Iphone ou carro de luxo, alugado e até quebrado, é usado para causar uma boa impressão
Dois anúncios fazem sucesso e estão sendo muito compartilhados nas redes sociais e no WhatsApp. Marco Aurélio Constantine divulgou, em um grupo de trocas e vendas no Facebook, o aluguel de um iPhone 5s por R$ 150, a diária, para que quiser “curtir as baladas”. No post, ele lembra que a “primeira impressão é a que ficará”. Em outra postagem compartilhada no site, Bárbara Fernands resolveu vender um aparelho do mesmo modelo, dourado, mas com defeito, por R$ 400. Segundo ela, o celular não liga, mas é “ótimo para levar para a balada e dizer que descarregou”.
O aluguel de smartphones não é novidade, porém, o uso para “ostentação”, sim. A empresa BR Mobile loca celulares e tablets há três anos e meio, em todo o país, mas para empresas que utilizam os aparelhos em reuniões e outros eventos. Guto Ramos, um dos sócios da companhia, diz que parou de alugar os dispositivos para pessoas físicas após várias tentativas de golpes. Ele desaconselha que as pessoas pensem em ganhar um dinheiro extra com seus smartphones:
— É um risco muito grande. O iPhone é um bem desejado por todo mundo. Você acaba encontrando pessoas que querem se aproveitar disso e tirar vantagem.
No Brasil, o sonho de ter um iPhone é alimentado por tanta gente, que o modelo 4s é vendido em 23 parcelas de R$ 59, na Casas Bahia, ou seja, os consumidores ficarão quase dois anos — período em que versões mais atuais do iPhone serão lançadas — comprometidos com as parcelas da compra do aparelho.
Para quem tem um smartphone de outra marca e quer se sentir um pouquinho como dono de um iPhone, alguns aplicativos prometem deixar sistemas operacionais, como o Android, com o visual parecido com iOS, da Apple.
Sílvia Borges, professora de Antropologia do Consumo da ESPM Rio, explica que a “necessidade” de algumas pessoas de usar um iPhone a qualquer custo, mesmo quebrado ou alugado, é explicada porque certos bens e marcas são vistos como importantes para participar de grupos sociais:
— O iPhone se transformou nesse objeto. Começou sendo exclusivo para pessoas de determinadas classes sociais e que gostam da marca, Apple, mas passou a ser um objeto desejado por diferentes grupos sociais. O caso da venda do aparelho quebrado mostra que o desejo não é apenas pelas funções do celular, mas pelo que ele simboliza.
Bolsas, brincos e vestidos para fechar o visual
Não basta um iPhone para arrasar na noite. Também é possível alugar vestidos, bolsas e até brincos de grife. A bolsa Speedy 30 Darmier Azur, da Louis Vuitton, custa R$ 2.580. Para dar umas voltinhas com uma por aí, o aluguel sai por R$ 129 (semana) ou R$ 239 (mês) no site BoBags. Na página virtual BolsaEtc., a locação do modelo custa R$ 110 (por uma semana) ou R$ 225 (por mês). Criadora do site, Fernanda Belém diz que o número de clientes cresce a cada dia:
— Ninguém admite, mas todos querem a oportunidade de usar um produto de luxo.
A universitária Alexia Chlamtac, de 20 anos, já alugou três bolsas no BoBags:
— Foi um test drive. Isso democratiza o mercado de luxo.
O Dress&Go também aluga roupas, bolsas e brincos. Um vestido de R$ 3.770, da estilista Carina Duek, é oferecido por R$ 477 (87% mais barato).
Aluguel de carro de luxo também cresce
Outro modo de mostrar o status social é o aluguel de carros de luxo. Dailton Moura, representante comercial da Gratas Transportes, diz que algumas pessoas buscam os carrões para causar uma boa impressão.
— Existe esse público, sim, mesmo que ainda pequeno. Nosso período mínimo de aluguel é de oito horas, que custa, em média, entre R$ 1.200 e R$ 4.500. Se a pessoa escolher um Mercedes, último modelo, por exemplo, vai pagar na faixa de R$ 4 mil — explica.
A festa, porém, tem hora para terminar. Caso contrário, a ressaca fica maior, já que cada hora extra do aluguel corresponde a 10% do valor final. Segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) a demanda por locação de veículos de luxo, com valor de avaliação acima de R$ 100 mil, e premiums (SUVs ou utilitários) representa 11% do setor e vem crescendo.
Eles dão namorada e casa pelo smartphone
Não é somente no Brasil que as pessoas fazem quase tudo para conseguir um iPhone próprio. Em setembro, quando a Apple lançou seus novos aparelhos nos Estados Unidos, um chinês resolveu “alugar” a namorada, Xiao, a fim de juntar dinheiro para adquirir o iPhone 6. Wei Chu, de 25 anos, chegou a segurar uma placa nas ruas anunciando a oferta. Mas, segundo ele, a garota seria apenas uma acompanhante para jantar ou estudar. Nada além disso. Pelo serviço, Chu cobrava o equivalente a R$ 4 por hora pela companhia da moça. Quem quisesse passar o dia inteiro com ela, desembolsaria R$ 20. Havia também uma oferta de serviço mensal: R$ 200.
Nesta semana, um homem resolveu trocar a própria casa — com três quartos, garagem para dois carros, dois andares e dois banheiros, em Detroit, nos Estados Unidos — pelo aparelho da Apple. Ele tenta se desfazer do imóvel desde junho, época em que pedia US$ 5 mil pela propriedade. Como o negócio não se concretizou, ele baixou o preço do imóvel para US$ 3 mil, mas, como alternativa, aceita um iPhone 6 ou um iPhone 6 Plus ou, quem sabe, um iPad de 32 GB.
Fonte: Jornal de Hoje