Economia e segurança são pontos fortes no Volkswagen up!

Foi o teste mais inusitado e realista feito até hoje no Vrum. O mais recente lançamento da Volkswagen chegou ao mercado apostando na segurança como apelo principal e foi justamente esse quesito que avaliamos na prática, obviamente que de forma involuntária. O resultado é um teste que contempla, também, alguns aspectos que levaram o up! a ser o modelo mais seguro do Brasil, segundo a LatinNCAP.
No primeiro dia do modelo na redação do Vrum, alguns dias após o lançamento oficial, o red up! (o mais completo ao lado do white e black up!) já nos impressionou pela agilidade no trânsito urbano. No fim do dia, fizemos um inesperado teste, algo que nunca tínhamos feito antes. Um Fox atravessou o caminho do up! no famoso “tobogã” da avenida do Contorno, uma das principais vias de Belo Horizonte. O up! subia em quarta marcha com facilidade e no primeiro nivelamento da via, demos de cara com o Fox atravessado na pista, tentando passar para o outro lado da avenida por cima do canteiro central. Não houve tempo para frear e a colisão foi certeira, no meio da coluna B do Fox, a exatos 60 km/h. Apesar de nem o motorista do Fox (que assumiu ter ingerido bebida alcoólica) e nenhuma das duas passageiras estarem usando o cinto de segurança, felizmente ninguém se feriu com gravidade, mas o carro atingido pelo up! teve perda total. E o up!? Para-choque, para-lama direito, capô e lanterna direita danificados e só! O vão do motor ficou intacto, assim como as longarinas, que resistiram integralmente ao impacto frontal. Por dentro do habitáculo, nenhum sinal da colisão, que não foi leve.
Provavelmente foi o primeiro acidente com o up! em Belo Horizonte. Acabamos, involuntariamente, fazendo o teste de colisão do modelo recém-lançado justamente com o apelo de ser o modelo popular mais seguro do Brasil.
O up! é o primeiro automóvel de entrada feito no Brasil a obter cinco estrelas na proteção de adultos e quatro estrelas na proteção de crianças no Latin NCAP, organização que avalia a segurança dos veículos comercializados no Brasil. Essa característica é uma das mais exploradas pelo marketing da montadora, afinal, essa conquista faz do up! não apenas o veículo mais seguro de sua categoria, mas o coloca na seleta lista dos carros mais eficientes na proteção aos ocupantes, entre todos os automóveis à venda no país. O que nos protege dentro do carro é o uso de aço de ultra resistência, que cria uma célula de sobrevivência na cabine, com reforço estrutural nas colunas A e C. Além disso, outras estruturas são projetadas para receber o impacto das batidas.
De série, o up! chega com freios ABS com EBD (que distribui eletronicamente a força de frenagem), dois airbags dianteiros, cintos de segurança com pré-tensionador e limitador de carga e fixação do tipo Isofix para cadeirinhas infantis.
Não tivemos acesso ao reparo do modelo acidentado, mas o up! conquistou o melhor resultado no índice de reparabilidade do CAR Group 2014.
Teste de segurança feito, pedimos à Volkswagen uma nova unidade para avaliar outros quesitos (desta vez sem incidentes). Nos mandaram a versão move up!, a segunda mais básica. Mas esse veio recheado de opcionais.
Do básico ao completo
O up! permite ao cliente gastar até R$ 17.140 em itens opcionais. Isso porque quase nada nele é de série, mesmo fora da versão básica, a take up!, que abre a gama no valor de R$ 26.990 com carroceria duas portas. O move up! vem logo em seguida, por R$ 28.990 (duas portas) e R$ 30.990 (quatro portas). Foi o modelo que testamos por último. Essa versão equipada com direção com assistência eletromecânica, ar condicionado, sistema de navegação por GPS, sensor de estacionamento traseiro, bancos com revestimento em couro sintético, rodas de liga leve de aro 14 polegadas, alarme com telecomando, vidros dianteiros, travas e retrovisores elétricos, chega aos R$ 43 mil, acima do cobrado pela versão top de linha, (white, black, red).
De série, o up vem em sua versão de entrada, a take, apenas com desembaçador, limpador e lavador do vidro traseiro; sistema Isofix para cadeirinhas infantis, e os obrigatórios airbag duplo e freios ABS. A versão seguinte, a move, adiciona conta giros no painel, rodas com calotas de aro 14 (no lugar das rodas de 13 polegadas do take up!), prateleira divisória no porta-malas, repetidores de seta nos retrovisores, terceiro apoio de cabeça no banco traseiro,retrovisores e maçanetas pintados na cor da carroceria.
O melhor custo benefício do up! está nesta versão, pois com R$ 35 mil você consegue uma unidade completa, com ar condicionado, direção eletromecânica, vidros dianteiros e travas elétricos. Três concessionárias pesquisadas em Belo Horizonte informaram que essa é a configuração mais vendida até o momento. O up! não precisa mais do que isso. O conjunto mecânico é o mesmo e a experiência ao volante é agradável nas duas versões analisadas pelo Vrum (red e move).
Prazer em dirigir
Se por fora o up! lembra um carrinho da Transitolândia (mini-cidade usada para educação infantil no trânsito pela PM mineira), por dentro ele é do tamanho certo para uma agradável condução na cidade. É fácil achar a melhor posição para dirigir, com ajustes de altura do banco e do volante. Seria perfeito se o cinto de segurança dianteiro tivesse regulagem de altura. É comum ter o cinto incomodando pelo contato com o pescoço. Economia completamente desnecessária para um carro que preza tanto pela segurança.
No banco traseiro, não há cinto de três pontos para quem vai ao meio e o apoio de cabeça nesta posição só aparece da versão move em diante. Para o motorista, todos os comandos estão ao alcance das mãos sem nenhum contorcionismo, o motorista praticamente veste o carro.
O GPS Maps & More é bem prático e funciona muito bem. Apesar de não ser integrado ao painel, ele fica acoplado sem fios aparentes e sua carga é feita enquanto o veículo está em funcionamento. A vantagem é que o proprietário pode retirar o aparelho e usar a pé, por exemplo, pois há esta função no GPS.
O equipamento também funciona como um computador de bordo, oferecendo versões digitais de instrumentos ausentes no painel, como a temperatura do motor. Um aplicativo pontua a condução do motorista, informando s o veículo está gastando mais ou menos combustível que o ideal. O Maps & More da unidade testada, porém, apresentou alguns bugs e precisou ser reiniciado várias vezes.
O som é de boa qualidade e como é integrado ao painel, ficou bem harmonioso, mesmo com clássico LED em vermelho contrastando com a iluminação branca do painel de instrumentos. Por incrível que pareça para um carro com projeto moderno como o up!, o sistema de som não possui entrada USB. O motorista tem que se virar com o rádio, conexão bluetooth, entrada auxiliar e CD’s, mas esqueça seu pendrive de músicas. Apesar do volante ter um desenho arrojado, com base quadrada e acabamento em couro e black piano no centro (na versão red), não há opção de teclas de comando do som, o que seria muito bem vindo.
Outro detalhe capaz de tirar a paciência de um consumidor exigente são as teclas de acionamento dos vidros. Nem elas, nem o controle de travamento das portas ou o interruptor de ajuste dos espelhos contam com iluminação. De noite, o motorista acaba se orientando apenas por deduções onde está cada comando, pelo menos nos primeiros dias com o carro.
Na busca pela redução de preços, alguns itens ficaram de fora como abertura interna de porta-malas e do tanque de combustível; iluminação no porta-luvas e no bagageiro. Esses mimos poderiam estar incluídos pelo menos nas versões mais caras. Não há espelho de cortesia no para-sol do motorista, que desagrada o público feminino. Nas portas traseiras, não se irrite com as manivelas, pois vidros elétricos ali, nem como opcionais.
Espaço
Mesmo com apenas 3,60 m de comprimento, o up! tem um bom espaço para os passageiros, fruto da boa aplicação da plataforma PQ12. A medida entre-eixos é de 2,42m, maior que Novo Uno e Nissan March. Motorista e passageiro da frente vão com bom espaço para pernas e mesmo pessoas de alta estatura conseguem viajar bem. Atrás só duas pessoas: mesmo uma criança vai ficar apertada no meio.
O porta-malas conta com capacidade de 285 litros, 64 a mais que o up! europeu. A alteração foi feita para que o modelo fabricado aqui se encaixasse nas necessidades do brasileiro e também para comportar um estepe, item que não é usado na Europa. O sistema s.a.v.e. possibilita ajuste variável do porta-malas, com dois andares e ampliando as formas de arranjo para compras ou bagagens.
Desempenho e economia impressionam
Na direção do up!, em todo lugar ouvia-se a pergunta: “mas ele anda mesmo?”. “Sim, e muito”, era a resposta. Com apenas 950 quilos, o pequenino motor EA211 1.0 12V de 82 cv e torque de 10,4 kgfm surpreende na cidade. Anda mais que qualquer outro motor mil e mais ainda do que muitos modelos 1.4. Quase se equipara aos motores 1.6. O propulsor de três cilindros é o mesmo já usado no Fox Bluemotion e vibra um pouco além do normal (características desse tipo de propulsor), mas nada que chegue a incomodar.
Quando abastecido com gasolina, o torque fica nos 9,7 kgfm a 3.000, sendo que 85% deste já está disponível com 2.000 rotações. O resultado é um carro ágil e com boas arrancadas, especialmente na cidade. Durante o teste, o up! subiu ladeiras íngremes com desenvoltura, deixando muito carro com motor 1.4 para trás. Na estrada, o desempenho não encantou muito, mas cumpre bem sua função.
Agora é que vem a melhor parte: a economia. Com um up! para trafegar diariamente, suas paradas no posto de combustível irão diminuir sensivelmente. Abastecido apenas com gasolina, o carro chegou à incrível marca de 21 km/l na estrada com média de 19,4 km/l. Na cidade, chegou a render 16 km rodados com 1 litro de gasolina. Mas a média do período em que rodamos no trânsito urbano de Belo Horizonte foi de 14 km/l. Sem dúvida é o carro mais econômico que testamos até hoje. Ao saber dos resultados, várias pessoas estamparam expressão de desconfiança das médias. E quem não desconfiaria? Mas o nosso teste tirou a prova.
O up! manual é equipado com a transmissão MQ100 de cinco velocidades. As marchas são bem escalonadas e o modelo possui sistema que indica a hora certa de trocar de marcha e economizar combustível. Os engates são curtos e muito precisos.
A suspensão, contudo, é dura e transfere as irregularidades do solo para a cabine. Ao trafegar numa via de calçamento, por exemplo, é possível sentir bem as trepidações da pista. E olha que esse quesito foi visto pela Volkswagen durante a nacionalização do modelo. Por conta dos “pneus verdes”, que oferecem menor resistência ao rolamento, o carrinho “canta” em curvas nem tão acentuadas.
A direção eletromecânica apresenta duas vantagens: sem a bomba hidráulica e correia, são quilos a menos que ajudam na economia. Além disso, a direção é muito leve para manobras ao passo que fica dura em altas velocidades.
Design icônico
Nem tão econômico quanto o up!, o Volkswagen Fusca (1938-2003) foi um dos veículos mais vendidos da indústria em todo o mundo. No Brasil, conquistou consumidores e fãs com preço inferior aos rivais e pela simplicidade mecânica. O tempo passou, mas sua memória permanece. Em busca de uma opção moderna para as grandes cidades, a marca alemã exibiu no Salão de Frankfurt o conceito up!. Em 2011, a versão de produção em série foi apresentada na Europa e neste ano chegou ao Brasil. Décadas de tecnologia separam os modelos, mas a proposta é semelhante: um veículo compacto e acessível.
A relação entre os dois modelos não é velada: o velho Besouro foi citado várias vezes no lançamento do up!, tratado como “nova era” e “mais importante” carro para a marca. No design do novo produto é possível localizar estratégias já utilizadas no Fusca. O Vrum comparou o move up! 2014 com um Fusca 1961 para identificar os detalhes.
A exemplo do Fusca, o up! apresenta o design icônico, com linhas exclusivas em relação aos outros modelos da marca. O compacto apresenta o estilo “Round Square”, quadrado com bordas arredondadas, enquanto o Fusca tem para-lamas aparentes e delgados.
Na vista frontal, mais semelhanças: ambos remetem a sensação de um sorriso, o Fusca com o desenho formado pela junção do porta-malas e para-lamas e o up! com o corte retangular no para-choque, emoldurando a placa e os opcionais faróis de milha. Outra característica do Fusca são os faróis grandes e circulares. O conjunto óptico do up! segue a tendência de estilo da Volkswagen, mas numa observação mais atenta, é perceptível o nicho circular das luzes de posição e farol baixo, exemplo do vovô.
No interior, o modelo projetado no final da década de 30 volta a ser evocado. As soluções já haviam sido aplicadas na versão atual do Fusca, com o poderoso motor 2.0 turbo. O painel exibe linhas básicas, sem muitos ornamentos. Nas versões red-white-black up! o conjunto repete a cor da carroceria. Em todas as versões, o painel de porta deixa o aço da aparente, como no Fusca original.
Up! e Fusca terminam com a mesma sensação de parecer um “carro de brinquedo”, com uma vista amistosa. Mesmo fora de linha, o Fusca continua no imaginário com colecionadores fiéis. Resta saber se o up! terá o mesmo sucesso no Brasil.
Veredicto
Um projeto moderno e seguro, com bom desempenho e economia. Receita para um carro de sucesso. No entanto, o carrinho da Volkswagen esbarra num entrave: o preço. A versão testada, com todos os opcionais e a cor especial amarelo Saturno (R$ 1.550) levam o carro a custar absurdos R$ 43.430. Vale mais a pena a versão top de linha, que sai por R$ 41.360. Mesmo assim chega-se a um entrave: valor muito próximo de modelos compactos-premium com motores maiores 1.5 e 1.6. Considerando apenas ar-condicionado e direção eletromecânica como opcionais ao preço de R$ 35 mil, essa comparação ainda é possível.
Apesar de 1.0, o up! mostra vigor de sobra para andar na cidade e até mesmo se aventurar na estrada. A economia de combustível a longo prazo pode compensar o gasto extra na compra. Mas um desconto generoso ou inclusão de mais equipamentos de série por parte da montadora se mostram necessários.
Por Marcello Oliveira e Thiago Ventura, do Vrum.

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