Perto de iniciar produção, câmbio desafia Land Rover
Lidar com a desvalorização do real, e seus impactos no custo das importações, será o maior desafio da Jaguar Land Rover num momento em que a montadora britânica está prestes a inaugurar uma fábrica no sul do Rio de Janeiro, mas continuará importando quase todos os componentes dos veículos a serem produzidos no local. A avaliação foi feita ontem por Frank Wittemann, executivo alemão escalado para assumir no mês que vem o comando dos negócios da empresa na América Latina no lugar de Terry Hill, que ocupou o posto nos últimos dois anos.
“A depender da taxa de câmbio, poderemos ter alguns movimentos de preços ao longo de 2016. Claro que toda montadora está atenta ao que seus concorrentes estão fazendo e um aumento em conjunto de preços poderá afetar o tamanho desse mercado”, disse o executivo ao tratar da pressão do câmbio durante entrevista a um grupo de jornalistas concedida num hotel da região central de São Paulo.
Segundo Wittemann, os preços terão de ser ajustados se o real continuar perdendo valor frente às principais divisas internacionais. Mas ponderou que o mercado de automóveis de luxo, voltado ao público de alta renda, tende a sentir menos o impacto por sua menor elasticidade a variações de preços, se comparado a modelos populares.
Não foi por acaso que o executivo mencionou a escalada da taxa de câmbio como seu maior motivo de preocupação. Quando a Jaguar Land Rover, em dezembro de 2013, anunciou que desembolsaria R$ 750 milhões para produzir carros em Itatiaia a cotação do dólar estava abaixo de R$ 2,40 e o euro custava R$ 3,24.
Agora, com a fábrica já na fase de testes para iniciar a produção nos próximos quatro meses, a moeda americana passa dos R$ 4,00 e o euro ronda a marca de R$ 4,40. O novo câmbio torna mais custoso não só importar da Inglaterra os modelos que não serão fabricados no Rio, mas também trazer do país-sede os componentes – incluindo toda a carroceria dos automóveis e peças do motor – dos utilitários esportivos da Land Rover que serão montados na fábrica brasileira.
Até agora, o grupo não alterou as tabelas de preços de suas duas marcas, mas as concorrentes BMW e Audi, que já produzem no Brasil, assim como a Mercedes-Benz, começaram o ano com reajustes na faixa de 6% a 12% no portfólio oferecido aos brasileiros.
Num dia de agenda atribulada, Wittemann – que chega ao Brasil após curta passagem pela China, onde foi diretor de vendas por quatro meses, e depois de chefiar a subsidiária do grupo na Rússia por cinco anos – teve ontem seu primeiro contato com a imprensa brasileira apenas três horas após desembarcar em São Paulo de um voo vindo de Londres. Para deixar claro que ainda está conhecendo o Brasil e sua economia, brincou que sua primeira impressão do país foi de apenas “dez minutos”.
Ao ser questionado sobre suas expectativas em relação às vendas de carros de luxo no Brasil, que somaram 56 mil unidades no ano passado, ele reconheceu não ser ainda um especialista em mercado brasileiro, mas citou previsões divulgadas na imprensa que apontam a um desempenho entre a estabilidade e uma queda de 5% em 2016. “Pessoalmente, não posso dizer se isso está certo ou errado”, afirmou.
Apesar do cenário pouco promissor deste ano, tanto Wittemann quanto Dmitry Kolchanov, diretor da marca responsável por mercados internacionais, também presente na entrevista, demonstraram confiança no crescimento do mercado automotivo brasileiro no longo prazo.
Os diretores informaram ainda que, a despeito do câmbio favorável para vendas ao exterior, não há planos de exportar pela fábrica de Itatiaia, pelo menos nos próximos dois anos, e adiantaram que a produção de carros da Jaguar no local é uma possibilidade para o futuro, embora uma definição sobre o assunto ainda não tenha sido tomada.
Para Kolchanov, o consumo de carros no Brasil, que ficou abaixo da marca de 2,5 milhões de unidades em 2015, tem potencial de dobrar de tamanho em até dez anos. “Se você acreditar nas previsões de que o país vai chegar, em algum momento, a 5 milhões de veículos e considerar que em mercados maduros a participação dos carros premium é de 10%, poderemos ter um consumo enorme de 500 mil automóveis de luxo no Brasil. É um potencial enorme”, comentou. Em 2016, as vendas da Land Rover no país caíram 6,1%.
Fonte: Valor Econômico