Controle de estabilidade já poderia salvar vidas "por R$ 180"; assista
Conhecido pelas siglas ESP ou ESC (clique aqui e conheça o “dicionário automotivo”), o controle de estabilidade é um comando eletrônico de auxílio ativo à segurança do carro que ajuda o condutor a manter a trajetória do carro em situações extremas. Segundo cálculos de alguns especialistas, custa apenas US$ 50 dólares — cerca de R$ 180.
Este preço é discutido pela indústria, mas os efeitos de sua ação não: ele ajuda a evitar prejuízos materiais e pode até salvar vidas.
+ Cena 1: você está na estrada e, de repente, um animal cruza a pista à sua frente! Apesar do susto, você consegue dar uma guinada no volante, desviando do bicho. Mas ainda assim seu SUV sai do controle e você acaba capotando.
+ Cena 2: em uma via rápida, tudo parece tranquilo, até que o motorista da frente atende o celular e, do nada, reduz bruscamente a velocidade! Você pisa no freio e até consegue desviar para evitar a colisão traseira… só que o carro sai de traseira e você não consegue evitar que ele siga perigosamente rumo ao canteiro.
Com atuação sobre os freios de cada uma das rodas em diferentes intensidades — em versões mais caras, reduz até o envio de tração pelo motor –, o ESP consegue manter o carro na trajetória, impedir saídas de pista e até capotamentos.
Nas cenas descritas acima, o final seria outro, com seu carro seguindo sob controle.
Mesmo assim, ainda é algo distante da realidade de grande parte dos motoristas brasileiros, seja pela cultura ou pela baixa oferta motivada pelo alto custo.
Lenta mudança
Por agir em conjunto com o sistema antitravamento de freios (ABS), o ESP já poderia estar habilitado em todo carro novo que sai das fábricas nacionais ou que é importado ao país.
Por sua importância, freios com ABS são obrigatórios em carros novos no Brasil desde 2014 (junto com airbags frontais).
Mas apenas carros de luxo e versões mais caras de veículos compactos trazem o ESP como item de série. Há uma mudança de mentalidade, mas lenta.
Apenas no final do ano passado, o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito, que regula leis e regras para trânsito nacional) e a Anfavea (que reúne fabricantes de carros) equipamento deverá se tornar obrigatório em carros feitos no país. Mesmo assim, só a partir de 2022.
Da mesma forma, desde março de 2015 o Latin NCAP (que faz medições e testes de segurança em carros vendidos no subcontinente) avisou que passaria a tratar o controle de estabilidade como fundamental para que um carro conquiste cinco estrelas (nota máxima) nos testes de segurança feitos a partir deste ano.
Só que fabricantes ainda enviam unidades sem o equipamento aos testes da entidade. Foi o que ocorreu na última semana com a Ford: sua nova Ranger é fabricada na Argentina, onde nem todas as versões contam com o ESP — por conta disso, recebeu apenas três estrelas do Latin NCAP.
Segundo a marca, todas as versões da Ranger 2017 que chegarão ao Brasil (importadas do país vizinho) virão com o equipamento como item de série. Mas a Ranger é um veículo de mais de R$ 100 mil.
COMO FUNCIONAM OS FREIOS COM ABS
Custo é a questão
Diante deste quadro, a Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) está em campanha para que o controle de estabilidade seja adotado imediatamente em todos os novos carros de passeio vendidos no Brasil, de qualquer faixa de preço, uma vez que todos contam com ABS.
Segundo a entidade, o preço nem seria fator impeditivo, mesmo nos compactos, já que seria quase irrisório considerando o valor total de um carro: apenas R$ 180.
“É um mecanismo simples, que custa cerca de US$ 50 [cerca de R$ 180 no câmbio atual] e se popularizaria e baratearia rapidamente em carros de entrada, se as montadoras decidissem apostar”, afirmou, Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste, em entrevista a UOL Carros.
Por conta disso, a entidade defende que o prazo dado até 2022 para adequação da frota é elástico demais e pode ser reduzido.
“Já é um começo ver nossos carros tendo o controle de estabilidade como item obrigatório, mas o ideal era que isso acontecesse antes. Nós lutamos para adiantar essa data. A cada ano, milhares de pessoas que morrem no trânsito poderiam ser salvas por causa desse esquipamento”, enfatiza a especialista.
Na prática ou em declarações, as montadoras apontam um preço diferente para o equipamento.
Também em fala a UOL Carros, Oswaldo Ramos, diretor de marketing de produto da Ford do Brasil, afirmou que “o equipamento já está presente em 100% da linha à venda no país”, mas ao custo de R$ 600.
“É um diferencial da atual linha Ford ter o controle de estabilidade em todos os modelos à venda no mercado brasileiro, do Ka à nova Ranger”, apontou Ramos.
Segundo o executivo, o cliente já vê o equipamento de segurança como fator decisivo na escolha entre diferentes modelos. Esta escolha, porém, em estágio inicial, é feita por parcela pequena (e ainda desconhecida) dos compradores.
“Não temos números precisos ainda, mas consumidor está mudando e já cobra segurança. E já sabemos que em alguns modelos o consumidor prefere a versão mais completa, que na Ford é sempre a que tem todos de itens de segurança”, confirma Ramos, citando o médio Focus, o sedã Fusion e a Ranger.
Observando o mercado nacional, o controle eletrônico de estabilidade é oferecido a partir de modelos médios, que custam mais de R$ 70 mil, caso do Focus. Para o Ford Ka, o ESP surge apenas nas versões mais caras, 1.0 SEL, de R$ 48.140, e 1.5 SEL, de R$ 52.140, que incluem outros equipamentos ao pacote do ESP.
Em modelos de entrada de outras marcas, o custo pode ser maior que R$ 180 ou R$ 600. Além do Ka, os únicos compactos que possuem o sistema são o Volkswagen Fox (opcional de R$ 1.311 na configuração Highline; de série na Pepper, que parte de R$ 58.090) e Saveiro Cross (que parte de R$ 66.110).