Para especialista, dias do carro particular para uso individual estão contados
O compartilhamento de viagens urbanas em carros privados (ride hailing, em inglês) deve transformar o cenário da mobilidade nos próximos anos. Viabilizado pela massificação global dos smartphones e pelo aumento da conectividade, o fenômeno é recente, mas está em crescimento acelerado. Em 2017, apenas 3% de todos os quilômetros percorridos em viagens urbanas foram originados dessa forma, mas a participação deve atingir em média 18% em 2035, estima o Centro de Inovação para Mobilidade do Boston Consulting Group (BCG). Essa modalidade de transporte pode chegar a mais de 30% em cidades com alta densidade populacional como São Paulo.
Para Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), os dias do carro particular de uso privativo estão contados. Ele prevê que, no horizonte de dez anos, os custos da energia e do transporte vão cair muito e os aplicativos de transporte individual devem migrar para o transporte de grupos, quebrando monopólios. As mudanças tecnológicas vão tornar a mobilidade mais segura, com menos acidentes, congestionamento e poluição, diz.
O Brasil reúne algumas características que favorecem o ride hailing. Sua população está concentrada em poucas regiões urbanas: somente 324 municípios, 5,8% do total, possuem mais de 100 mil habitantes, concentrando quase 60% dos brasileiros. Os sistemas de transporte público são de baixa qualidade e baixa capilaridade. A percepção de insegurança pública, o alto nível de uso da internet móvel, o alto custo do veículo e a crescente informalidade no mercado de trabalho também são incentivos. Não por acaso, o país é o segundo mercado mais importante da Uber, atrás apenas dos EUA.
Uma pesquisa recente da consultoria com 1,5 mil pessoas no Brasil mostra que 55,6% dos respondentes usam opções de mobilidade compartilhada pelo menos uma vez por semana. O percentual aumenta conforme o poder aquisitivo, chegando a 70% na classe A. Somente 1% declararam usar exclusivamente o ride hailing, que ocupa espaço complementar a outros modais. Em torno de 15% dos entrevistados não demonstraram desejo de se tornar motoristas. O estudo conclui que, para a população que percorre menos de 5 mil km por ano em um carro básico ou 6 mil km em um com câmbio automático, faz mais sentido, do ponto de vista estritamente econômico, substituir o carro pelas viagens compartilhadas.
Os veículos autônomos também prometem grandes impactos à mobilidade nas metrópoles, indica outro estudo do BCG em colaboração com o Fórum Econômico Mundial. O levantamento envolveu 5,5 mil consumidores e 25 gestores de políticas públicas em 27 cidades de dez países. Dos entrevistados, 58% disseram que utilizariam um carro autônomo. Contudo, a metade mostrou preocupações sobre segurança. Só 35% dos pais deixariam seus filhos andarem desacompanhados em veículo sem condutor humano.
FONTE: Valor Econômico