Branco ameaça prata e deixa carros coloridos mais longe das ruas
Durante o Salão de Detroit, em janeiro, UOL Carros analisou as novas tendências globais para pinturas automotivas e constatou que cores como vermelho e azul estão em alta, ainda que o branco prevaleça no mercado americano há oito anos, acompanhado de perto por preto, prata e cinza.
Influenciado por importados de luxo, como BMW e Mercedes — que valorizaram a “roupa branca” nos últimos anos como sinônimo de eficiência e consciência global –, o Brasil aderiu à moda e esta cor perdeu o estigma de “cor de táxi” (em São Paulo) ou de “geladeira sobre rodas”. Segundo relatórios das duas maiores fabricantes de tintas, Axalta e PPG, a cor ameaça a hegemonia do prata, vigente desde 2001.
No balanço da Axalta (antiga DuPont), o branco já tomou a liderança nas vendas de carros novos em 2013, com 29% do mercado, contra 25% do prata. Já os índices da PPG apontam o prata ainda à frente, com 33%, e o branco em segundo, com 29%. Nos dois rankings, preto e cinza completam o quarteto que monopoliza cerca de 80% dos emplacamentos no país.
Os índices não deixam mentir: o brasileiro ainda é muito conservador ao escolher a cor do carro. E não é mera questão de gosto pessoal. “Muitos consumidores ainda ficam preocupados com a perda de valor de revenda que cores excêntricas podem causar”, diz Tikashi Arita, gerente de negócios automotivos da Axalta.
Nem sempre foi assim: até o início dos anos 2000, era mais comum ver nas ruas modelos de cores como azul e verde. No decorrer dos anos 1990, o país chegou a encarar pequenas “febres” de determinados tons. “Na segunda metade daquela década, tivemos períodos de grande procura pelo vermelho e também pelo verde”, lembra Alex Amorim, gerente de cores e pigmentos da PPG.
Para Arita, as montadoras até estão dispostas a mudar o cenário atual e deixar as ruas mais coloridas, oferecendo opções diversificadas em suas paletas. Entretanto, o processo ainda tem “pouca representatividade” no cenário de curto prazo.
DESCARTÁVEIS
Se as cores alternativas são ignoradas na hora de comprar um carro zero, diretores de marketing pintam um mundo mais colorido ao lançar um modelo. Com as novas tecnologias disponíveis, é possível criar misturas de tintas cada vez mais criativas e chamativas, conforme se viu nos estandes do último Salão de Detroit, em janeiro.
“O objetivo é mostrar um carro que chama a atenção e, ao mesmo tempo, usar uma cor que permita analisar todos os traços do veículo com clareza, algo nem sempre possível nas cores mais neutras”, disse a UOL Carros Paulo Madeira, assessor de produção da General Motors.
Daria até para vislumbrar as ruas brasileiras repletas de carros coloridos num futuro não muito distante — mas, passado o impacto do lançamento, as cores diferentes saem logo do catálogo.
Isso ocorreu recentemente com o laranja Flame do Chevrolet Onix, principal cor usada na apresentação do modelo, em outubro de 2012. Esse também deve ser o destino do marrom Cobre do novo Renault Logan, mostrado no final do ano passado. “Não há interesse da massa [de clientes] por essas cores. A participação delas é muito pequena no mercado”, aponta Arita, da Axalta.
É claro que há exceções. O Fiat Uno, por exemplo, começou a ser comercializado em 2010 e, desde então, várias cores pouco convencionais continuam no catálago, como o verde Box (na versão Way), o amarelo Citrus (Vivace, Attractive e Economy) e o laranja Nemo (Sporting) — todas conhecidas popularemente como cores “marca-texto”, em alusão às canetas de destaque. E vendem relativamente bem, com respectivas fatias de 6%, 4% e 4% em suas versões. “O verde chegou a concentrar 13% na época que o Way foi lançado”, informa a assessoria da montadora italiana.
Por isso, a paleta colorida segue viva e sem previsão de ser descontinuada. “Tudo depende da aceitação”, diz a Fiat.
NA REVENDA
Comprar um veículo com cor diferente tem prós e contras. Tudo depende da disposição do vendedor e do ânimo do comprador. Consultor de usados e seminovos em Osasco (SP), Felipe de Paula afirma que a loja já vendeu mais de uma dezena de Uno nas cores amarelo e verde só este mês, todos ano-modelo entre 2010 e 2012.
Ele afirmou que potenciais compradores podem resistir um pouco, mas que é possivel vender até com facilidade caso se saiba ressaltar as vantagens. “É questão de gosto, mas o valor do seguro, por exemplo, fica mais barato [porque as cores “normais” são mais visadas]. Se a pessoa enxergar esses detalhes, fica com o carro”, comentou.
A estudante Thábata Mascaro, de São Paulo (SP), adquiriu em 2009 um Vectra GT azul Arian, que vem tentando revender em sites especializados há dez dias. Longe de se arrepender da escolha, ela ressalta que o visual “exclusivo” ajuda a puxar o preço do carro para cima. “Comprei por ser mesmo uma cor diferente, e ela chama atenção na hora de vender. Já me ligaram umas dez pessoas interessadas e estou conseguindo negociar por um valor maior”, contou.
ALERTA VERMELHO
Excetuando casos isolados, é evidente que prata, branco, preto e cinza seguem dominando as ruas brasileiras. O grande — e único — candidato a furar essa “bolha” é o vermelho, que desde 2008 se consolidou como quinta cor preferida do brasileiro e já incomoda o quarto lugar do cinza. “A ascensão do vermelho tem muito a ver com o aumento da participação dos jovens e das mulheres no mercado”, crava Arita.
Mas será que essa cor terá força para se manter forte e crescer? As opiniões divergem. “Acredito que os tons vermelhos e alaranjados podem chegar a até 15% [do mercado] nos próximos anos”, diz Amorim, da PPG. “O vermelho tende a ficar estabilizado”, contrapôs o gerente da Axalta.
Ambos discordam também ao falar do azul: enquanto a Axalta aposta num crescimento até fatia próxima à do vermelho, a PPG crê que a participação deve continuar abaixo dos 5%. Para amarelo, marrom e verde, contudo, o prognóstico é o mesmo: pouca oferta, geralmente em modelos mais esportivos ou aventureiros.
EFEITOS DO TEMPO
- Quantas cores você vê nos carros desta foto de 1970, na avenida Paulista, São Paulo (SP)?
- E nesta outra imagem, já de 2014, captada na 23 de Maio, também em São Paulo?
A COR E O PREÇO
Existe ainda outro fator contrário à popularização de agumas cores: o preço. Enquanto as chamadas cores sólidas (na verdade, o melhor termo seria “uniformes” ou “lisas”), como preto, branco e vermelho, geralmente são de série e estão incluídas no valor do carro, outras opções (metálicas e perolizadas) são cobradas em separado.
Veja abaixo lista com algumas das cores alternativas oferecidas pelas dez principais montadoras do mercado brasileiro, em seus modelos de maior popularidade; ao lado, o preço cobrado pela inclusão de cada uma delas.
Vale a pena conferir também os nomes escolhidos para algumas delas:
CITROËN
+ Aircross: Hickory (marrom), R$ 1.190
+ C3 ou C3 Picasso: vermelho Rubi, R$ 1.190
+ C4 Lounge: azul Bourrasque: R$ 1.290
+ DS3: amarelo Pégase, de série
+ DS3: vermelho Erythrée: R$ 1.240
CHEVROLET
+ Agile: vermelho Chili, R$ 1.000
+ Camaro: amarelo Lemon Peel, de série
+ Cobalt: azul Macaw, R$ 1.125
+ Cruze: azul Macaw, de série
+ Onix: azul Sky, R$ 1.125
+ Prisma: cinza Sand, R$ 1.125
+ Sonic: vermelho Crystal Claret, de série
FIAT
+ Novo Palio: azul Cosmos, azul Trinidad ou vermelho Oppulance, R$ 1.062
+ Punto azul Maserati, R$ 1.155
+ Strada cinza Tellurium ou verde Savage, R$ 1.079
+ Uno: amarelo Citrus, verde Box, laranja Nemo ou amarelo Interlagos, de série
FORD
+ New Fiesta: azul California ou vermelho Vermont, R$ 1.270
+ Focus: azul Mônaco, R$ 1.285
+ EcoSport: laranja Savana, R$ 1.085
+ Fusion: azul Carmel, de série
HYUNDAI
+ HB20: azul Ocean, R$ 1.265
HONDA
+ Fit Twist: azul Denim, R$ 990
PEUGEOT
+ 208: marrom Dark Carmin, R$ 1.100
RENAULT
+ Clio: vermelho Fogo, R$ 995
+ Logan: marrom Cobre, R$ 1.050
+ Sandero Stepway: verde Amazônia, R$ 1.040
+ Duster: verde amazônia ou vermelho fogo, R$ 1.350
+ Fluence: azul Crepúsculo ou vermelho Fogo, de série
TOYOTA
+ Etios: azul lounge, de série
+ Etios Cross: amarelo Reggae, de série
VOLKSWAGEN
+ Take up!, move up! ou high up!: amarelo Saturno, R$ 1.550
+ Gol Track ou Rallye: amarelo Solaris, R$ 1.624
+ Gol Seleção: azul Boreal, R$ 1.056
+ Gol Rallye ou Voyage: vermelho Apple, R$ 1.108
+ Saveiro: amarelo Solaris, R$ 1.336
+ Fox ou Fox Seleção: azul Boreal: R$ 1.067
+ CrossFox: laranja Atacama, R$ 1.961
+ SpaceCross: azul Island, R$ 1.081
+ Jetta: azul Tempest ou marrom Toffee, R$ 1.067
+ Novo Golf: azul Pacific, R$ 981
CORES PREFERIDAS EM 2013
- Fonte: rankings Axalta e PPG, Brasil.
DESTINOS DIFERENTES
- Chamativo, o laranja Flame foi usado pela Chevrolet para “bombar” o lançamento do Onix, e cumpriu sua missão com louvor; depois, caiu no esquecimento e já não faz mais parte da paleta de cores da marca
- A Fiat fez o mesmo ao lançar o Novo Uno, em 2010, porém com mais sucesso: o verde box chegou a concentrar 13% das vendas da versão Way e continua até hoje no catálogo, junto com o amarelo Citrus e o laranja Nemo
Fonte: UOL CARROS