Honda lança supercarro NSX e mira o Brasil
Em inglês, a pronúncia da sigla ‘NSX’ soa sexy. Não é só: o design externo foi obra de uma bela californiana de 34 anos, Michelle Christensen, algo ainda pouco comum nesse setor. E o modelo em questão não decepciona. Trata-se do superesportivo Acura NSX, que renasceu com a missão de aproximar a Honda dos jovens. É uma máquina instigante, de linhas marcantes e nascida para satisfazer todos os desejos de quem está em seu comando.
O novo NSX surgiu em suas formas definitivas no Salão de Detroit e mexe com o emocional de qualquer brasileiro: o superesportivo teve sua primeira versão construída na década de 90 e com a ajuda de ninguém menos que Ayrton Senna. Então na equipe McLaren-Honda da F1, Senna avaliou o NSX em vários circuitos e redefiniu a forma como o esportivo respondia ao piloto.
Pergunto a Ted Klaus, engenheiro-chefe do projeto NSX, se ele de fato sabia quem era Ayrton Senna. Para minha surpresa, ele não só falou do piloto com propriedade como disse ter visto Senna vencer um GP em Detroit em 1986: “tenho uma foto em meu computador com Senna de capacete e com o olhar concentrado. Para mim, serve com inspiração de como temos que ser determinados naquilo que fazemos”, explicou.
Manuscritos de Senna
Mas, afinal, o novo NSX tem algum DNA que remete ao original? “Temos dois engenheiros que trabalharam no primeiro NSX e que fizeram parte desse novo projeto”, diz Klaus. E revela algo surpreendente, manuscritos feitos por Senna que definiram a personalidade do esportivo. “Senna andou no carro no Japão e fez várias observações sobre a suspensão principalmente, que precisava mais firme. Também disse que a direção deveria ser mais rápida. As modificações foram feitas e Ayrton voltou a andar no carro até aprovar os ajustes”.
“Esses manuscritos, originalmente em japonês, foram traduzidos para o inglês e serviram como guias no novo NSX”, observa Klaus. “Para Senna, um carro esportivo precisava passar confiança ao motorista, isso é mais importante que os números de desempenho”, completa.
Com um intervalo entre gerações de mais de duas décadas, manter semelhanças estéticas é quase impossível mas a reedição do NSX buscou preservar ao máximo o que o primeiro modelo trazia. A sensação ao dirigir é semelhante, garantem os criadores da máquina. Mas é na aerodinâmica refinada que o novo NSX homenageia seu antecessor. “Assim como o primeiro projeto, o novo NSX também dispensou qualquer artifício aerodinâmico para aumentar o downforce”, observa Michelle.
“O NSX não tem parte móveis. Em vez disso, trabalhamos para que o fluxo de ar em volta do carro ajudasse a mantê-lo colado no chão”, diz a designer de longos cabelos loiros. De fato, o supercarro chama a atenção pelas linhas originais. Logo atrás das portas nas laterais, enormes entrada de ar resfriam o motor V6 e também fluem para a traseira do carro em formato de aerofólio. “O assoalho do carro também tem vários e discretos recursos aerodinâmicos que complementam o trabalho da parte superior”, lembra Christensen.
Nas mãos do piloto
A Honda não se preocupa que o NSX não exiba números superlativos. A potência, por exemplo, passa de 550 cv, mas é inferior a muitos outros rivais. Ela garante, no entanto, que a experiência de pilotar o esportivo é inigualável: “o NSX nasceu para oferecer prazer máximo ao motorista. A ideia é que ele responda aos comandos de quem está à frente do volante. Até mesmo os auxílios eletrônicos não tiram poder de quem está guiando o carro”, diz a marca.
A configuração do NSX é, no entanto, de tirar o fôlego. Combina um exclusivo motor biturbo V6 longitudinal de 3.5 litros com dois motores elétricos instalados no eixo dianteiro. A tração é integral (ao contrário do primeiro NSX, apenas traseira) e a transmissão é de dupla embreagem com 9 marchas – construída pela própria Honda.
O novo motor substituiu outro V6 aspirado usado no primeiro protótipo. A razão é que a Honda queria que o NSX tivesse um comportamento de carro de rua também e com a adoção do turbo, essas duas personalidades puderam coexistir. O dono do carro pode, por exemplo, optar pelo modo de condução Quiet (silencioso), que utiliza os motores elétricos apenas, ou mudar para o ‘Track’ e ver o NSX saltar como um felino. “O NSX tem uma reação imediata ao ser acelerado, não há nenhuma perda de tempo entre o toque do acelerador e a tração chegando às rodas”, diz com orgulho Klaus.
Fábrica exclusiva
O novo NSX será norte-americano: a produção começa no segundo semestre de 2015 numa fábrica exclusiva no estado de Ohio. Ao contrário de outros mercados, nos Estados Unidos o esportivo será vendido com a marca Acura, divisão premium da fabricante japonesa.
Questiono Ted Klaus se o NSX será um daqueles carros feitos à mão ou um produto totalmente industrializado. “Os dois”, diz de bate-pronto. “Onde é necessária a precisão, teremos robôs e equipamentos montando o carro, já onde é preciso o cuidado e a qualidade humana, ele será feito de forma artesanal como no revestimento do interior”.
No Brasil, em 2016
Mas a melhor notícia para nós brasileiros é que o NSX pode ser vendido em nosso país em 2016. Segundo a Honda, os estudos estão avançados e dependem apenas de acertos financeiros para viabilizar a venda do modelo. Nos Estados Unidos, o esportivo poderá ser reservado nas próximas semanas com preço a partir de 150 mil dólares.
A possível chegada do NSX ao Brasil não é uma ação isolada. A Honda traçou uma nova estratégia para os próximos anos que envolve uma relação mais próxima com automobilismo e esportividade. A marca fornece motores para a Fórmula Indy, nos EUA, e voltará a participar da Fórmula 1 este ano, construindo os motores turbo novamente para a equipe McLaren – aliás, a volta dos turbos para a categoria foi fundamental para seu retorno.
Essa nova fase começou, aliás, com a volta do Civic Si em 2014 e deve ganhar novos personagens em breve, como versões esportivas de outros modelos. Para a montadora japonesa, 2015 é o “Ano da Honda”. Que 2016 seja o ano do NSX no Brasil, então.
Por Ricardo Meier, do IG.