Indústria automobilística no Brasil fez muito pouco pelos motores flex

Um manto de incertezas cobre o setor de etanol no Brasil depois do resultado da eleição presidencial. O problema maior é que o próprio partido no poder tem posições ambíguas ou mesmo opostas. No governo Lula houve certo deslumbramento e no de Dilma quase uma condenação ao esquecimento. Em meio a isso, a descoberta de petróleo em grande quantidade em águas profundas e bem longe da costa. Parecia o tiro de misericórdia sobre o combustível alternativo, renovável e incomparavelmente neutro em termos de emissão de gás carbônico (CO2), quando se considera o ciclo fechado da produção ao consumo.
O fato é que o etanol hidratado (uso direto) e o anidro (em mistura com gasolina) já chegaram a responder juntos por mais da metade do consumo de combustível em motores de ciclo Otto no Brasil. Hoje, apenas 33%. Na esteira dessa queda, cerca de 70 das 440 usinas do país encerraram atividades e 100 mil empregos diretos se perderam (em parte devido à mecanização da colheita de cana). Para quem se preocupa com problemas sociais, está aí um deles.
Há soluções para esse impasse, mas é preciso saber se serão mesmo buscadas. Os motoristas já deram o recado: podem reconhecer vantagens ambientais, empregos e melhor desempenho. Admitem até abastecer mais vezes pela menor autonomia com etanol. Mas não estão dispostos a pagar mais por quilômetro rodado. Saída óbvia seria uma estratégia confiável e duradoura sobre o que o país quer em termos de abastecimento de sua frota. Sem essa sinalização, nada feito.
Obviamente, de pouco adianta aumentar de 25% para 27,5% o teor de etanol na gasolina. (A Argentina puxará essa proporção de 8% para 10% até o fim do ano.) Os testes da nova mistura deveriam ter se encerrado este mês, mas ficou para “depois das eleições”. Já se sabe que se trata de mera jogada política e será confirmada. Previsibilidade sobre o preço da gasolina depende do fim do intervencionismo apelativo. Alguém do governo reconhecerá que errou?
O que ajudaria bastante seria o fim das escaramuças entre produtores de combustíveis e fabricantes de veículos. Os primeiros, talvez no desespero, partiram para esses 27,5% de etanol anidro e, aparentemente, convenceram o governo a estimular que o consumo relativo entre etanol hidratado e gasolina, nos motores flex, melhore de 70% para, no mínimo, 75% (autonomia 7% maior com o combustível verde).
A segunda proposta depende de incentivos fiscais, previstos em lei, para compensar o aumento de custos. Mas na recente conferência Datagro, do setor de cana, nenhum representante ministerial convidado compareceu para explicar esse mecanismo.
Já a indústria automobilística fez muito menos pelos motores flex do que poderia. Engenharia nacional de motores progrediu graças ao etanol, mas nem mesmo substituiu em grande escala o anacrônico sistema de partida a frio com auxílio de gasolina. Só agora, forçada pelo Inovar-Auto, vai melhorar o consumo, mas ainda patina na tal diferença relativa etanol/gasolina.
Por sua parte, produtores de etanol também precisam se esforçar mais – alegam, porém, exaustão financeira – para a segunda geração do combustível e pesquisar produção de propanol e butanol, que têm poder calorífico maior e garantiria boa vantagem na bomba ao abastecer.
Por Fernando Calmon, do Vrum.

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