Demora na entrega dos veículos zero faz seminovos serem vendidos com ágio
Um dos setores mais afetados pela pandemia da COVID-19 é o automotivo, com fechamento de fábricas e a interrupção da produção em algumas linhas de montagem por falta de componentes. Mas, apesar disso, nos últimos meses, o setor vem reagindo, apresentando resultados um pouco mais otimistas, principalmente se comparados com os números registrados em 2020. A procura por modelos recém-lançados é grande, mas, com a produção comprometida, fabricantes chegam a pedir 150 dias de prazo para entregar o produto. Diante desse cenário, há quem ganhe dinheiro pedindo ágio com a promessa de entrega mais rápida. Outra consequência é o crescimento das vendas no mercado de seminovos, que passa a ter mais procura. Por isso, é bom pesquisar bastante antes de fechar negócio.
O mercado de automóveis e comerciais leves foi agitado nos últimos meses com importantes lançamentos, gerando uma procura surpreendente, já que estamos em um momento de pandemia. A Fiat lançou a linha 2022 da picape intermediária Toro, um sucesso de vendas superado apenas pela irmã menor, a Strada, campeã absoluta. Fizemos uma pesquisa consultando as concessionárias da marca à procura de uma Toro 1.8 Endurance, ou a mesma versão, porém, com o motor 270 AT6.
Na maioria dos casos, os vendedores afirmam que estão trabalhando com os preços sugeridos pelo fabricante, ou seja, R$ 114.590 para a Toro 1.8 Endurance, e R$ 119.590 para a Toro Endurance 270 AT6. Mas a surpresa vem quando o cliente pergunta qual é o prazo de entrega. Se a compra for feita por pessoa jurídica, o prazo pode variar de 75 a 120 dias. Se for pessoa física, pode chegar a 150 dias de espera. Em algumas concessionárias, os vendedores chegam a oferecer unidades para pronta entrega ou em 30 dias, mas são versões específicas, que podem até ter desconto se o cliente tiver paciência para negociar. Ou seja, se o comprador concordar em levar a unidade que já foi faturada, certamente terá mais chances de negociar o preço e receberá o produto mais rápido. Mas se a intenção for encomendar uma versão específica, com cor e pacote de equipamentos determinados, aí o cliente entra na fila de espera e só vai saber o preço quando o veículo for faturado.
Em nossa apuração, conseguimos encontrar uma Toro Endurance 270 AT6, na cor cinza, de R$ 122.840 por R$ 116.650, com entrega prometida para 30 dias. Em outra concessionária Fiat, a mesma versão, nas cores branco ou prata, estava sendo oferecida por R$ 118.840, mas para pronta entrega. Já as versões da Toro com motor turbodiesel e tração 4×4 são mais fáceis de serem encontradas, com prazo de entrega de 10 dias e o preço um pouco acima da tabela.
Se o cliente faz a opção pela Strada, a situação fica ainda pior. Para esse modelo, os prazos de entrega ficam entre 120 e 150 dias, e em algumas concessionárias com ágio de até R$ 3 mil. Houve relato de cliente que comprou a picape compacta em janeiro e só recebeu o carro em junho. E se o interessado resolver procurar uma Strada zero nas revendas, no chamado mercado da boca, o ágio pode chegar a até R$ 5 mil, para unidades em pronta entrega. Vale lembrar que quando o cliente faz a compra e paga o sinal, o preço que vai valer é o da data da fatura.
SUVS MÉDIOS Pesquisamos também o recém-lançado Toyota Corolla Cross, que na versão XR 2.0 tem preço sugerido de tabela de R$ 143.490, e na versão XRE, R$ 153.690. A informação obtida em uma concessionária da marca é que o modelo na versão XR 2.0 está sendo vendido por R$ 146.940, ou seja, com ágio de R$ 3.450. Já a versão XRE foi oferecida por R$ 157.140, também com R$ 3.450 acima do preço sugerido. A diferença é que nas concessionárias Toyota a promessa é de que o carro será entregue no prazo máximo de 30 dias.
Outro lançamento recente, o Volkswagen Taos, tem preço sugerido de R$ 154.990 para a versão Comfortline 250 Tsi, com câmbio automático de seis marchas. Na primeira concessionária consultada, foi oferecida a versão desejada com o acréscimo do pacote conforto, que acrescenta bancos parcialmente revestidos em couro, sendo os dianteiros com aquecimento e o do motorista com ajustes elétricos. No site da montadora esse pacote tem custo adicional de R$ 5.420, totalizando R$ 160.410. Mas a concessionária estava pedindo R$ 165.200, prometendo a entrega no prazo de 45 a 60 dias.
Na segunda concessionária pesquisada, o VW Taos Comfortline foi oferecido com o pacote segurança, que inclui detector de pedestre, sistema de frenagem automática e controle adaptativo de frenagem e distância (ACC). No site da montadora, essa versão com o pacote segurança sai por R$ 159.780, mas a concessionária cobrou R$ 161.190, com promessa de entrega entre 60 e 70 dias. Mas se o cliente preferir a versão Highline, que no site da montadora tem preço de R$ 182.385, a mesma concessionária oferece por R$ 183.200, com entrega para agosto.
NA BOCA Além de fazer o levantamento sobre os preços e prazos de entrega dos veículos novos nas concessionárias, consultamos algumas revendas multimarcas, o chamado mercado da boca, que trabalha com carros zero e seminovos. A constatação foi de que muitas lojas estão vendendo modelos novos com ágio, que pode variar de R$ 5 mil a R$ 10 mil em uma Fiat Toro, dependendo da versão. O Toyota Corolla Cross também é vendido com ágio nas revendas, principalmente diante da notícia de que o preço do modelo será reajustado em 2,2% neste mês.
Mas o mais curioso foi constatar nas revendas que os veículos seminovos estão em alta. O segmento apresentou mais de 50% de crescimento nas vendas nos últimos dois meses e voltou a registrar supervalorização de alguns modelos, fenômeno que foi comum nas décadas de 1980 e 1990, quando os preços de carros usados subiam. De acordo com o levantamento feito nas revendas, alguns modelos seminovos como VW Polo e Toyota Corolla estão com preços acima da tabela Fipe. Um VW T-Cross, seminovo, com preço de tabela de R$ 102 mil está sendo vendido por R$ 122 mil. Já a Toyota Hilux SRX 4×4, seminova, é vendida com ágio entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
É a lei da oferta e da procura. Se o mercado de veículos novos não tem o produto para entregar, seja por falta de semicondutores ou qualquer outro motivo, o consumidor debanda para o segmento de seminovos, que por sua vez fica supervalorizado, deixando o consumidor em situação difícil. Neste caso, a melhor opção é ter paciência e calma antes de fechar o negócio, colocando na balança o que vale mais a pena: esperar um tempo maior para comprar um carro zero ou pagar mais caro em um seminovo de pronta entrega? A decisão vai depender da real necessidade de ter o carro na mão.