O mundo dos veículos autônomos

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Carros autônomos, sem motorista, são recorrentes no ambiente da ficção científica, e até há pouco estavam restritos aos livros e filmes. Fabricantes de automóveis e gigantes da indústria digital, porém, apostam que falta apenas cinco anos para que eles virem presença constante em nossas vidas. E notícias recentes certificaram a estimativa.
Em março, o empreendedor americano Elon Musk anunciou que carros de sua Tesla, a mais celebrada fabricante de automóveis elétricos, passarão por uma atualização de software ainda neste ano para ganhar funções de autônomos. Musk promete que os veículos conseguirão se dirigir sozinhos, mas, por enquanto, apenas em estradas. Já é um bom começo.
Também no mês passado, o luxuoso autônomo da Mercedes-Benz, o F 015, que fora apresentado em setembro em uma feira em Las Vegas, foi visto circulando pelas ruas de São Francisco, na Califórnia. Diferente de similares da concorrência, o da Mercedes é desenhado para que os passageiros mal sintam que estão em um automóvel. Como dispensa o piloto, a parte interna é uma sala de estar com quatro cadeiras móveis – direcionadas para o centro, não para o volante. Disse o alemão Dieter Zetsche, presidente do conselho da Daimler AG e responsável pela área de automóveis da Mercedes: “Qualquer um que foque só na tecnologia não entendeu como os autônomos vão transformar a sociedade. O carro está deixando de ser um mero transporte para se transformar em um ambiente móvel de convívio.”
Outra boa notícia é a entrada da americana Uber, conhecida pelo app que conecta donos de carros a potenciais passageiros, no ramo. A ideia da Uber: quando alguém quiser alugar um carro pelo seu app no futuro, bastará acionar o veículo sem piloto mais próximo. Com isso, o app – que já têm levado cooperativas de táxi em direção à falência – deve aposentar também a figura do taxista, ou mesmo do motorista particular.
Os autônomos ainda devem chegar às ruas da Inglaterra em 2015. O governo anunciou no começo deste ano que planeja usar versões diminutas (e coloridas com as cores da bandeira do país) como transporte público. O projeto não deve demorar mais de dois anos para ser implementado.
VEJA testou recentemente um dos modelos mais avançados desses veículos: o carro que se dirige do Google. Ele funciona surpreendentemente bem. Locomove-se por ruas de Mountain View, onde fica a sede da gigante americana no Vale do Silício, com facilidade.
Dotado de algoritmos capazes de calcular como o computador de bordo deve reagir a milhares de situações típicas de trânsito, o carro acelera na hora correta, breca com segurança, desvia de pedestres e ciclistas e é capaz de desviar de obstáculos inesperados na pista.
Engenheiros do Google envolvidos com o projeto, porém, admitem que nenhum autônomo em testes, seja da empresa ou de concorrentes, é preparado para trafegar em metrópoles turbulentas, a exemplo de São Paulo. Em grandes cidades, as variáveis nos congestionamentos são tantas que acidentes seriam incontornáveis. Exemplo: qual seria a decisão do veículo se tivesse de optar entre bater em um caminhão à frente ou desviar e atropelar motoboys que passam ao lado? Os engenheiros do Google não souberam responder.
Mas a aposta é que esses problemas são passageiros. Conforme os testes são feitos, o algoritmo do computador de bordo se desenvolve. A ambição é chegar a tal ponto que os automóveis saberão reagir a situações emergenciais sempre de forma mais eficiente que humanos. De acordo com as fabricante de automóveis, a tecnologia deve chegar a esse ponto já na próxima década. O que trará benefícios inegáveis, como uma possível redução de 90% nos incidentes de trânsito.
A inovação, porém, trará uma série de novas questões ainda sem solução. Se ocorrer um acidente, como um atropelamento, quem será julgado? A fabricante do carro autônomo, ou o dono, que nem estava ao volante? E tem mais: a segurança do computador de bordo desses veículos pode ser comprometida por hackers, capazes de invadir o sistema e controlar o carro à distância. As fabricantes poderão defender seus clientes dos ataques virtuais? Pontua o advogado Bryant Walker Smith, especialista em aspectos legais de novas tecnologias, professor da Universidade da Carolina do Sul: “Inovações sempre vão trazer problemas. O conceito da engenharia, por si, é substituir problemas antigos por novos. A missão da legislação é adequar a inovação às regras morais da sociedade.”
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Por Filipe Vilicic e Jennifer Ann Thomas, da Veja.

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