Governo prepara medidas para socorrer as montadoras
O governo federal discute com o setor automotivo medidas para destravar o crédito na compra de veículos e pode anunciar, na próxima semana, a ampliação do prazo de financiamento para até 60 meses. O governo pode flexibilizar a exigência para que os bancos provisionem 75% do valor dos financiamentos quando o prazo atinge cinco anos.
Entre as propostas em discussão também estão uma forma de facilitar a retomada dos veículos pelos bancos em caso de inadimplência e criação de estímulos para a exigência de um pagamento menor de entrada. Não há limite mínimo para a entrada, mas na prática os bancos exigem 40% do valor do veículo. Outra medida em discussão é a criação de um fundo garantidor, com aportes das instituições financeiras, que deve complementar as garantias oferecidas pelo cliente.
O governo descartou novos cortes de impostos. Destravar o crédito é a saída apontada pela Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea) para reverter a queda de 2,1% nas vendas no primeiro trimestre. Com o freio do mercado interno e dificuldades nas exportações, as montadoras vêm adotando férias coletivas, demissões e suspensões temporárias do contrato de trabalho.
“O que colocamos para o governo nas nossas avaliações de conjuntura é que estamos sofrendo nas vendas em função da seletividade do crédito”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Moan. “Estamos alertando o governo e toda a sociedade que, se os bancos não destravarem o crédito, nossa performance será ruim”, afirmou. Tudo isso no momento em que as exportações para a Argentina, principal mercado dos carros brasileiros, estão em queda.
Um primeiro passo para tentar baixar os estoques foi dado no início do mês, quando a Caixa pré-aprovou o crédito de 4,5 milhões de correntistas para compra de carros. Moan disse que o setor não tem negociado, ainda, a prorrogação das alíquotas reduzidas de IPI. A previsão é que elas voltem a subir em 1° de julho. “Eu prefiro trabalhar agora no crédito. Eu preciso chegar vivo até junho”, afirmou.
O governo também sinalizou que vai rever a norma do Conselho Nacional de Trânsito que obriga a instalação de rastreadores nos veículos novos. A medida levaria a um aumento dos custos das montadores e do preço do carro para os consumidores, segundo a Anfavea.
Moan disse que o aparelho indicado pelo Contran estaria defasado. Os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento apoiam o pedido do setor. O governo também concordou em estudar um plano de estabilização do emprego para momentos de crise.
Produção
Sob impacto da queda das vendas aos argentinos e também no mercado interno, a produção brasileira de veículos foi 8,4% menor no primeiro trimestre deste ano em relação a 2013 e somou 789,8 mil unidades, incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
Segundo o vice-presidente da Ford do Brasil e América do Sul, Rogelio Golfarb, metade dessa queda é resultado do declínio das encomendas argentinas.
“A outra parcela é dividida entre a redução das vendas locais e os altos estoques de veículos”, calcula Golfarb. No fim de março, havia nos pátios das fábricas e revendas 387,1 mil veículos encalhados, o equivalente a quase 50 dias de vendas.
Em razão desse cenário, nas últimas semanas várias montadoras no país, como Volkswagen, Fiat, General Motors, PSA Peugeot Citroën e Scania anunciaram programas de lay-off (suspensão temporária de contratos de trabalho) e férias coletivas para reduzir a produção.
A Mercedes-Benz abriu um programa de demissão voluntária (PDV) alegando ter um excedente de 2 mil trabalhadores na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).
Algumas das montadoras brasileiras destinam até 30% de sua produção ao mercado argentino, informa Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Além do menor volume de carros exportados, as vendas internas também estão em queda. De janeiro até quarta-feira, foram vendidos no mercado brasileiro 1,023 milhão de veículos, volume 5,3% inferior ao de igual período do ano passado.
Da Época Negócios.