Para especialistas, é preciso eliminar carros
A necessidade de investimento no transporte público e, consequentemente, de oferecer menos espaço para os veículos circularem é a principal alternativa para melhorar o trânsito caótico observado atualmente nas regiões metropolitanas, como é o caso do Grande ABC. Isso é o que defendem especialistas ouvidos pelo Diário durante seminário sobre os desafios do transporte sustentável, realizado no Rio de Janeiro pela Scania.
O cenário do Grande ABC é preocupante. Enquanto a região ganhou 0,9% mais vias entre 2008 e 2012, houve alta de 38,1% na quantidade de veículos. Entre as sete cidades, há média de 0,8 veículos por habitante, com destaque para São Caetano, onde existem mais de um automóvel por pessoa. “O índice de motorização cresce a níveis insustentáveis por falha na gestão da mobilidade por parte do poder público”, considera o ex-secretário de Política Nacional de Transportes do Ministério dos Transportes, Marcelo Perrupato.
De acordo com o diretor geral da Scania Colômbia, Enrique Enrich, cabe aos municípios regular o transporte público e priorizá-lo em detrimento dos veículos particulares. “Isso se faz com a criação de corredores exclusivos, construção de ciclovias, calçadas, ou seja, diminuindo o espaço do carro”, explica. Outra opção já utilizada na Capital é o rodízio de veículos. “Temos ainda a questão do pedágio urbano, que apesar de polêmica, pode ser alternativa para conseguir investimentos para o transporte publico”, diz.
Na região, Santo André e Mauá já contam com corredores para ônibus desde o fim de 2013. A implantação de faixas exclusivas para o transporte público já aumentou em aproximadamente 14,3% o número de pessoas que utilizam coletivos em dois pontos de Santo André. “Quando a pessoa tem incentivo, começa a se mover por transporte público”, comenta Enrich.
Para Perrupato, a melhor forma de melhorar a situação é via Consórcio Intermunicipal. “O ideal é fazer regras para todos porque não adianta criar só em uma cidade”, esclarece. A principal ação regional neste sentido é a criação de pacote com 157 intervenções previstas a custo de R$ 7,8 bilhões, entre elas o corredor de ônibus Leste/Oeste, que será construído em São Bernardo com verba de R$ 247 milhões do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Planejamento
Uma das ideias de melhoria para o cenário atual é regular e fiscalizar o uso do solo às margens das rodovias, como é o caso da Anchieta e Imigrantes, que passam pelo Grande ABC, na visão de Perrupato. “No ritmo que o Brasil está crescendo, teremos de duplicar as estradas em cerca de dez anos, mas cadê espaço para isso?”, questiona. Segundo ele, o adensamento populacional em áreas sem infraestrutura piora o trânsito, à medida que as pessoas passam a usar o carro para se deslocar. “Você tem de ter bons administradores públicos, disciplinados e com visão de futuro”, diz.
Bom serviço incentiva a inclusão social
A oferta de um transporte público de qualidade para as pessoas garante desenvolvimento para o município e Estado, além de ser instrumento de inclusão social, observa o diretor geral da Scania Colômbia, Enrique Enrich.
Segundo ele, Bogotá, a capital colombiana, é exemplo de cidade que implementou há 13 anos sistema de transporte público vantajoso, denominado Transmilenio. Entre os <CW30>benefícios destacados estão pontualidade, rapidez e rentabilidade. Já o desafio é absorver a demanda de passageiros, que vem aumentando.
Em contrapartida, Enrich explica que no Brasil o número de passageiros para o transporte público vem caindo desde a década de 1990. “O preço da passagem aumenta mais do que a inflação e isso expulsa passageiros. Em resposta, o custo sobe e é preciso reajustar a tarifa”, destaca.
Para o especialista, o investimento em tecnologia e qualidade nos serviços, além de mudança na forma de calcular o preço tarifário trouxeram a eficiência colombiana. “Estamos iniciando a terceira fase de implantação, que cria um sistema integrado de transporte com objetivo de introduzir produtos com tecnologia limpa”, salienta.
Desde março, está sendo testado ônibus movido a gás natural, o que garante menor emissão de poluentes com eficiência mecânica.
Evento discute necessidade de alternativas sustentáveis
A primeira edição no Brasil do evento Scania Transport Conference reuniu grupo de especialistas das áreas de mobilidade, tecnologia, logística e sustentabilidade para debater temas relacionados à cadeia do transporte. A equipe do Diário viajou ao Rio a convite da Scania. “A ideia é criar discussão de como chegar a uma sociedade mais sustentável”, esclarece o presidente da Sempresa na América Latina, Per Olov Svedlund.
Segundo o executivo, a estimativa é de que a frota de veículos comerciais tenha alta de 60% até 2030, o que consequentemente acarretará no aumento da emissão de poluentes. “Sabemos que apenas com a educação do motorista conseguimos reduzir a emissão de dióxido de carbono em até 10%. Agora temos que discutir a melhor forma”, destaca.
Para o coordenador do curso de especialização em Engenharia Automotiva da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Marcelo Massarani, uma das saídas é avançar na parceria entre universidade e empresas. “Certamente, podemos encontrar uma solução local”, diz.
Fonte: Portal do Trânsito