Por que insistimos no erro de usar o celular ao volante?
De O Povo
Falar ao celular enquanto dirige é infração de trânsito. Não é grave, mas pode ter consequências perigosas. E disso todos motoristas sabem. Então por que ainda é tão comum encontrar condutor telefonando no trânsito?
O vidro fumê pode até ajudar a encobrir, mas olhando atentamente é fácil perceber a silhueta infratora. Uma mão fora do volante, articulação oral intensa: eis mais um motorista dirigindo e falando ao celular em Fortaleza. Há outros que não se escondem atrás do vidro fechado e bancam o diálogo fora de hora escancaradamente.
O celular está cada vez mais presente onde não deveria. Usar o equipamento no trânsito é infração punida com quatro pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 85,13. Todo condutor habilitado aprende isso. Então qual o motivo para condutores continuarem sendo infratores e possíveis geradores de acidentes (graves, inclusive) no trânsito?
“É falta de consciência”. Resume o mototaxista José Paulino Honório, 45. “O celular distrai. Triscou dois segundos já foi suficiente para acabar com uma família”, diz, garantindo já ter perdido corrida para poder estacionar e atender o celular.
Já a vendedora Naiana dos Santos, 21, sabe do perigo da prática, mas não deixa de caminhar com o celular na orelha. E isso, algumas vezes, atrapalha, admite. Para ela, é a falta de mais tempo no dia a dia “para resolver problemas” que faz do celular item popular no trânsito – motorizado ou a pé.
O fiscal de operações David Moura, 27, é adepto da soma motocicleta+celular. Capacete para o alto, uma mão no guidom e celular em uso é prática “normal” para ele. “Vou guiando e conversando. Consigo fazer as duas coisas”, justifica.
Por conseguir “fazer as duas coisas” ao mesmo tempo, David pode ser enquadrado em um percentual de 2% da população mundial. Esse é o índice de indivíduos com habilidade para “executar duas ou mais atividades simultaneamente”, segundo o médico Dirceu Rodrigues, especialista em medicina do tráfego e diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Por isso, Dirceu aponta ser extremamente arriscado dirigir usando o celular, já que o aparelho causa um desvio de atenção perigoso no trânsito, um espaço em que as funções cognitiva, motora e sensorial-perceptiva precisam estar ativas. Para ele, a infração é comum por causa da falta de educação no trânsito, de fiscalização rigorosa e de punição mais severa.
Celular
O celular que toca no carro desconecta o motorista de sua função. A direção fica mais lenta, menos coordenada, perigosa. Ao acionar o botão e iniciar a chamada, visão, audição, percepção e vigília sobre o trânsito se perdem. “Isso concorre para que você tenha um acidente. Você leva três, quatro segundos pra pegar celular e acionar. Nesse tempo, se você estiver a 100km/h, terá percorrido 100m, 120 metros sem visão total do ambiente porque a sua atenção, sua concentração, sua percepção estarão ligadas só no que o indivíduo vai falar”, diz Dirceu. As chances de um acidente se multiplicam por três quando o celular está envolvido. Se o condutor estiver sobre duas rodas, crescem dez vezes.
O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador em segurança viária, Flávio Cunto, indica não haver estatística nacional confiável sobre os acidentes envolvendo celular. Porém, cita, “estudos internacionais indicam que um em cada quatro acidentes são ocasionados pela utilização” do aparelho.
“Ao contrário do que muitos pensam, o emprego de tecnologias como o ‘hands free’ ou ‘bluetooth’ não diminui as chances de envolvimento em acidentes”, alerta o professor. Porque mesmo o que não afasta o olhar do condutor do trânsito pode acabar com a atenção dele. Dirceu Rodrigues dialoga lembrando que qualquer tecnologia que desvia o foco do motorista é perigosa. Aí são incluídos aparelho de DVD, GPS, computador de bordo, mp3 player com fones de ouvido… Digitar também é arriscado. “É uma série de tecnologias extremamente nocivas, que trazem prazer, mas podem fazer o sujeito encurtar a vida”, alerta.
Dica
Um aplicativo para o celular ajuda o motorista a não falar ao celular enquanto dirige.
Com o “Mãos no Volante”, você programa o tempo de viagem e, durante o período, o celular fica bloqueado para receber chamadas.
No período programado, uma mensagem SMS é enviada para cada pessoa que liga para o celular do motorista avisando que ele está dirigindo. Quando a viagem termina, você recebe um aviso sobre as ligações perdidas.
O aplicativo é uma iniciativa do Ministério das Cidades, através do Pacto Nacional pela Redução de Acidentes – Parada pela Vida.
O download é gratuito e está disponível apenas para smartphones com sistema Android (www.paradapelavida.com.br)
Fonte: Portal do Trânsito