CNH: se motoristas atuais são incorrigíveis, os próximos têm de ser bons
Em matéria de trânsito e especificamente nos temas ligados à segurança, fala-se muito, tenta-se algum planejamento, mas a realidade expõe que nada ou quase nada de prático realmente acontece. O governo federal até esboçou a política nacional de trânsito em 2004 e a atualizou em 2010. Também se engajou na Década de Ação pela Segurança no Trânsito, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), que lançou o desafio da redução de até 50% no número de mortos e feridos em especial nos países emergentes, entre 2011 e 2020.
Em novembro do próximo ano o Brasil sediará uma reunião interministerial da ONU que mostrará um balanço da primeira metade daquela década. Tudo indica que o nosso vexame rivalizará com o da derrota por 7 x 1 para a Alemanha na Copa do Mundo, em julho último. Na realidade houve uma pequena redução do número de mortos, porém o de feridos e inválidos continua a crescer com repercussões sérias na sociedade e na economia do país.
O que esta coluna sempre defende é o que fazer, além de lutar para reverter os números negativos de hoje (mais de 50.000 mortos e 440.000 feridos por ano), para salvar as próximas gerações de motoristas. Trata-se das mesmas preocupações do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) que coordenou o estudo Formação do Condutor 2015, de 450 páginas, que está disponível para leitura e análise.
ONSV faz uma pergunta, bem pertinente, sobre que tipo de condutor o Brasil quer. E aponta o que os Centros de Formação de Condutores (CFC), termo atual para as antigas autoescolas, deveriam garantir aos alunos: reconhecer a informação do ambiente em que transitam, avaliar possibilidades de acidente e reagir nas situações de risco com destreza e conhecimento provenientes do que aprendeu durante sua formação. Em outras palavras, muito além de decorar o código de trânsito ou apenas saber arrancar, frear e fazer curvas.
Segundo José Aurélio Ramalho, presidente do ONSV, 16,5 horas de aulas práticas já se provaram insuficientes para formar um bom motorista. Para ele, “não há uniformidade no país sobre conceitos repassados tanto por instrutores como examinadores. Avaliação de riscos, tomada de decisões ao volante, direção defensiva e outras ações precisam ser ensinadas de forma indistinta a qualquer candidato à carteira de habilitação”.
O último dos imbróglios (mal resolvido), as aulas pré-práticas, ou seja, em simuladores de direção, é só uma amostra do grau de improviso e incertezas que ainda cerca o processo. Embora sem a veleidade de se transformar em “manual de soluções”, como a própria entidade ressalva, o trabalho citado apresenta massa crítica graças à sua formulação por uma equipe multidisciplinar de mais de dez técnicos e especialistas no tema.
Se há desesperança em mudar o comportamento de muitos motoristas atuais, que pelo menos os novos se preparem melhor.