A história da mulher que é C-level de duas empresas ao mesmo tempo

Conheça Clotilde Delbos, C-Level de duas grandes empresas ao mesmo tempo em plena pandemia

 

Você pode imaginar o desafio de ser líder de uma grande empresa nesses tempos de mudanças e ainda em meio à pandemia do novo coronavírus. Agora imagine ser C-level de duas grandes empresas ao mesmo tempo justamente nessa época. Esse é o tamanho da responsabilidade assumida por Clotilde Delbos, CEO da Mobilize, nova empresa do Renault Group, Chief Financial Officer do Grupo Renault e Presidente do Conselho do RCI Bank $ Services. De que forma é possível assumir tantas posições relevantes ao mesmo tempo, ainda mais em um momento tão desafiador da história? Essa história foi contada durante o Viva Tech 2021.

“De repente, estava eu sozinha com meus fones de ouvido e vendo as empresas queimarem caixa.” Assim, sem analgésicos, Clotilde contou sobre sua experiência nos últimos 15 meses à frente de duas empresas. “A sorte é que temos um time maravilhoso na Renault, o que me fez chegar até aqui confiante no futuro”, destacou a CEO.

Para Clotilde, a chave para enfrentar períodos como esse é não se deixar levar pelo pânico e confiar demais no time.

Segundo a executiva, os diretores e demais executivos da Renault são muito bons para enfrentar crises e focados em olhar sempre para o futuro, jamais para o passado (ao contrário da maior parte das lideranças de países como o Brasil, adeptas de tempos nostálgicos onde tudo se resolvia com boa dose de medidas do governo de plantão).  A CEO afirma que tanto nos serviços financeiros quanto no negócio de mobilidade, o importante é se escorar no time, na senioridade deles e se concentrar na execução da estratégia e no desenvolvimento das marcas.

Um novo significado para “CEO”

Clotilde está à frente de uma empresa e marca totalmente novas como a Mobilize, que representa a transição ecológica da indústria automotiva, por meio de soluções de mobilidade e energia flexíveis, associados a dados, facilitando o deslocamento das pessoas nos centros urbanos. Por isso, para a executiva, a expressão “CEO” (de Chief Executive Officer”) ganhou um novo significado.

O “C” é de Creativity, por que é necessário ser criativo para entender o que é o futuro e como achar um lugar para ocupar nesse futuro. “E” representa Experience, a experiência e o legado que uma empresa incumbente carrega como base para enfrentar um futuro repleto de mudanças. E “O” significa otimismo. Mesmo em um período tão complexo quanto o atual, que pede pragmatismo, é necessário ser otimista, enxergando as oportunidades desse novo tempo.

A partir dessa visão, que reúne Criatividade, Experiência e Otimismo, que a Renault lançou o Mobilize no início deste ano, como uma forma de estabelecer a mudança completa do modelo de negócio secular de uma montadora tradicional.

“O mundo está mudando completamente e eu tenho a oportunidade de moldar a companhia para se adaptar e triunfar nesse novo mundo”, observa Clotilde.

Mobilize representa o que a empresa denominou “Renaulution”. Uma estratégia baseada em 3 pilares: Ressurreição, Renovação e Mobilização, para trazer ao mercado carros incríveis, excitantes que revolucionem o amanhã. Mas o que Mobilize significa exatamente como negócio? Até há pouco tempo, o negócio das montadoras era baseado no financiamento do revendedor. Mas faz sentido manter esse modelo em um mundo crescentemente digital? A CEO afirma que os consumidores não querem comprar um carro “financiado”, querem alugar ou assinar um veículo, e ainda assim, de acordo com suas necessidades, querem pagar pelo uso, o que obriga as revendedoras a se reinventarem.

Nesse sentido, a Mobilize significa uma plataforma baseada permitir acesso e mobilidade aos consumidores, a partir de 3 conceitos simples: ser uma marca militante que entenda que ninguém pode ter 100% de um veículo que é usado 10% do tempo, pagar 100% do valor de um veículo que valerá muito menos em 3 anos, e ainda dirigir um automóvel que responde por 10 a 15% das emissões de CO2. Nada disso faz sentido ou é muito justo. Por isso, a Mobilize quer enfrentar essas questões, unindo mobilidade, acesso compartilhado, direção segura e serviços de energia, a partir de carros elétricos que reduzem emissões sensivelmente.

A construção de parcerias

Mobilize é então um exemplo de história de parceiros. A filosofia aqui é entender que a empresa sozinha não conseguirá atingir seus objetivos. Por isso, é necessário buscar novos parceiros, entre startups, empresas de mobilidade e de energia. O grande parceiro da nova empresa, no entanto, é justamente a RCI, que colaborou para desenhar o modelo de negócio que permite financiar veículos como os fabricados pela Mobilize. Segundo João Leandra, Diretor-geral do RCI Bank&Services. Esse modelo de construção de parcerias foi fundamental para a construção da nova marca.

O RCI funciona como um fundo para ajudar o varejo de automóveis, destinando 21 bilhões de euros em depósitos e mais de 500 mil clientes que confiam nos serviços da instituição. Dessa forma, o banco permite que consumidores possam adquirir carros das diversas marcas que fazem parte do conglomerado mundial da Renault, incluindo Nissan e Dácia, além da própria Renault. Em termos concretos, a parceria da RCI com a Mobilize cria o efeito de um canivete suíço, disponibilizando diversos serviços que permitam customizar serviços financeiros e de mobilidade simultaneamente. Um bom exemplo é o financiamento da infraestrutura de recarga das baterias nas cidades, essencial para a autonomia dos veículos elétricos, bem como os modelos sustentáveis de assinatura oferecidos aos consumidores.

A indústria de automóveis e a mudança climática

A eletrificação dos automóveis irá impactar positivamente o planeta em termos de permitir menores efeitos sobre a mudança climática em curso? Clotilde ressalta que a inovação é chave para isso. Não apenas porque os veículos elétricos emitem menos poluentes, mas também porque dentro da orientação da Mobilize, será possível tornar esses carros mais acessíveis, levando os benefícios da mobilidade para mais pessoas. Quanto mais pessoas puderem se deslocar utilizando veículos elétricos, melhor. Por isso, a marca defende que os carros seja compartilháveis, o que também colabora decisivamente para a redução de emissões e a saúde do planeta. A meta é que a Mobilize represente 20 a 30% da transição da Renault para um modelo baseado em redução de emissões.

Essas são as lições de uma das CEOs mais inspiradoras do cenário global. Coragem, visão e engajamento para ajudar na mudança da indústria que definiu o século XX para um novo modelo mais de acordo com as demandas de um tempo de mudanças irreversíveis.

Fonte: Consumidor Moderno

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