Palio vira o carro mais vendido em 2014; entenda a queda do Gol
O Fiat Palio superou o Volkswagen Gol em emplacamentos pelo 6º mês consecutivo em novembro e assumiu pela primeira vez a liderança no acumulado de 2014, segundo dados divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) nesta segunda-feira (1º).
É ainda a primeira vez, em 12 anos, segundo dados disponíveis na Fenabrave, que o Gol não é o carro mais vendido entre janeiro e novembro, o que pode prenunciar o fim de um “reinado” de 27 anos, se isso se mantiver em dezembro.
Nos primeiros 11 meses do ano foram emplacadas 160.784 unidades do Palio (somadas as do “Novo Palio” e as do Fire, da geração antiga) e 159.207 unidades do Gol.
Até outubro, o hatch da Volkswagen ainda se segurava na ponta, com pouco mais de 1,7 mil unidades a mais que o modelo da Fiat. Agora a situação se inverteu, com vantagem de 1,5 mil para o Palio.
Palio é que caiu menos
Os números apontam que não foi o Palio que vendeu mais: ambos caíram nas vendas neste ano, na comparação com 2013.
Mas o compacto da Volkswagen vendeu 30,8% a menos de janeiro a novembro, enquando o tombo do hatch da Fiat foi menor, de 1,2%, que pode ser considerado “estabilidade”, levando em conta o declínio de 8,7% do mercado de veículos e comerciais leves no mesmo período.
Segundo analistas do setor automotivo, o Gol sofre com a chegada de novos concorrentes, falta de atualização do projeto e o fim da versão G4 (geração anterior), que tirou das lojas as opções mais baratas e deixou de entrar na conta dos emplacamentos do modelo. O Palio, por outro lado, continua contando com as vendas de duas gerações.
O início da derrocada
Ainda em janeiro, o hatch da Volkswagen emplacou 21.671 unidades, quase o dobro do Palio (12,6 mil), que era só o 4º colocado, atrás de Uno (13,6 mil) e Fiesta (13,1 mil). Já em fevereiro, o volume do até então líder despencou 35%, para 14 mil, enquanto o Palio cresceu pouco, com 13,2 mil, e se beneficiou da queda de Uno (10,4 mil) e Fiesta (8,9 mil) para chegar à vice-liderança no mês.
Segundo Milad Neto, da consultoria Jato Dynamics, o Gol “sustentou as vendas em janeiro por causa do estoque ainda disponível nas concessionárias da versão G4”, que parou de ser produzida com a obrigatoriedade de airbag e freios ABS a partir de 1º de janeiro.
Em março, quando o estoque estava no fim, o Palio apareceu pela primeira vez como o mais vendido, embora ambos tenham caído por causa do Carnaval. Em abril e maio, o Gol deu o “último suspiro” na ponta, mas manteve queda de cerca de 30% em relação a 2013.
Preço
Sem a versão mais barata, o pico de vendas do Gol subiu para valores entre R$ 31 mil e R$ 33 mil, enquanto o Palio caiu para R$ 24 mil e R$ 26 mil, de acordo com dados fornecidos pela Jato Dynamics. A diferença de estratégia entre Fiat e Volkswagen fica clara aqui.
Também com queda superior a 30% nos emplacamentos do Uno, a montadora italiana sofreu com o fim do Mille, pelos mesmos motivos do Gol G4, mas contornou o problema com a versão mais barata do Palio, a Fire.
Possível substituto do Gol G4 em números, o Up! não conseguiu emplacar como o Palio Fire. “O Up! foi posicionado no patamar de preço elevado. Isso acabou atrapalhando as vendas do Gol também”, afirmou Milad Neto.
Apenas em outubro, a Volkswagen corrigiu a estratégia com o Gol Special, uma versão “pelada”, a partir de R$ 27.990. Até então, o Gol Trendline de 2 portas era o mais barato da família, por R$ 32.380.
Cansaço
Para Arnaldo Brazil, consultor da MSX International, o popular da marca alemã também mostra “cansaço” em relação ao estilo e mensagem. “Uma nova geração de consumidores não se conectou com essa imagem de qualidade e durabilidade. Nos últimos 6 anos, o grande número de pessoas que chegaram ao mercado veio em busca do novo e encontrou diversas opções.”
Essa mudança de perfil do consumidor está explícita nos números de emplacamentos no varejo (concessionárias) e na venda direta (para empresas e frotas). Para as pessoas jurídicas, o Gol ainda é o preferido com larga vantagem em relação ao Uno. Mas para as pessoas físicas, o hatch compacto é apenas o 5º colocado em 2014, atrás de Palio, Onix, HB20 e Fiesta, nesta ordem.
Entre os mais desejados pelos consumidores comuns, o único que não tem um projeto novo ou recentemente atualizado é o Palio. Para Ricardo Pazzianotto, sócio da PwC Brasil e líder automotivo em consultoria de negócios, a competição no segmento faz bem ao brasileiro. “Quando não tem concorrente, você se contenta com o que está disponível”, apontou.
Conectividade
O brasileiro está mais exigente, não só com carros. “Ele quer coisas mais modernas, tecnológicas. Uma tendência nos veículos é a questão de segurança e conectividade. Equipamentos como GPS, DVD, conexão com celular, controle no volante, começam a ser ‘commodities’ comuns nos carros – todos terão”, afirmou Pazzianotto.
Mesmo na versão 2015, o Gol ainda não oferece tela multimídia integrada, enquanto o GPS é apenas acessório, daqueles fixados no vidro. O Onix, segundo na preferência do consumidores comuns, é vendido com o sistema multimídia MyLink equipado em cerca de 80% dos modelos, segundo a Chevrolet.
“No segmento de entrada ‘plus’, o consumidor tem mais acesso a informação, e se precisa trocar o carro, não quer mais um ‘pelado’. Esse processo já tinha se iniciado com HB20, Onix e Etios, que não caiu no gosto popular, mas elevou a participação da Toyota no mercado. É um segmento muito forte agora, fugindo dos ‘pé-de-boi’”, disse Milad.
Contra-ataque?
Ainda há tempo para o Gol recuperar o trono e manter-se na liderança pelo 28º ano consecutivo, por meio de uma política de preços agressiva no final do ano. No entanto, para Arnaldo Brazil, é uma estratégia arriscada, que pode piorar a imagem do modelo.
“Se for agressivo em preço, até dá tempo para reverter, mas não para reconstruir a imagem e o valor do veículo. Tendo o produto em estoque é possível fazer campanha promocional, mas acaba machucando a marca. Confirma uma certa percepção de desvalorização e desconexão com o modelo. É arriscado, a não ser que seja muito importante manter a imagem de líder”, explicou.
Quem subiu
Entre os 20 modelos mais vendidos neste ano, os 2 que mais cresceram em 2014 fazem parte do mesmo segmento. Com alta de 49% entre janeiro e novembro, o Chevrolet Prisma pulou para o 2º lugar entre os sedãs compacto, atrás apenas do Fiat Siena.
Já o Hyundai HB20S (sedã) avançou 75% no mesmo período e aparece em 4º, logo depois do Volkswagen Voyage. Ambos foram lançados em março do ano passado e estão no primeiro ano “cheio” de vendas, mas já fazendo frente aos mais experientes, que perderam em torno de 16% das vendas cada um.
“Como no Brasil o carro geralmente serve para a família, vem a preferência pelo sedã. Se ele tiver estilo, competitividade e preços próximos ao hatch, leva vantagem, mesmo com uma diferença de preço representativa de 10% a 15%”, explicou Brazil.
Por Peter Fussy, do G1.