Assinatura de carros alugados cresce até 85% no Rio; entenda como funciona

Comprar o primeiro carro costumava ser uma etapa importante da vida adulta, como sinal de independência financeira e, principalmente, de mobilidade. Mas essa aquisição deixou de ser prioridade para muitas pessoas, principalmente pelo surgimento de alternativas de transporte privado, como aplicativos de mobilidade urbana e o serviço de carro por assinatura. Apenas entre 2018 e 2019, a assinatura de veículos da Porto Seguro cresceu 85% na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Outras locadoras também têm registrado crescimento nessa modalidade de aluguel.

Marcos Silva, diretor comercial da Sucursal Rio da Porto Seguro, diz que ao alugar um carro pontualmente, o automóvel não será necessariamente novo. Na assinatura, com contrato de pelo menos um ano, há direito a um veículo 0km, além de benefícios como seguro, manutenções preventivas, licenciamento e IPVA pago, além do serviço de leva e traz para revisões.

— As pessoas priorizam a experiência porque prezam pela liberdade de escolha — opinou Silva: — Outro ponto é a comodidade. O cliente não precisa resolver as questões do carro. É um ganho de tempo.

A cabeleireira Márcia Cristina, de 39 anos, vendeu o veículo próprio e contratou um Ford Ka 2020 por 18 meses, pagando R$ 1.200 mensalmente. Para ela, a vantagem é ter menos preocupações:

— Eles vêm buscar o veículo na minha casa para fazer a revisão e me cedem outro enquanto o meu não fica pronto. Também gosto de andar sempre com um carro novinho.

Na onda dos aplicativos

Os carros por aplicativo também estão surfando na onda da mudança de comportamento das novas gerações. Em 2019, a 99 dobrou o número de viagens realizadas no Brasil. Se a comparação for feita com 2018, a expansão é de sete vezes.

— Há dez anos, se quisesse usar carro no dia a dia, você tinha que comprar um. Hoje, não! O transporte por aplicativo, além de ter um custo semelhante ou menor do que o carro próprio, oferece conforto — explicou Miguel Jacob, gerente de Políticas Públicas da 99: — Ao invés de estar se estressando no trânsito, você pode estar no carro lendo um bom livro ou respondendo aos e-mails.

Diretor executivo da Movida, Jamyl Jarrus diz que, em meio a essa mudança cultural, os motoristas por aplicativo se tornaram parte importante do negócio das locadoras.

— A modalidade de assinatura teve um crescimento mais forte do que a média inteira da companhia. Muitas vezes, o motorista de aplicativo está de passagem nessa atividade até encontrar um novo emprego. Então, prefere alugar um carro a comprar um. Os aplicativos de transporte são nossos parceiros — apontou o executivo.

De olho nesse mercado, a Movida inaugurou recentemente três lojas dedicadas a esses motoristas, com banheiros, espaços para descanso e máquinas de café, além de serviços voltados para suas demandas específicas.

‘Três vezes por ano estou com um carro novo’

Adilson de Matos, 50 anos, motorista de aplicativo

— Quando decidi trabalhar como motorista de aplicativo, não queria colocar o meu carro para rodar e fazer quilometragem. Depois de uma pesquisa, percebi que valeria mais à pena alugar, porque deixaria de pagar licenciamento, IPVA e manutenção. Qualquer probleminha que o carro tem, a locadora resolve, e ainda oferece outro carro enquanto o seu está em manutenção. Além disso, fico sempre com um carro 0km. Três vezes por ano, estou com um veículo novo. Outro ponto importante é que posso pagar semanalmente o aluguel. Mas é preciso ter o cuidado de entregar o automóvel em bom estado no final.

Como funciona a assinatura

Porto Seguro

O Porto Seguro Carro Fácil está disponível no Estado de São Paulo e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e tem dois planos, sendo um para quem precisa dirigir distâncias maiores e outro com franquia de uso de 500km por mês. A assinatura pode ser feita por 12, 18 ou 24 meses e inclui IPVA e documentação. Manutenções preventivas também estão inclusas na mensalidade. Entre os veículos disponíveis há desde modelos básicos, como o Ford Ka, até Mercedes C180, com pagamento mensal fixo.

Movida

O Movida Mensal Flex é destinado a pessoas físicas pelo período mínimo de 30 dias. O valor do plano mensal é a partir de R$ 1.200. Existem nove opções de planos, que vão de 1 mil km a 5 mil km por mês. Quanto maior o tempo de locação, maior será o desconto no aluguel. Estão incluídos documentação, seguro, IPVA, licenciamento, DPVAT e emplacamento, além de manutenção preventiva. O contrato pode ser assinado nas lojas ou no site da locadora.

Unidas

O Unidas Livre é feito de forma on-line: o cliente escolhe o modelo de carro no site e envia seus dados e seus documentos para a análise de crédito. Depois de aprovado, ele assina o contrato e recebe o carro 0km no endereço solicitado, com todos os impostos pagos e a documentação em dia, pronto para dirigir. Na hora da renovação de contrato, o cliente devolve o veículo anterior e pode escolher o mesmo modelo ou um diferente. Para motoristas de aplicativo, há um plano diferente, o Unidas Driver, com vantagens.

Localiza

A Localiza também tem um produto diferente para os motoristas de aplicativos, o Localiza Driver, com aluguel sem data de devolução determinada. Além disso, a locação pode ser paga semanalmente, que é o período de pagamento dos aplicativos. Já o aluguel mensal, para qualquer pessoa física, pode ser renovado por longos períodos ou ser encerrado no primeiro mês.

Em 5 anos, emissão de CNH cai 80% entre jovens

O número de emissões de carteira de motorista para jovens entre 18 e 21 anos caiu cerca de 80% no país entre 2014 e 2019. De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em cinco anos, as novas emissões para esse grupo etário baixaram de 37 milhões para 6,9 milhões.

No Rio de Janeiro, o número passou de 1,8 milhão, em 2014, para 422 mil, em 2019 (queda de 77%). Em São Paulo, as novas emissões caíram de 11,4 milhões para 2,2 milhões, no mesmo período, uma redução de aproximadamente 80%, acompanhando a média nacional.

Para o antropólogo Michel Alcoforado, a nova geração deixou de dar importância à posse de objetos por ter percebido que isso representa um compromisso e custa tempo.

— Como alguém que não sabe se vai estar empregado amanhã assume um financiamento? Além disso, o carro é uma âncora que cobra cuidado. Você tem que levar para lavar, levar ao Detran, arrumar lugar para estacionar. Não faz sentido! — opinou.

A produtora cultural Julia Ricciardi, de 28 anos, corrobora com a análise. Ela nunca tirou carteira de motorista e nem sente falta de dirigir:

— Não faz sentido na minha rotina. Meus deslocamentos demorariam mais de carro do que com o transporte público. Não quero dedicar nem tempo nem dinheiro ao processo caro de tirar habilitação. Mas moro em uma área privilegiada da cidade, com acesso quase imediato ao metrô. Para sair à noite, uso aplicativos de transporte.

Haroldo Monteiro, professor de Finanças do Ibmec/RJ, acrescenta que a queda na compra de carros também pode ser explicada pela crise, com o desemprego alto e a perda do poder de compra:

— Bens duráveis sofrem com a crise, pois demandam financiamento e uma renda maior. Mas, independentemente disso, existe uma mudança de comportamento que é global e veio para ficar.

FONTE: Extra – Globo

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