Montadoras em marcha lenta: crise ou mudança estrutural?
Os números não deixam dúvidas: 2014 foi o ano em que as montadoras de automóveis indicaram os primeiros números desanimadores depois de dez anos de crescimento contínuo. A venda de veículos, compreendido entre os meses de janeiro a julho deste ano, caiu 8,6% em relação ao mesmo período de 2013. No total, a produção já amarga a redução de 17%.
Motivos para tal desempenho pífio não faltam. Desde a redução de crédito ao consumidor pelos bancos, passando pela inflação que não dá trégua, até um rearranjo do mercado mundial. Mas comecemos por aqui, no Brasil.
A inadimplência do consumidor, que adquire um veículo à prazo, é um vetor importante neste imbróglio. A capacidade de consumo da chamada “classe C” – os maiores compradores de veículos à prazo – definitivamente atingiu o teto. O excesso de demanda por consumo elevou a inflação, pressionando os preços de toda uma gama de produtos de primeira necessidade, fazendo com que alguns consumidores parassem – forçadamente – de honrar seus compromissos junto aos bancos e às financeiras. Isso fez com que os bancos reduzissem prazos e exigissem entradas mais caras para se adquirir um carro a prazo. O saldo das carteiras de crédito dos bancos diminuíram 5%. Como reflexo disso, as instituições financeiras estagnaram as ofertas de financiamento, correndo atrás desse decréscimo. A previsão é que só em 2016 o saldo das carteiras de crédito das instituições volte ao normal. Até lá, a oferta de financiamento continuará tímida.
Outro dado desanimador são os empregos no setor automotivo que estão seriamente ameaçados. Férias coletivas, paradas técnicas e suspensões temporárias atingiram 7 mil funcionários. Outros 6 mil já estão na rua. E os carros encalharam nos pátios das montadoras: pelo menos 383 mil veículos ficaram em estoque em junho para serem vendidos num período de 48 dias. Comparativamente, em 2013, havia uma média de 375 mil veículos a cada mês para a venda num prazo de, no máximo, 36 dias.
Mas a longo prazo, tal crise indica para uma mudança estrutural de toda a indústria. Os investimentos estão a todo vapor, tanto no Brasil como no resto do mundo. Trata-se de um mercado muito competitivo, e a necessidade por inovação se faz constante. As fábricas da Toyota no Brasil continuam no mesmo patamar em termos de investimentos à longo prazo e a Fiat-Chrysler investirá um total de R$ 15 bilhões até 2016 só em nosso país.
A curto prazo, o que pode amenizar a crise são os investimentos em máquinas agrícolas, caminhões, ônibus e utilitários via financiamentos oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Mas também trata-se de um fenômeno global: fábricas em outros países reduziram a marcha, pois os mercados, principalmente os da Europa, estão em declínio. A boa notícia é que as montadoras esperam que do montante de veículos fabricados mundo afora, pelo menos 50% deles sejam produzidos nos chamados “mercados emergentes” (como o Brasil) até 2020.
Por Bruno Fabri, da Revista SINDLOC-MG.