Busca por carros com mais de nove anos de uso cresce 52%
Para cada carro novo financiado de janeiro a maio deste ano, praticamente dois usados foram vendidos. Sem IPI reduzido ou aquelas promoções de zero de entrada e prestação sem juros que as concessionárias tanto alardearam para os zero-quilômetro, os carros mais antigos têm disparado na preferência. Em maio deste ano, enquanto a demanda pelos novos cresceu 12,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, a procura pelos modelos com mais de quatro anos de uso cresceu 25%. Já a busca pelos chamados velhinhos, de 9 a 12 anos de uso, registrou um aumento de 52%.
Os dados foram levantados pela B3 (Bolsa, Brasil e Balcão). Uma combinação de atividades da BM&FBovespa e da Cetip, a empresa opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), que reúne a base privada de informações das restrições financeiras de veículos dados como garantia em operações de crédito em todo o Brasil.
O professor de economia Felipe Leroy, do Ibmec, explica que o aquecimento do mercado de usados – tanto veículos como outros bens duráveis – está diretamente ligado à insegurança das famílias. “São 14 milhões de desempregados, uma taxa recorde que afeta o perfil da compra. Sem saber se terão emprego garantido, os consumidores evitam dívidas de longo prazo e preferem comprar um bem mais barato, pois assim podem financiar por menos tempo”, justifica.
Leroy destaca ainda que, em tempos de incerteza, o preço do carro não é o único fator a ser considerado. “As pessoas pensam muito no custo do pacote todo. Carros usados têm um IPVA e um seguro mais em conta”, ressalta.
É o que o comerciante Rafael Igino, 30, está buscando. “O novo deprecia demais. No usado, eu consigo pagar uma prestação mais baixa, sem falar no IPVA. A alíquota é a mesma de 4% para todo carro, mas é melhor pagar 4% em cima de um valor menor”, pondera.
Proprietário da FlexCar e presidente interino da Associação dos Revendedores de Veículos de Minas Gerais (Assovemg), Rodrigo Souki afirma que, no geral, as vendas dos usados têm aumentado muito nos últimos dois anos, o que pode ser explicado pela volta da alíquota cheia do IPI e pelo aumento dos preços dos carros zero-quilômetro. “Quando o governo concedeu isenções no IPI, o mercado de usados retraiu, e os preços caíram muito. Há mais ou menos um ano e meio, os preços dos novos subiram em média 25%”, explica o empresário.
Segundo Souki, também tem muita gente trocando o carro por outro mais velho para se capitalizar. “A pessoa vende um carro mais novo, fica com o dinheiro e financia um modelo mais antigo”, justifica. Ele lembra ainda que a pesquisa da B3 reflete o cenário dos veículos financiados, por isso mostra um aumento mais acentuado para carros acima de quatro anos de uso. “Mas se formos olhar as vendas à vista, percebemos que os seminovos de até três anos têm sido muito procurados”, afirma o empresário.
Em maio deste ano, o Portal Auto Shopping, que reúne mais de 20 lojas de usados, registrou um aumento de 17% nas vendas. A maior parte foi para carros acima de seis anos de uso. “Nos últimos 12 meses, 38% dos carros vendidos tinham entre seis e dez anos de uso. Em segundo lugar, vieram os seminovos de até três anos, com 29%”, afirma a gerente geral Rosane Cristina Pereira.
InstaCar. Até o meio do ano que vem, BH entrará na plataforma InstaCar que, em até uma hora, oferta o veículo para mais de 1.500 lojas do Brasil. O vendedor recebe várias ofertas e escolhe a melhor.
Setor ensaia recuperação em Minas
Nos cinco primeiros meses deste ano, as vendas de carros novos em Minas Gerais caíram 19,7%. Mas, em maio, o setor começou a se recuperar e foi 17,3% melhor do que em abril, trazendo um pouco de otimismo. “Com o avanço gradual na média de vendas diárias, devemos encerrar 2017 com crescimento moderado, apesar da crise. A economia voltou a crescer depois de oito trimestres em queda”, afirma o presidente do Sincodiv, Camilo Lucian.
É preciso ter cuidado na hora da compra
Se o mercado de usados está mais aquecido, é preciso ficar atento na hora de comprar ou vender o carro. Fatores como quilometragem, cheiro de cigarro, arranhão na lataria e estofado rasgado influenciam muito na avaliação. Mas, segundo o diretor da AutoAvaliar, empresa de gestão de vendas e estoque do varejo automobilístico, Daniel Nino, o que mais pesa é o potencial de revenda. “Quando o carro é mais fácil de vender, ele é mais valorizado. Isso inclui, por exemplo, um custo de seguro razoável e o histórico de manutenção baixo, como modelos que não tiveram registro de recall”, destaca.
Para quem vai comprar, Nino destaca a importância de checar a documentação e abater do preço possíveis gastos para regularização. Para quem vai vender, ele lembra que muitas vezes vale a pena consertar um amassado. “Pode custar menos que o desconto a ser dado ao comprador”, diz.
Por Queila Ariadne, do Jornal O Tempo.