Locadoras de veículos apostam na retomada
Jefferson Klein
Apesar dos impactos do coronavírus, o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Paulo Miguel Junior, projeta uma rápida recuperação do setor, desde que não ocorra uma piora na pandemia que implique medidas mais severas quanto à circulação de pessoas. Ele recorda que, no final de abril, estavam parados em torno de 90% dos veículos que vinham sendo alugados para pessoas em viagens de negócios e a lazer no Brasil, mesmo panorama observado no Rio Grande do Sul. Já a devolução de carros que estavam locados para motoristas do Uber, 99 e Cabify atingiu a marca de aproximadamente 80%. No final do ano passado, o País contava com 10.812 empresas no segmento. Juntas, mantinham 75.104 empregos diretos e uma frota total de 998 mil veículos. Já o Rio Grande do Sul registrava 436 locadoras, 2.652 empregos e 13.450 veículos emplacados por essas empresas.
Jornal do Comércio – O senhor está otimista quanto à situação do mercado de locadoras de automóveis neste atual estágio da pandemia do coronavírus e para o futuro?
Paulo Miguel Junior – Sim, com certeza. Entendo que no pós-pandemia, ou mesmo agora, as pessoas vão preferir mais o transporte individual do que o coletivo ou o compartilhado, e com isso incentivará a locação de veículos. Acho que, com as pessoas buscando mais o isolamento na hora do transporte, a tendência é de usar o carro locado.
JC – Em abril praticamente a totalidade, cerca de 90%, dos carros alugados para viagens de negócio ou lazer, estavam parados. Como está esse cenário atualmente?
Miguel Junior – Teve uma retomada de aproximadamente 15% no mês de junho. Esse número já reduziu para algo em torno de 75% a 70% da frota parada. Já está recuperando e com as cidades liberando um pouco mais, acredito que isso tende a melhorar. Com a flexibilização, a gente vê os motoristas de aplicativos voltando a trabalhar e haverá campanhas espalhadas pelo Brasil, incentivando o turismo regional feito com o carro. Então, tudo isso deve fazer com que o setor retome as atividades um pouco mais rápido do que o restante dos segmentos da economia.
JC – Também em abril, a devolução de carros alugados para motoristas de aplicativos como Uber, 99 e Cabify era de cerca de 80%. Como está a situação hoje?
Miguel Junior – Também melhorou esse percentual. A estimativa atual é de 60%, ou seja, já houve uma retomada de 20%. Conforme as atividades vão voltando, as pessoas voltam a pegar os carros utilizados pelos aplicativos de transporte. A gente sabe que o número de desempregados vem aumentando no dia a dia, e os aplicativos de transporte são uma maneira das pessoas conseguirem alguma renda. Imaginamos que esse mercado também terá uma retomada.
JC – Contudo, essa condição está diretamente vinculada à que a pandemia não se agrave e ocasione restrições em comércios e circulação de pessoas, correto?
Miguel Junior – Sim. Mas, a gente entende que a atividade de locação de veículos é essencial, por essa razão deve permanecer aberta.
JC – As locadoras chegaram a ter que demitir funcionários?
Miguel Junior – Fiz uma pesquisa há cerca de um mês, com as locadoras, e a maioria das empresas estavam operando com as medidas do governo federal de redução ou suspensão do contrato de trabalho, mas ainda não tinham efetivamente passado para as demissões. Porém, com o alongamento da crise, acredito que já esteja ocorrendo demissões no setor.
JC – Quais mudanças podem ocorrer nos perfis dos clientes que buscam a locação de veículos devido à pandemia?
Miguel Junior – O que entendo é que as pessoas vão fugir da aglomeração do transporte coletivo. Quem tiver condições financeiras e usa o transporte compartilhado hoje pode passar para o individual. Esses públicos, dependendo da condição financeira, vão poder migrar para o carro locado. Já era uma tendência no passado, só não quanto ao uso contínuo. As pessoas utilizavam o transporte compartilhado ou público e quando necessitavam ir para um evento especial, uma viagem, locavam seus veículos. Então, esse público já tem o hábito de locação e agora, ao invés de adotar a prática eventualmente, acredito que passe a utilizar de forma contínua, pelo menos no período pós-pandemia.
JC – Em contrapartida, aquele turismo de negócio, em que a pessoa chega no aeroporto e aluga um carro para ir até o seu compromisso, não será afetado pela difusão das teleconferências pela internet?
Miguel Junior – Boa parte das locações diárias é feita nos aeroportos e com a redução dos voos isso parou. Enquanto as empresas aéreas não chegarem ao seu normal, vai prejudicar um pouco o setor de locação, porém a gente está esperando recuperar o número de usuários em outras modalidades, haverá uma compensação.