O impacto da pandemia na mobilidade
Devido à pandemia de Covid-19, a mobilidade sofreu um revés dramático em março de 2020. Surgiram uma série de questões urgentes em torno da crise climática, do modo de vida das pessoas e da mobilidade. As cidades estão no centro da reflexão.
“A pandemia teve um grande impacto na mobilidade”, afirmou à euronews Meike Jipp, Diretor do Instituto de Pesquisa em Transporte do Centro Aeroespacial Alemão.
“Aqui na Alemanha, observámos uma enorme diminuição da mobilidade tanto ao nível dos quilómetros percorridos por dia, como em relação ao número de viagens realizadas por dia”. Meike Jipp acredita que os transportes públicos foram um dos setores mais afetados pela pandemia.
Reconquistar a confiança das pessoas nos transportes públicos
“Antes da pandemia, muitas pessoas iam de carro até à estação e depois apanhavam o comboio para ir para a cidade. Hoje essa rotina mudou, as pessoas vão de carro para a cidade. Na verdade, o carro é o vencedor da pandemia, ao lado da bicicleta. O grande perdedor é o sistema de transportes públicos e a aviação”, sublinhou o responsável.
“As pessoas estão a optar por andar em meios de transporte individuais porque têm medo de ficar doentes ou de contrair uma infeção. É uma grande mudança que ainda está em curso ”, afirmou Meike Jipp.
No início do ano, um estudo realizado pela empresa que gere a aplicação de transportes públicos Moovit revelou que nalgumas cidades um terço das pessoas pararam de usar os transportes públicos por causa da pandemia.
“É muito importante pensar em formas de reconquistar a confiança das pessoas nos meios de transporte públicos e de motivar as pessoas a usar a bicicleta”, considerou Jipp. “Há muita gente que poderia deslocar-se de bicicleta, mas que continua a usar o carro”.
As cidades pós-carro
No curto prazo, o carro individual foi o grande vencedor da pandemia, mas, no longo prazo, as coisas podem mudar, porque as cidades procuram respostas para os desafios ambientais.
A cidade de Barcelona, por exemplo, planeia converter 21 ruas, cerca de 33 quilómetros, em espaços para peões e infraestruturas para ciclistas.
“Se as cidades não se tornarem menos poluídas, as pessoas irão viver para as áreas rurais onde a qualidade do ar é melhor”, afirmou Xavi Matilla, arquiteto da cidade de Barcelona.
“A pandemia funcionou como uma lupa que nos fez ver que a saúde deve ser um dos aspectos centrais na gestão e pleneamento de uma cidade”, afirmou o arquiteto.
Uma mobilidade ativa: andar e pedalar
Paris é outra das grandes cidades europeias que começou a fazer mudanças importantes para diminuir as emissões de CO2.
“A grande tendência na Europa são as cidades pós-carro”, afirmou Ross Douglas, fundador e CEO da Autonomy Paris, um evento global sobre mobilidade urbana sustentável.
A capital francesa tem apostado nas ciclovias. “Paris avançou nessa direção com mudanças muito simples em termos de infraestruturas. A cidade investiu 150 milhões de euros em infraestruturas de ciclismo e observamos agora um aumento de 50% por ano do número de ciclistas, nos últimos dois ou três anos”, afirmou o responsável. E acrescentou: “O que Paris está a tentar fazer é promover uma mobilidade ativia em que as pessoas possam caminhar e pedalar nas ruas”.
Há vida para além dos veículos elétricos individuais
Apesar do recente aumento da popularidade dos veículos elétricos porque permitem evitar o uso de combustíveis fósseis, Douglas acredita que a era da primazia do automóvel individual está a chegar ao fim.
“Os governos vão procurar reduzir as emissões de carbono por meio de mudanças ao nível da mobilidade. E isso vai criar uma enorme pressão para que as pessoas mudem de comportamento”, afirmou o especialista.
“Antes de mais, vamos observar uma mudança dos carros com motor a combustão para os carros elétricos. É o que se vê agora, mas, depois vai haver uma mudança e uma pressão para nos afastarmos do modelo de propriedade dos automóveis, porque até mesmo um carro elétrico tem uma grande pegada ecológica devido ao processo de fabrico ”.
Neste sentido, conceitos como a “cidade dos 15 minutos” começam a ganhar força. Um antídoto para os aspectos disfuncionais da vida na cidade: percursos longos, ruas barulhentas e espaços subutilizados. O conceito de “cidade dos 15 minutos” foi desenvolvido pelo professor Carlos Moreno, da Sorbonne. Trata-se de reorganizar a cidade para que em 15 minutos, a pé ou de bicicleta, as pessoas possam aceder a tudo o que precisam no dia-a-dia.
“É preciso reduzir a presença dos carros nas ruas”, afirma Carlos Moreno. “E a pandemia levou-nos a pensar em novas formas de mobilidade, de consumo e de vida”.
Fonte: euronews