Viver no trânsito é uma forma de se matar lentamente

Sim! O título é assustador: viver no trânsito é uma forma de se matar lentamente. Isso é ainda mais assustador quando se percebe que não se trata de nenhum exagero. Morre-se no e por causa do trânsito todos os dias, direto ou indiretamente.

transito

MORTES
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, em pesquisa divulgada no início de maio de 2017, a cada ano morrem 1,2 milhão de adolescentes dentre 10 e 19 anos por causas evitáveis no trânsito em todo o mundo. Não se está falando somente de mortes causadas com acidentes. Elas representam 115.302, mas a segunda maior causa é infecções respiratórias com 72.655 casos, depois os suicídios (67.149), as doenças diarréicas (63.575) e os afogamentos (57.125). Os números correspondem ao ano de 2015.

O Brasil de um modo geral apresenta uma taxa de 23,4 mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes. Os dados, também da OMS, coloca o país no quarto pior desempenho do continente americano atrás de Belize, República Dominicana e Venezuela.

Sim! 23,4 pessoas morrem a cada 100 mil habitantes no Brasil! Isso quando o assunto são as mortes diretas causadas por acidentes. A lista dos males indiretos causados pelo trânsito é igualmente assustadora. As mais conhecidas são poluições ambiental e sonora, estresse, obesidade, doenças psicológicas e cardiovasculares.

POLUIÇÃO AMBIENTAL
Segundo o Instituto Saúde e Sustentabilidade, órgão de pesquisa ligado a Universidade de São Paulo, é possível dizer que a poluição geradas pelos carros nas duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, mata mais que os acidentes de trânsito.

Em São Paulo, entre as causas mais prováveis de mortes estão doenças respiratórias, como asma, bronquite e câncer. Já no Rio, câncer de pulmão, infecções das vias aéreas e pneumonia. Um estudo recente sobre poluição ambiental mostra que os índices do Estado Fluminense ultrapassam em duas vezes o recomendado pela OMS e que 77% da poluição é gerada por automóveis.

Outro estudo da OMS mostra que a poluição atmosférica, causada em grande parte pela queima de combustíveis fósseis, causa a morte de mais de 7 milhões de pessoas por ano em todo o planeta. Só em São Paulo, estima-se que 5 mil pessoas morrem em decorrência da poluição. Para se ter uma ideia, seria como se essas vítimas fumassem três cigarros por dia.

No banco de dados do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP há diversos estudos que comprovam o impacto dos poluente sobre as vias respiratórias. “Os mecanismos de defesa do epitélio respiratório são afetados pelos agentes químicos, deixando a região mais suscetível a inflamações e infecções. Mais de 90% dessa poluição é gerada pelo trânsito”, detalha um dos pesquisadores da instituição, o médico epidemiologista Luiz Alberto Amador Pereira, em reportagem para o Jornal Folha de S. Paulo.

POLUIÇÃO SONORA
Os números que dizem respeito a poluição sonora também assustam. De todo ruído produzido pelas grandes cidades, 80% são provenientes dos veículos. Em reportagem do Jornal O Tempo, o professor de neurofisiologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Fernando Pimentel de Souza, afirma que a poluição advinda de alguns eixos de trânsito de Belo Horizonte, como as avenidas Afonso Pena e Amazonas, além do Anel Rodoviário, chegam a atingir 80 dB de ruído nos horários de pico. “Acima de 70 dB, o ruído provoca estresse, e, a partir de 75 dB, começa a ocorrer efeito degenerativo (perda de audição)”, explica Fernando.

Exposto cotidianamente nesse ambiente, os motoristas sofrem com perda de atenção, concentração e memória, dores de cabeça, gastrite, úlcera e surdez. Tudo isso também leva o motorista ao estresse.

ESTRESSE
As pesquisas mostram muito além do aumento desses impactos na vida das pessoas, elas revelam que o tréfego vem piorando ao longo dos anos. Segundo o Ibope/Movimento Nossa São Paulo, o tempo médio que o paulistano gastava para se deslocar entre a residência e o trabalho passou de uma hora e quarenta minutos em janeiro para duas horas em setembro de 2016.

A sensação de impotência causada no desgaste mental de ficar preso durante horas no trânsito gera ansiedade, obesidade, hipertensão, úlcera, constipação, diabetes, dermatite e até perda de libido. Registros em hospitais da capital paulista mostram também enfartes e trombose causados pelo trânsito.

Em entrevista para o Jornal O Estado de S. Paulo, o angiologista Nelson Hossne, cirurgião cardiovascular da Universidade Federal de São Paulo, afirma que passar muitas horas sentado em uma mesma posição também predispõe a um perigoso acúmulo de sangue nas veias das pernas. “O sangue acumulado pode levar à trombose venosa profunda em pessoas com predisposição para a doença, sobretudo no caso de mulheres que usam anticoncepcional ou fumam. Quanto maior for o tempo sem movimentar-se, maior será o risco de trombose. Esses trombos de sangue podem se deslocar até o pulmão, desencadeando embolia pulmonar e até morte”, explica Hossne.

EXEMPLO
O Brasil é um país que investe pouco na educação do trânsito ou em infraestruturas nas grandes cidades em comparação com o resto do mundo. Em compensação é um dos que mais arrecada com multas de trânsito. Um levantamento do Registro Nacional de Infrações de Trânsito — Renainf — constatou que a arrecadação com multas de trânsito aplicadas pelos órgãos federais de fiscalização anotou crescimento de 273% em cinco anos. Além disso, as infrações tiveram aumento de 195% no mesmo período.

Pelo levantamento, somente no ano de 2016 foram arrecadados R$ 888,8 milhões com multas, enquanto que em 2011 foram R$ 238,1 milhões. Disso, não se sabe com clareza quanto é revertido para ações educacionais no trânsito.

No Japão, onde 70% da receita gerada com multas são destinadas a educação no trânsito, as campanhas de conscientização são constantes. Em menos de dois anos com um trabalho educacional focado na redução do barulho, por exemplo, Tóquio chegou a ser a cidade mais barulhenta do mundo, a cidade caiu para o décimo lugar no ranking.

Para os brasileiros resta encontrar suas próprias maneiras e evitar os desgastes cotidianos nas ruas e avenidas das cidades. A Revista SINDLOC-MG separou 9 dicas do portal Boa Vontade para você praticar todos os dias!

1.
Atenção ao horário
Evite sair com atraso. A antecedência pode ser uma grande aliada.

2.
Caminhos alternativos
Escolha caminhos alternativos. Trafegar por avenidas movimentadas durante o horário de pico é aumentar as chances de aborrecimentos.

3.
Bons pensamentos
Mentalize boas coisas enquanto estiver no trânsito. Pensamentos ruins podem deixá-lo ainda mais irritado ou cansado.

4.
Boa sintonia
Ouça músicas agradáveis ou emissoras de rádio com conteúdo informativo e tranquilo, para diminuir o ritmo acelerado provocado pelo estresse.

5.
Alongue-se
Alongue-se segurando com uma mão a parte de baixo do banco e, com a outra, a cabeça. Force suavemente o movimento para o lado oposto. Assim, você alivia a tensão sobre o pescoço e uma possível dor de cabeça.

6.
Dê um tempo
Caso veja que realmente irá se atrasar, pare seu veículo em um local permitido e ligue para avisar que irá se atrasar. Isso irá tranquilizá-lo.

7.
Relaxe
Caso se depare com algo estressante, procure respirar fundo, fazendo movimento de inspiração e expiração, pois o oxigênio acalma e dá uma nova energia.

8.
Alimente-se bem
Não saia de casa sem fazer um lanche leve, pois fome estressa qualquer um; e não esqueça também de ir ao banheiro. É terrível dirigir com a bexiga cheia.

9.
Seja cordial
Se você fizer algo errado e outro motorista buzinar, peça desculpas. Falta educação no trânsito. Transforme a raiva em empatia. Deseje ao outro condutor uma boa viagem e que chegue em seu destino em segurança.

Por Leandro Lopes, da Revista SINDLOC-MG.

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