A relação entre vendas de novos, usados e vendas diretas
A relação entre vendas de novos, usados e vendas diretas. O mercado total de veículos cresce e medidas para incentivar a venda de novos impactaram também o volume de usados
Por Murilo Briganti, Chief Operating Officer da Brigth Consulting
Algumas manchetes recentes relatam que as vendas de carros usados tiveram novo recorde para abril, com 968 mil veículos comercializados – o que não deixa de ser verdade. Porém, mais importante é a tendência geral de crescimento ao longo de 2022, 2023 e nos 4 primeiros meses de 2024. Os dados da Bright Consulting, aplicados no gráfico abaixo, mostram um crescimento robusto que deve continuar este ano.
E o que aconteceu com o preço dos usados?
Os veículos usados tiveram seu ápice de preço em maio de 2023, quando foram anunciados os incentivos do governo para a venda de veículos novos até 120 mil reais. Vamos relembrar: o conceito do programa foi anunciado no final de maio, mas as regras para sua implementação só chegaram em julho. Na dúvida, para comprar um novo sem incentivo, o mercado de usados reagiu prontamente e manteve os preços, que estavam altos desde que faltou carro novo em 2021 pela crise de logística e dos semicondutores. Porém, a felicidade com os preços dos usados durou pouco e o gráfico abaixo mostra seus efeitos, com preços relativos a dezembro de 2023 (base 100).
Observa-se pelo gráfico que, passado o programa de incentivo e garantida a disponibilidade dos veículos novos, os preços de transação dos usados só caíram no segundo semestre de 2023 e nos 4 meses de 2024. Ou seja, o mercado de usados continua rodando em grandes volumes, mas veículos comprados há mais de 6 meses dificilmente alcançarão margens positivas na comercialização – é melhor absorver o prejuízo e partir para novos estoques comprados a valores mais baixos. Ninguém mais vai conseguir vender seu usado pelo preço histórico pago na sua compra.
Os volumes de veículos novos e usados são interdependentes e um dado importante na comparação de suas vendas é a relação entre esses volumes.
Houve grandes variações nessa relação pelo comportamento do mercado desde 2022. Recapitulando, tínhamos restrição no volume de novos em 2021 (ápice dos impactos da pandemia), com usados “bombando” em volume e preço – relação de 6 usados para cada novo vendido no início de 2022. Com as entregas normalizadas, as montadoras retornaram as suas atenções para as locadoras, negligenciadas em 2021 por questão de rentabilidade nas vendas. Imediatamente, o índice retorna ao patamar “normal” de 5 usados para cada novo vendido e até com uma super venda de novos em novembro de 2022 que garantiu a renovação dos estoques das locadoras.
Em 2023 (curva laranja), essa relação foi afetada pelo incentivo aos novos, gerando um soluço na curva de novos, que passaram a apresentar grande volume de vendas, inclusive antecipando vendas de agosto e setembro. A relação voltou à estabilidade em 2024 e promete se consolidar ao redor de 4,5 usados para cada novo, essencial para a renovação da frota brasileira, sem que caia o volume de usados.
Falamos da porcentagem de vendas diretas no comércio de veículos novos e a tabela abaixo mostra exatamente isso, sempre com dados da Bright Consulting:
A curva de 2022 (azul) mostra uma presença mais forte de vendas diretas a partir de maio que continuou em 2023, exceto pelo hiato em julho, agosto e setembro, quando as vendas corporativas estavam impedidas de participar do incentivo do governo. Passado o soluço – mesmo dos gráficos anteriores – a curva laranja de 2023 voltou a se estabilizar. Os números de 2024 seguem pela mesma trilha, aparentemente sem tendência de alta versus 2023, o que é bom para o volume do mercado, pois significa que a demanda continua para vendas showroom.
Seja qual for a análise sobre o mercado da mobilidade, os dados mais completos e consistentes estão na Bright Consulting, que também entrega os insights e tendências para auxiliar sua decisão de negócios.