Setor de aluguel de carros continua sofrendo com inadimplência

Para quem olha de fora, o mercado de aluguel de veículos parece ser promissor. Compra-se um veículo com desconto, aluga-o durante um ano, um ano e meio, e depois o vende. Porém, a matemática não é simples. Primeiro: já não existem bons descontos por parte das montadoras. Depois, o verbo “alugar” conjuga uma série de problemas diários que só alguém de dentro de uma empresa de locação de automóveis é capaz de relatar com precisão. Os problemas vão desde a depreciação até os amontoados de multas que chegam dia a dia. Além disso, o aumento do Imposto sobre Produto Industrializado – IPI – e a chegada dos modelos 2014, afetaram diretamente os preços dos automóveis que aumentaram consideravelmente no início deste ano. Depois, vender não é simples. Além de enfrentar um sério preconceito mercadológico, por serem veículos de locadora, ainda precisam concorrer com um mercado predatório.
No meio desta lógica está um dos maiores problemas do segmento: a inadimplência. Em tempos de muita tecnologia e de cartão de crédito, ao invés do inadimplemento reduzir, ele cresce, seja no rent a car ou na terceirização de frota. Segundo Marcelo Pedrosa, da Sirius Rent a Car, a inadimplência foi o maior problema em 2013. “Comprometeu a saúde financeira da empresa e barrou o nosso crescimento”. Nas contas dele, 20% da receita bruta da empresa ficaram danificadas pelos famosos “canos”.
“A inadimplência ocorre em geral por dificuldades financeiras dos clientes de terceirização de frota, ocorridas após o início do contrato de locação. Mas o problema se agrava quando não há gestão correta dos negócios. O encarregado responsável pela empresa falhou muito e permitiu que se acumulassem valores atuais que somam cerca de três meses de faturamento em aberto”, relata André Alvin, da Conexão Rent a Car. Ele lembra que a inadimplência não se dá simplesmente no não pagamento do aluguel do carro ou no cheque sem fundo. “No rent a car, por exemplo, a inadimplência ocorre principalmente quando há sinistro”, afirma André Alvin.
Segundo o levantamento da Revista Sindloc, são poucos os empresários que não tiveram problemas com inadimplência em 2013. É o caso de Fabiane de Souza, da LocBem, e Márcio Lanza Júnior, da Locvel Aluguel de Carros. Outro dado interessante que a pesquisa, feita por email com alguns empresários do segmento, revela é que os principais responsáveis pelos “canos” são os órgãos públicos, como prefeituras e câmaras municipais. Salviano Carneiro, da DAC Locadora de Veículos, sempre usa o recurso da ameaça jurídica. “Para receber estamos sempre usando o argumento que iremos recolher os veículos e acionar o órgão judicialmente. Isto tem dado resultado”, conta.
TARIFA
Em uma lógica de mercado, perdas deste tipo deveriam afetar os preços das tarifas. É o cálculo de risco. No mercado de locação, isso não acontece. Para Cristhiane Simões, advogada da Lokamig Rent a Car, este é um grande erro do segmento. “A maioria das locadoras não prevê este tipo de prejuízo”, diz.
De todo modo, a pesquisa da Revista Sindloc questionou: “Você calcula este tipo de risco na hora de calcular o valor da sua tarifa?”. A maioria respondeu que não. Para Fabiane, é impossível calcular devido ao mercado. “Temos que trabalhar conforme o preço de mercado”, afirma. Leonardo Soares, Presidente do SINDLOC-MG avisa. “Não é de hoje que economistas e especialistas alertam para problemas deste tipo. Se as locadoras não começarem a calcular detalhadamente seus custos, isso irá gerar uma “bola de neve” no setor que levará todos a grandes prejuízos. É hora de repensar a tarifação”, diz.
SOLUÇÃO?
Todos os empresários ouvidos na pesquisa sugeriram soluções para evitar o problema. No caso do André Alvin, da Conexão, houve mudanças na gestão comercial, agora, “mais eficaz”. Além disso, “passamos a atuar com relacionamentos mais próximos com os clientes, encurtando a distância entre as áreas envolvidas (gestor, financeiro, diretoria) e na locadora (financeiro, operacional, gerente)”, explica.
Marcelo Pedrosa lembra das ferramentas de consultas, como SPC/SERASA, análise de balanços, referências comerciais, idade da empresa. “Já iniciamos uma política de nos “desfazer” de clientes mal pagadores”, lembra ele. “A melhor maneira é fazer um cadastro bem complexo. Se a gente for um pouco além, certamente não iremos fugir totalmente das inadimplências, mas iremos inibi-la”, afirma Fabiane, da LocBem.
Para Márcio Lanza Júnior, o caminho é “direcionar a garantia para o cartão de crédito”. Cristhiane Simões, da Lokamig, lembra também da “checagem minuciosa do cadastro de clientes”, mas aponta os Departamentos Jurídico e Financeiro das empresas como um bom caminho para a cobrança. Além disso, sugere: “Seria muito interessante se houvesse uma adesão das locadoras para que existisse um banco de dados para troca de informações, pois é comum uma empresa ou pessoa física dar prejuízo a uma locadora e depois em outra. A troca de informações poderia amenizar muito o problema”, afirma. Seria uma bela iniciativa. Vamos?
Por Leandro Lopes, do SINDLOC-MG.

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