Para Fiat, mercado inicia melhora no segundo semestre

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Cledorvino Belini, presidente: vendas da montadora em 2015 devem ficar estáveis ou até superar volume do ano passado (Foto: Claudio Belli/Valor)

Daqui a alguns dias, o presidente da Fiat Chrysler para a América Latina, Cledorvino Belini, comandará em Pernambuco a cerimônia de inauguração da segunda fábrica da montadora no Brasil. Será um momento de festa em meio a uma maré de más notícias para o setor automotivo no país. A associação dos fabricantes, a Anfavea, prevê queda de 13% nas vendas em relação a 2014. Os primeiros três meses do ano já acumularam recuo de 16%, num período de aperto de crédito, de demissões da indústria e num cenário de recessão.
Em 2014, o setor já encolheu 7,1% e a Fiat teve um baque ainda maior, de 8,5%, por não ter aceito, segundo Belini, entrar na guerra de preços das concorrentes. O executivo, todavia, procura injetar um pouco de otimismo nas previsões para este ano e mais ainda para 2016. Ele diz acreditar que o humor no mercado comece a melhorar a partir do segundo semestre, quando as vendas de carros normalmente são mais aquecidas.
“Em 2015 nós, na Fiat, deveremos ter um volume de vendas próximo ao de 2014 ou talvez até maior. Ainda estamos no começo do ano, mas acreditamos que, em função de novos produtos vamos manter o que conseguimos no ano passado. Com o mercado caindo, já seria um grande resultado”, disse Belini em entrevista ao Valor.
Boa parte desse impulso virá das vendas do SUV compacto Jeep Renegade, que já começou a sair da fábrica de Goiana (PE). O modelo é uma aposta global da empresa, com produção no Brasil, na Itália e, futuramente, na China. No país, disputa com a Ecosport, da Ford, com a Duster, da Renault e com o HR-V da Honda. “O segmento de SUVs está crescendo, comendo de outros segmentos. Está em torno de 6% e tende a subir. A expectativa é que em 2018, 2020 chegue a 16%”, disse. A demanda pelo Jeep deve compensar a queda da demanda de outros modelos.
“É um produto que está num nicho alheio à crise. É novo, vem com a força de um SUV e um brand muito forte”, disse. A Fiat tem seis lançamentos programados para 2015 e 2016. Um deles, o Renegade, e outro modelo da Jeep no ano que vem. E quatro modelos da marca Fiat. Um deles, este ano.
Além dos lançamentos, a Fiat vê outra oportunidade para seu negócio no Brasil: a desvalorização do real frente ao dólar. “Esses dias mesmo estávamos discutindo que nosso avanço agora é a exportação. Por conta do câmbio, voltamos a ter competitividade. No ano passado, por exemplo, exportamos para o México 3 mil e poucos veículos e neste ano queremos exportar 15 mil”, afirmou o executivo. Belini diz que não só o Renegade tem no México um mercado potencial, como também a Pálio Weekend e os veículos da linha adventure.
Outros mercados na América Latina, na África e, eventualmente, nos EUA são encarados por Belini como possibilidades de exportação do modelo Jeep. A Argentina, para onde a montadora italiana chegou a exportar a partir do Brasil 90 mil carros por ano, vende atualmente a metade disso, mas continua como principal destino.
“O câmbio nesse novo patamar inibe importações e abre espaço para exportações”, reiterou. E como o índice de nacionalização é alto, em alguns veículos de 95%, o peso na importação de partes e peças é pequeno. Sobre as condições da economia do país, Belini se diz esperançoso com os efeitos do programa de ajuste do governo. “À medida que houver consenso com o Congresso, e acredito que o Brasil sempre encontra um consenso, as medidas propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vão mudar as expectativas e melhorar o cenário da atividade econômica. A expectativa é que em 2016 as coisas mudem e o Brasil volte a crescer, ainda pouco, mas que mude o cenário.”
Mas antes que isso aconteça, a líder da vendas de automóveis no Brasil tem de lidar com uma circunstância muito peculiar. A empresa está enxugando gastos onde pode e ao mesmo tempo cuidando da expansão de Betim. Até fim do ano devem ser concluídas as obras de modernização da unidade, com aportes de R$ 7 bilhões, elevando a capacidade de produção de 800 mil para 950 mil veículos por ano.
As duas frentes – Betim e Goiânia, que será inaugurada dia 28 – foram planejadas num momento econômico de mais entusiasmo que o atual. Perguntado se o corte de custos na empresa significará demissões, Belini diz: “Não, nós estamos evitando ao máximo. Temos feito paradas técnicas e em feriados paramos a fábrica e concedendo férias a quem tem direito em programação que vai até agosto”. Em março, 2.000 trabalhadores ficaram em casa, em férias coletivas.
Sobre a situação política do país e um eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Belini diz que não é um tema que provoque preocupações nos planos da empresa. Aos 66 anos, conta que partilha da opinião de um grupo de jovens com quem conversou: “Não adianta querer tirar, falar em impeachment. Vamos corrigir o que tem que corrigir. Mudar é lá na frente.”
 
Fonte: Valor Econômico – Impresso

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