O que a reforma tributária deve aprovar para que as locadoras passem ilesas
Analistas do UBS BB calculam qual deveria ser a alíquota do imposto único para o setor não ser impactado
Os investidores de Localiza e Movida têm andado preocupados com o que pode vir na reforma tributária, simplesmente porque temem que o setor deixe de se beneficiar de uma boa economia em impostos que consegue gerar a partir da revenda de carros seminovos.
No entanto, uma conta feita por analistas do UBS BB, liderados por Alberto Valerio, mostra que o mais provável é que o efeito para as locadoras seja praticamente nulo, em um cenário que considera uma alíquota de 25,5% para o imposto sobre valor agregado que seria criado para substituir quinteto tributário formado por IPI, ICMS, ISS, PIS e Cofins — bem próximo da taxa de 25% que está proposta na PEC 45, o projeto que que está mais avançado em Brasília e que batiza o novo tributo de IBS (Imposto sobre Bens e Serviços).
Hoje, o que as locadoras pagam de PIS e Cofins na hora de comprar carros das montadoras vira um crédito que é usado para descontar do imposto pago no serviço de locação, resultando, no fim das contas, em uma isenção desses dois tributos.
Além disso, as empresas não pagam ICMS ao revender veículos com mais de 12 meses de uso. O que sobra para o setor recolher é o ISS, que tem uma alíquota que varia de 3% a 5%.
Se a reforma afetasse somente essa parte da equação — o que a locadoras recolhem no serviço de locação —, uma alíquota de 25,5% no IBS acabaria tendo um impacto significativo para o setor. Mas o UBS BB também considerou que é provável que os carros comprados para a frota fiquem mais baratos, gerando um efeito final mais equilibrado.
Hoje, os veículos vendidos pelas montadoras embutem uma carga tributária de 38% a 40% em média. Nas contas do UBS BB, se a reforma determinar uma alíquota de 25,5%, os preços dos carros podem ficar 25% menores. O que pode demandar uma redução de 11% nas diárias de locação, em um esforço do setor para manter o serviço atrativo ao cliente em comparação à compra do veículo próprio.
Mas as simulações não param por aí. O banco suíço estimou ainda qual deveria ser a alíquota do IBS para que o setor conseguisse manter o mesmo nível de spread entre o que gera de retorno sobre o capital investido (ROIC) e o custo de capital de terceiros (KD), que hoje tem uma média de 6 pontos percentuais.
Em uma cenário em que os valores das diárias não mudariam, a alíquota teria de ser de 29%.
Por outro lado, como os carros tendem a ficar 25% mais baratos, o yield mensal das locadoras (o quanto se ganha com o serviço em comparação ao que a empresa pagou para comprar o carro) teria de subir 0,8 p.p. na locação (hoje em 3,3%). Mas poderia ficar estável na gestão de frotas (hoje em 2,6%).
Já em uma situação em que os yields mensais ficariam inalterados, os preços das tarifas teriam uma queda de 25% em locação e de 7% em gestão de frotas. Nesse caso, a alíquota do imposto para equilibrar tudo teria de ser de 18%.
À parte da discussão da reforma tributária, o governo anunciou na semana passada uma redução dos impostos de IPI e Cofins que levarão uma queda de até 10,96% no preço de carros que valem até 120 mil.
Para o BB-BI, a medida anunciada poderá ter um impacto positivo para o setor de locação. Facilitaria a renovação da frota e a oferta de carros mais novos e econômicos para os clientes. Além disso, as locadoras poderão se beneficiar da redução dos custos que envolve ter um veículo, que incluem impostos (IPVA), manutenção e seguros. Contudo, a medida pode aumentar a concorrência. Pois tornaria mais acessível a compra de carros pelos consumidores finais.