Maio fraco aprofunda queda das montadoras

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As montadoras tiveram em maio mais um mês de vendas decepcionantes, agravando números da indústria automobilística que já eram desoladores. Dados preliminares coletados até quarta-feira — dois dias úteis antes do fechamento do mês — mostram queda de 24% no consumo de veículos novos no país na comparação com maio de 20 14.
Em relação ao mês passado, os emplacamentos estão 3,6% menores, emconta que inclui carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. No total, pouco mais de 183 mil unidades tinham sido comercializadas até quarta. Com isso, a queda das vendas de veículos no acumulado do ano, que estava em 1 9,2% no fechamento de abril, agoraj á alcança 20, 1%.
Apenas neste mês o setor conseguiu ultrapassar a barreira dos 1 milhão de veículos comercializados — marca que, em 2014, já tinha sido superada em abril. A diferença negativa de 2015 em relação aos volumes do ano passado passa de 270 mil veículos, ou o equivalente a um mês intei ro de vendas perdidas.
No mercado de carros de passeio e utilitários leves, que concentra os maiores volumes dessa indústria, as vendas deste mês estão 22,6% abaixo das registradas um ano antes. Na média, o mercado está girando menos de 10 mil carros por dia útil. Isso é menos do que a média diária próxima de 11 mil automóveis registrada entre j aneiro e março, o que não coaduna coma visão transmitida pela Anfavea, a entidade das montadoras, de que a pior fase da crise teria ficado no pri meiro tri me stre.
A maior queda, porém, está no mercado de caminhões, onde o recuo neste mês é, por enquanto, de 50,4% na comparação anual.
A quebra de confiança na economia — levando a uma maior cautela das famílias ao consumir e dos bancos, a emprestar — é o motivo mais citado por dirigentes e analistas do setor para explicar a derrocada do mercado automotivo. Somam-se a isso a retração na atividade econômica e a menor disponibilidade de renda para o consumo, como resultado do endividamento das famílias mais o avanço da inflação e dos juros. “O que aconte-
Fabricantes seguem adotando medidas para cortar a produção, mas, por enquanto, o esforço tem sido insuficiente para normalizar os estoques de carros
ceu é que falta PIB [Produto Interno Bruto]”, diz o diretor de uma grande fabricante de automóveis, que prefere não ter o nome identificado.
As montadoras seguem adotando medidas para cortar a produção, mas esse esforço temsido insuficiente para normalizar os estoques. No fimde abril, último dado divulgado pela Anfavea, 367,2 mil veículos estavamencalhados em pátios de fábricas e concessionárias. É um volume que o mercado leva 50 dias para consumir, quando o ideal seria ter um estoque com giro mais próximo de 30 dias.
Assim, as paradas de produção continuarão no mês que vem, a começar na segunda-feira com férias ou folgas em fábricas no ABC paulista da Mercedes-Benz, da Scania e da General Motors (GM). EmBetim(MG), os funcionários da Fiat serão dispensados para o feriado de Corpus Christi, na quinta-feira, e só voltam ao trabalho no dia 15. Todas as linhas de produção da marca líder de mercado serão interrompidas nesse período. Em março e no início deste mês, a Fiat já tinha concedido férias coletivas para umtotal de 4 mil funcionários.
Ontem, no segundo dia de protesto contra as demissões de 500 operários, trabalhadores da Mercedes-Benz paralisaram a linha de montagemde caminhões no parque industrial da empresa emSão Bernardo do Campo.
A manifestação, porém, não afetou os demais setores do complexo, como a fabricação de chassis de ônibus e as linhas de motores e de eixos — essas duas últimas paralisadas no protesto realizado na quarta-feira. Hoje, a fábrica da Mercedes, assimcomo as da Ford, da Volkswagen e da Scania — tambéminstaladas em São Bernardo —, pode parar novamente por conta da mobilização nacional organizada por centrais sindicais em defesa dos direitos trabalhistas e da democracia. O sindicato dos metalúrgicos do ABC está convocando operários a cruzar os braços nessas fábricas.
(Colaborou Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)
Preço do carro segue emalta, apesar da crise
De São Paulo
Mesmo coma demanda embaixa e os estoques nas alturas, os preços dos automóveis seguememalta. Só no mês passado, o carro zero quilômetro ficou 0,39% mais caro, o que levou para 4,83% a variação do produto desde o inicio do ano — umpouco acima dos 4,56% acumulados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Em 12 meses, o aumento, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 7,33%, nesse caso abaixo dos 8, 1 7% do IPCA. De qualquer forma, desde 2014 — quando o consumo entrou e mqueda livre —, a inflação dos veículos mostra convergência como índice oficial de preços não vista por quase uma década.
Não são poucas as campanhas promocionais divulgadas na mídia para convencer o consumidor
(EL)
a voltar às concessionárias, mas, na média, ficou mais “salgado” comprar o carro novo. Os preços da tabela publicada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram, por exemplo, aumentos de R$ 4,7 mil e R$ 2,8 mil nas versões mais populares dos modelos Onix e Ka, respectivamente. Diferentemente dos preços sugeridos pelas marcas, os valores da Fipej á colocamna conta os descontos concedidos em concessionárias se o pagamento for à vista.
Emparte, isso se deve à retirada dos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que levaramas vendas de veículos a patamares históricos. Porém, tambémhá nesses reajustes o impacto de repasses pelasmontadoras dos maiores custos cominsumos como a energia ou peças importadas, mais caras após a desvalorização cambial.
 
Fonte: Valor Econômico – Impresso – Flip

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