da indústria de um programa com objetivos de longo prazo e de maior amplitude nas tecnologias contempladas. Há pouco mais de um ano, a Anfavea, entidade que abriga as montadoras instaladas no país, listou seis alternativas tecnológicas que poderiam ser estimuladas em dois ciclos de desenvolvimento: primeiro, com incentivos a importações e, na sequência, com estímulos à produção local. Na primeira fase, cada montadora teria uma cota para importar esses carros com abatimento no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) até 2017. Já na segunda etapa, os incentivos seriam concedidos apenas a marcas que decidissem produzir localmente as novas tecnologias, com desenvolvimento de engenharia e fornecedores, assim como a localização progressiva de componentes.
As tecnologias defendidas pela entidade vão desde os carros híbridos, que combinam o tradicional motor a combustão interna com o sistema de tração elétrica, a veículos puramente elétricos ou movidos a célula de combustível.
Assim, nem todas as montadoras estão satisfeitas com o andamento das negociações em Brasília. Para executivos das marcas prejudicadas, o Brasil segue na contramão da corrida tecnológica ao concentrar seus incentivos apenas em carros híbridos de autogeração, considerados como os mais defasados entre os sistemas de propulsão alternativa.
O apoio vai beneficiar modelos como o Fusion, da Ford, e o Prius, o híbrido mais vendido do mundo, produzido pela Toyota no Japão. Mas montadoras que investiram em carros puramente elétricos, como as japonesas Mitsubishi e Nissan, seguem sem os incentivos esperados para trazer essas tecnologias.
Há consenso de que, sem cortes brutais em impostos e o apoio do governo, como se fez em mercados desenvolvidos, será inviável disseminar os carros elétricos ou híbridos no Brasil. Nos Estados Unidos, os subsídios governamentais chegam a reduzir em US$ 10 mil, para US$ 18,8 mil, o valor pago pelo Leaf, o carro puramente elétrico da Nissan.
A Toyota estima que poderia vender o Prius por menos de R$ 100 mil caso o carro tivesse, ao menos, isenção do IPI. Sem esse benefício, o modelo é vendido hoje por R$ 120,8 mil.
Fonte: ABLA