Aplicativos vão além do tráfego
Waze, Moovit e 99 buscam ajudar o poder público a planejar operações e a reduzir índices de trânsito e acidentes
Aplicativos de trânsito que fornecem informações das vias em tempo real e orientam os usuários pelas melhores rotas em termos de economia de tempo e combustível são usados por bilhões de pessoas ao redor do mundo anualmente. Waze e Moovit – plataforma voltada para o transporte público – contam cada um com mais de 100 milhões de usuários mensais. São Paulo é a cidade que concentra o maior número em ambos os sistemas, com cerca de 4 milhões de pessoas acessando cada ferramenta todo mês.
Considerando a dimensão do alcance, os aplicativos de trânsito estão ganhando uma nova função: fornecer dados sobre os deslocamentos para orientar o poder público na gestão do tráfego e em operações de redução de congestionamentos e melhoria da segurança viária. O tema foi debatido por executivos e pesquisadores das principais empresas do setor no 1º Fórum de Mobilidade Urbana, promovido pelo Estado, no dia 5.
Paulo Cabral, líder de crescimento para América Latina do Waze, contou sobre uma ação testada na zona portuária de Boston, nos Estados Unidos, onde o trânsito era caótico. “Com as informações espontâneas da rede de wazers, os semáforos da região foram reprogramados, e houve uma redução de 18% no congestionamento local”, relatou. Outro exemplo foi a geolocalização das ligações do 911, agilizando os atendimentos.
Já o Moovit trabalha em análises para aprimorar o transporte público. Pedro Palhares, diretor do Moovit para o Brasil, destacou pesquisas de opiniões com os usuários e estudos sobre o perfil dos deslocamentos. Tais informações podem ser usadas pelos operadores para melhorar a experiência nos modais e aumentar a parcela de uso dos coletivos na cidade.
O aplicativo 99 anunciou uma parceria com a organização Vital Strategies, que atua na redução de acidentes de trânsito, e com a Prefeitura de São Paulo no compartilhamento de dados para auxiliar em ações de fiscalização do consumo de álcool ao volante. “A ideia é que esses dados, coletados de forma anônima de usuários, indiquem pontos de aglomeração de público e ajudem a determinar locais com maior índice de motoristas alcoolizados”, diz Ana Guerrini, Head de políticas públicas e pesquisa da 99.
O debate contou ainda com a presença do diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, Luis Antonio Lindau. Para ele, quando se trata de mobilidade, a inovação tecnológica desejável é aquela que aumenta a sustentabilidade da metrópole. “Os avanços devem trazer melhorias como a redução de veículos na rua e a substituição do rodízio de placas por alternativas mais eficientes e inteligentes”, disse. Lindau citou a cobrança de taxas de congestionamento e de estacionamento como medidas para melhorar a fluidez.
O professor da FGV e pesquisador associado no Centro de Estudos da Política e Economia do Setor Público (CEPESP/FGV), Ciro Biderman destacou a dificuldade de lidar corretamente com custos e definir uma política de preços e a lentidão dos governos em regulamentar novos serviços.
Segundo ele, as mudanças mais significativas no cenário da mobilidade urbana se apoiam na direção autônoma e em sistemas de compartilhamentos de veículos. “A previsão de lançamento de carros com tecnologia que os permitem circular sem motoristas foi adiantada de 2025 para 2022. Temos montadoras trabalhando para comercializar 1/6 de sua frota com esse novo sistema”, disse Biderman. /F.M
Debate. Guerrini, da 99, Palhares, do Moovit, Biderman, da FGV, Lindau, da WRI, e Cabrai, do Waze (Foto: Felipe Rau/Estadão)
Fonte: Estadão