Na compra de um veículo, troca com troco é opção para quem tem dívidas

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Enquanto nas fábricas as montadoras têm lançado mão de medidas de flexibilização do emprego, como lay off e férias coletivas, para evitar demissões em um ano difícil para o setor, as concessionárias tentam frear a queda nas vendas oferecendo condições mais atraentes. É o caso da chamada troca com troco, quando o consumidor pode dar o veículo usado de entrada no financiamento de um novo e ainda receber um “troco”, usando parte do dinheiro para saldar dívidas no cheque especial, cartão de crédito ou empréstimos bancários.
Por exemplo, na loja, o cliente interessado em um veículo novo de R$ 35 mil vende seu usado por R$ 20 mil. Deste valor, dá R$ 10 mil de entrada, sai com os outros R$ 10 mil restantes e financia os outros R$ 25 mil. O prazo para o financiamento pode chegar a cinco anos (60 meses), com juros mensais de 0,99% a 1,9%.
Quatro concessionárias do Rio procuradas pelo GLOBO — Superfor, Brilhauto, Besouro e Recreio — confirmaram que oferecem esse tipo de financiamento ao consumidor, mas que a procura pela oferta é pequena.
Embora as concessionárias ofereçam essa facilidade, no entanto, especialistas de finanças alertam que o esquema é vantajoso apenas para aqueles que têm dívidas, já que, neste caso, a pessoa trocaria uma dívida com juros muito altos por uma com taxas mais baixas.
A pedido do GLOBO, o professor de finanças da FGV Marcos Heringer comparou as condições desse tipo de financiamento às do crédito pessoal, do consignado e do cheque especial para saber qual seria a opção mais vantajosa para o consumidor, levando em conta as condições oferecidas pelas quatro concessionárias procuradas.
De acordo com Heringer, simulando um financiamento de R$ 10 mil a ser pago em 48 meses sob uma taxa média de 1,4% ao mês oferecida pelas concessionárias quando a entrada é de 30% do valor do carro, o consumidor pagaria aproximadamente R$ 3,8 mil de juros. Nas mesmas condições de prazo, um empréstimo feito através do crédito pessoal doeria bem mais no bolso, já que os juros mensais cobrados são, em média, de 7% de acordo com dados do Banco Central. Neste caso, além dos R$ 10 mil financiados, o consumidor teria que desembolsar outros R$ 25 mil só para pagar juros. Já no crédito consignado, o cliente pagaria uma taxa média de 2,7% ao mês, segundo o BC, o que levaria o devedor a pagar R$ 8 mil de juros, além do valor financiado. Num cenário ainda mais amargo, caso o consumidor opte por pagar a dívida através do cheque especial, cuja taxa média informada pelo Procon é de 11% ao mês, R$ 43 mil seriam perdidos sob forma de juros.
— Para quem tem dívida no cheque especial, só a economia que o consumidor tem de R$ 39 mil aproximadamente (R$ 43 mil menos R$ 3,8 mil de juros no caso do financiamento da troca com troco) com o pagamento de juros valeria mais que o carro da nossa simulação. Para quem tem um veículo para dar de sinal, mesmo que não tenha a intenção de comprar um automóvel novo, esse tipo de operação é uma grande vantagem, já que você leva um carro novo e ainda economiza um dinheiro — alerta Heringer.
Já no caso de quem pretende pegar o dinheiro, mas não tem dívidas a saldar, ressalta o professor, não vale a pena fazer o financiamento levando o “troco”:
— Puro e simplesmente para anseio de consumo não é viável. Ainda que seja uma taxa mais baixa (na condição oferecida pela concessionária), ela não é desprezível. Então, para esse tipo de situação, não compensa. Não vale a pena inventar aquisições só porque há essa possibilidade.
A planejadora financeira Myrian Lund faz coro a Heringer neste ponto:
— Isso (pegar financiamento sem precisar do dinheiro) a gente chama de crédito ruim porque não traz benefícios e não alavanca a vida da pessoa que faz a dívida. Ela vai ficar quatro anos pagando uma coisa que só deve usar por um ano, então não vale a pena. Esse tipo de modalidade só deve ser aplicada para bens duráveis.
 
Fonte: O Globo

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