A união faz a frota
A fusão entre Locamerica e Unidas coroa a fase de consolidação das locadoras. Com rivais cada vez mais fortes, a disputa promete ser acirrada
Porto, CEO da Locamerica: “Nosso foco será capturar as sinergias e as melhores práticas das duas operações” (Crédito: Luis Fernando Porto)
Se um analista de mercado, ao início de 2017, buscasse fazer algumas previsões para o ano, poucas seriam tão fáceis de acertar quanto alguma fusão relevante no setor de locação de veículos. Em dezembro de 2016, a Localiza, a maior empresa do mercado nacional, havia adquirido as operações brasileiras da americana Hertz por R$ 337 milhões. Outro negócio de grande porte, no entanto, levou mais tempo para acontecer do que muitos imaginavam. É certo que a Locamerica, em março, anunciou a compra da Auto Ricci, pagando R$ 329 milhões por 33,7% das ações, além de adquirir 2.022 carros da Panda de Itu, por R$ 47,7 milhões. Mas um negócio de mais vulto só aconteceu quando 2017 dava os seus últimos suspiros. No dia 28 de dezembro, a mesma Locamerica e a Unidas informaram ao mercado que vão fazer a fusão de suas operações, desde que o Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprove a transação. Com isso, ambas ultrapassarão a Movida para se tornarem a segunda maior do setor. A Localiza continuará na liderança, com 19,6% de participação em tamanho de frota.
O setor, no entanto, continuará relativamente pulverizado. As três maiores representantes do mercado, somadas, atingem 45% da frota brasileira para locação. Nos EUA, as gigantes Enterprise (dona das marcas Alamo, Enterprise e National), Hertz e Avis detêm mais de 90% do setor. Ou seja, a expectativa é de que mais consolidação virá pela frente. Mas a primeira fase de compras parece terminada, e a direção será movida para empresas menores e para a busca do crescimento orgânico. “Para a Locamerica, esse ciclo de consolidação está se fechando neste momento”, disse à DINHEIRO Luis Fernando Porto, fundador e CEO da empresa mineira. “Agora, nosso foco será capturar as sinergias e as melhores práticas das duas operações, logo que houver a aprovação do Cade.” Segundo o empresário, durante os estudos para fazer a transação, foram percebidas mais oportunidades de ganhos com a união das empresas do que se imaginava anteriormente. Uma consultoria será contratada para ajudar nessa missão.
O trabalho será grande. Depois das últimas aquisições, a frota da Locamerica terá quadruplicado de tamanho em menos de dois anos. As operações combinadas da Locamerica-Unidas serão de 100 mil carros, 23 lojas de locação de veículos, 72 lojas de seminovos e uma presença em todos os Estados. O faturamento combinado, de janeiro a setembro de 2017, superou os R$ 2 bilhões, assim como o valor de mercado das companhias. O negócio foi fechado com a compra de 40,3% do capital da Unidas pela Locamerica, por R$ 398,6 milhões. Considerando a troca de ações entre os controladores das duas empresas, a transação se aproxima de R$ 1 bilhão. “Estão saindo os sócios financistas e ficando gente do negócio”, diz o analista Alvaro Salgado Frasson, da Eleven Financial. De fato, com a transação, três fundos aproveitaram para vender as suas posições na Unidas, o Vinci, o Kinea e o Gávea. Nos dias seguintes, outros investidores também buscaram recompensar os seus investimentos. Um deles, o Banco Votorantim vendeu 4,91% das ações. Agora, para quem acompanha os movimentos do setor, resta esperar os próximos lances desse jogo. Depois de Localiza e Locamerica fortalecerem as suas posições, a expectativa agora está com a Movida. Um alvo claro é a Ouro Verde, a atual quarta colocada do setor. Pode ser uma boa previsão para 2018.