Elétricos chineses derrubam preços de veículos

Elétricos chineses derrubam preços de veículos e ampliam pressão sobre Localiza

Na última quarta-feira de fevereiro, a chinesa BYD abriu uma live para anunciar seu carro de entrada para o mercado de elétricos brasileiro.

Na audiência simultânea para 10 mil pessoas, cerca de 6,2 mil desembolsaram, previamente, R$ 10 mil para reservar o automóvel – e isso, antes de saberem o preço.

Havia uma outra turma de olho na live, estrelada por Luciano Huck: os analistas de mercado e gestores locais de fundos de ações. Apesar dos elétricos serem cada dia mais frequentes na avenida Faria Lima, onde eles trabalham, a curiosidade era, basicamente, profissional.

Nos dias que sucederam a ação, o pessoal do sell-side especulava sobre o preço final do novo carro chinês. A questão girava em torno do impacto do lançamento para o mercado de novos e de seminovos. E, consequentemente, o peso do lançamento na equação financeira de curto prazo de uma das ‘queridinhas’ dos investidores, a Localiza (RENT3).

“O preço, no fim, ficou mais alto do que eu esperava”, disse, logo após o anúncio da BYD, Alexandre Sabanai. Ele é responsável pelos fundos de ações da Perfin, gestora com um cheque de R$ 29 bilhões. “Para a Localiza foi um alívio”, afirmou. Sabanai, alguns gestores e outros analistas esperavam por um preço abaixo de R$ 100 mil, o que alçaria o carro da BYD ao posto de mais barato da categoria.

Mas o preço final em R$ 115 mil agradou. “(Com esse preço), a BYD pressiona menos a depreciação do estoque da Localiza de usados, similares ou compatíveis com o Dolphi Mini”, concluiu Sabanai.

Localiza: seminovos pressionam RENT3

Fundada em 1973 por Salim Mattar, a Localiza,  ganha a vida com locação de carros. Esse negócio registrou no ano passado receita de R$ 14,9 bilhões, alta de 26% frente 2022.

Mas, nos últimos 12 meses, ela vem sofrendo com o gerenciamento de sua frota, a maior dentre as locadoras, com 657.612 carros.

Para sustentar a posição de ‘queridinha’ do mercado, os investidores querem que a Localiza compre as pechinchas diretamente das montadoras. O que ela faz, geralmente com um deságio de 20% na comparação com um cliente final.

Os investidores também esperam que a Localiza fature com os aluguéis. E, em menos de dois anos, consiga repassar os veículos por meio de sua rede de 215 pontos de vendas, com a menor depreciação possível.

Mas é aí que mora o problema.

“A Localiza é a melhor empresa do setor. Tem um endividamento baixo, na comparação com a Movida, sua concorrente da bolsa. E sempre teve essa gestão de compra e de venda de carros funcionando como um reloginho”, avalia Danielle Lopes, sócia e líder de pesquisa da Nord Reseach

“Mas, nos últimos tempos, ela tem sofrido com a oscilação nos preços, que é uma contingência de mercado. Tem comprado os carros por um preço, mas eles estão estão caindo de preço e a depreciação na venda é maior”, diz a analista.

Relógio da Localiza

O relógio da Localiza na gestão de seu principal ativo começou a sair do compasso no ano passado. Em junho, o governo lançou seu primeiro pacote de incentivo automobilístico para redução de preços dos carros populares.

De lá para cá, os preço dos carros vem caindo. Em 2023, tiveram variação negativa de 4,74%, segundo a tabela Fipe, índice que baliza, por exemplo, o cálculo para a cobrança do IPVA.

De acordo com o Itaú BBA, que acompanha a evolução do setor monitorando um centena de bases de dados, a depreciação dos automóveis após o primeiro ano de uso pulou de 15% para 16% no começo de março.

Segundo relatório, assinado por Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano, outro fator de pressão no setor vem das montadoras chinesas, sobretudo da BYD. A empresa estaria pressionando os demais concorrentes com sua política agressiva de preços.

“Nossas verificações de canal indicam que as montadoras aumentaram seus incentivos no primeiro trimestre de 2024 para impulsionar as vendas, afetando os preços dos seminovos. E os elétricos chineses podem causar alguns volatilidade  adicional à medida que as demais montadoras ajustam seus preços para permanecerem competitivos”, destaca.

Efeito BYD

Por elétricas chinesas, o Itaú BBA quer dizer principalmente a BYD. A montadora, de total desconhecida, é hoje a que mais cresce no País.

Em 2024, segundo a Fenabrave, com dados de janeiro e fevereiro, a montadora alcançou participação de 3,6% do mercado de automóveis. Vendeu, assim, 8.716 unidades e ocupa a décima posição no ranking das marcas, logo atrás da Honda e da Nissan.

“A BYD está mexendo com todo o mercado. Ao jogar o preço para baixo, concorrentes como CAOA Chery, Jeep, todos estão oferecendo descontos”, diz Alexandre Sabanai.

Danielle Lopes, da Nord, concorda. “Em um setor organizado como o automobilístico, a entrada de um novo player que mexe com os preços causa um banho de sangue”, diz.

RENT3 cai 14% em 2024

Não à toa, as ações da Localiza (RENT3) têm sofrido na B3

. Neste ano, caem 14%, negociada na casa dos R$ 54. Boa parte dos analistas sell-side colocam a companhia como recomendação neutra para compra.

Mais recentemente, os impactos desse movimento se transformou no ponto de atenção no balanço da Localiza do quarto trimestre do ano passado, divulgado na última segunda-feira (13).

Os analistas repercutiram o fato da empresa ter alcançado receita líquida consolidada de R$ 7,9 bilhões entre os meses de outubro, novembro e dezembro. Assim, a cifra representou alta de 34,4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

E colocaram como ponto de atenção os resultados da divisão de seminovos, justamente a que trata desse equilíbrio de compra e venda de carros.

A margem Ebitda dos seminovos, que mede o lucro da empresa descontando o pagamento de impostos, juros, depreciação e amortização na compra e venda, ficou em 3,5%. Mas essa conta fechou no azul graças a uma alteração na contabilidade da empresa de última hora.

A Localiza retirou do setor de seminovos os custos com a preparação dos carros para a revenda em suas lojas, um gasto que sempre foi computado pela área em dificuldade. Se tivesse mantido essa gasto, como sempre fez até então, o Ebitida do setor seria negativo em 1,7%.

“Essa foi uma tentativa de, no futuro, quando alguém for ler esse balanço de 2023, ele ficar mais bonitinho. Mas, neste momento, os analistas não caíram”, aponta Mateus Haag, da Guide, que participou da teleconferência.

“O cenário deve seguir desafiador para o seminovos (da Localiza)”, escreveram Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Marcelo Arazi, do BTG.

Pico de oscilação nos preços

Questionado, o diretor financeiro da Localiza reconhece o problema.

Segundo ele, a questão que envolve a oscilação de preços no mercado de automóveis é transitória. Mas é difícil prever por quanto tempo esse processo de depreciação vai se manter.

“É muito preliminar pra gente falar de qualquer questão de pico de depreciação e até quando ela vai ocorrer”, afirmou, durante a teleconferência.

Para Bruno Lasansky, CEO da Localiza, esse movimento é gerado por fatores que vão desde um maior volume de vendas no mercado em geral, quanto de maior disponibilidade de crédito e poder de compra do brasileiro.

E tem as montadoras asiáticas. “Mas elas vão enfrentar um desafio que é a volta do imposto sobre os elétricos importados”, diz.

Carros elétricos e híbridos que não são produzidos no Brasil voltaram a pagar imposto de importação neste ano. A alíquota será de 35% para todas as categorias de veículos eletrificados, mas será cobrada de forma gradual até 2026.

Problema transitório da Localiza, diz banco

O mercado parece concordar com a direção da Localiza.

Um dia após a publicação do balanço, as ações da companhia, a RENT3, subiram acima de 1%. E o Itaú BBA, em relatório, pontou que acredita na capacidade de reação da empresa, e de ganhos para suas ações.

Segundo os analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano, “qualquer faísca poderia acender um fogo” das ações da empresa na bolsa.

“Nossas interações recentes com investidores locais indicam baixa convicção na tese (da Localiza). Não é de surpreender que o posicionamento nas ações atingiu os seus mínimos históricos”, escrevem.

“Dito isso, sentimos que os investidores estão ansiosos por retornar. O que significa que qualquer notícia positiva fluindo sobre os preços dos automóveis poderia desencadear uma entrada significativa de capital nas ações”, acreditam.

Embora animados, os analistas não esperam por um solução tão cedo para o problema da Localiza. “Ainda não há descanso para seminovos. Acreditamos que os preços dos seminovos provavelmente permanecerão voláteis nos próximos seis meses”.

Fonte: inteligenciafinanceira.com.br

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