Pandemia deve estimular as vendas de carros populares

Os carros populares devem recuperar espaço no mercado nacional. A retomada nas vendas será consequência da pandemia do novo coronavírus. Dois fatores contribuirão para isso: o receio de utilizar o transporte público e a perda de poder aquisitivo, que vai forçar escolhas racionais.

O crescimento se dará tanto pela compra quanto pelo aluguel. Os planos de carro por assinatura oferecidos pelas locadoras devem crescer em participação, e essas empresas são grandes clientes das montadoras.

A alta dos emplacamentos de veículos mais simples já é registrada na China, país em que os licenciamentos começam a se recuperar após o encerramento da quarentena. Apesar das diferenças entre os mercados, a indústria brasileira tem analisado o que ocorre no Oriente enquanto tenta projetar o futuro.

Não será um estouro de vendas por aqui, mas, sim, uma readequação de portfólio.

No início dos anos 2000, os modelos populares representavam 70% das vendas no Brasil. Os emplacamentos eram impulsionados pelo crédito fácil, que resultou no aumento da inadimplência. Em resposta, os bancos tornaram-se menos permissivos, o que acabou afastando os consumidores de menor renda.

Com a queda no volume de vendas entre 2015 e 2017, o setor automotivo passou a se escorar em consumidores com crédito na praça e maior poder aquisitivo, compradores de modelos mais completos e caros.

Ao mesmo tempo, as normas que exigem veículos mais seguros e menos poluentes forçaram o aumento dos preços. As opções de baixo custo continuaram a perder espaço, e ter motor 1.0 deixou de ser sinônimo de carro popular.

A massificação dos modelos turbinados, projetados para ter alto rendimento com baixo consumo, fez modelos “mil” se sofisticarem para custar mais de R$ 100 mil e oferecer desempenho superior ao dos antigos motores 1.6 e 1.8. É o caso do utilitário compacto Volkswagen T-Cross 200 TSI na versão Comfortline, vendido a R$ 107,9 mil.

A mudança de perfil do mercado não é ruim para as montadoras: carro barato exige um volume elevado de vendas para ser lucrativo. É melhor vender cem carros de R$ 100 mil do que 200 de R$ 50 mil. Hoje, apenas Renault Kwid e Fiat Mobi podem ser considerados, de fato, carros populares zero-quilômetro. São modelos subcompactos de apelo urbano e foco no baixo custo de uso. Custam R$ 35 mil em opções sem ar-condicionado, direção assistida ou vidros elétricos.

Com a crise gerada pela pandemia, etapas futuras dos programas de redução de emissões e de aumento da segurança dos veículos devem ser adiadas, o que abrirá espaço para as fabricantes retomarem a montagem de versões com menor custo de produção. Esperam-se mudanças no cronograma do plano Rota 2030.

E não será surpresa se medidas de estímulo adotadas no passado forem retomadas, a exemplo da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Em busca da sobrevivência, a indústria deve voltar no tempo.

Fonte: Folha de S. Paulo

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