O que a classe C representa para o Brasil

Classe C - Brasil
Classe C – Brasil
 
Com uma fatia de mais de 40% da população, a classe C brasileira virou alvo de toda a companhia que quer aumentar seu volume de vendas no país. Mas há tempos que o setor reúne histórias de empreendedorismo esucesso. E a carioca Leila Velez, cofundadora da rede de salões Beleza Natural faz questão de lembrar disso: “Me incomoda o fato de que parece que o Brasil descobriu a classe C só agora. Ela sempre esteve ali”.
A empresária participou de um painel que discutiu o assunto durante o Womens Forum Brazil. O evento reuniu 300 participantes nos dias 4 e 5 de junho, em São Paulo.
Leila fundou, em 1993, ao lado de mais três sócios – entre eles Heloísa Assis, a Zica – o Instituto Beleza Natural, focado no público de baixa renda com cabelos cacheados.
“Quando nós começamos e falávamos em abrir um salão de beleza para a baixa renda, todo mundo dizia que estávamos loucas, que o negócio não ia dar certo”, contou. Hoje, a rede tem 12 unidades e atende 80 mil pessoas, em média – e faz planos de abrir 120 lojas nos próximos cinco anos.
Para Leila, que trabalhou na rede McDonald´s antes de decidir investir no próprio negócio, a dificuldade das grandes empresas em se comunicar com essa fatia do público é o desconhecimento. “Quem está no topo das organizações não conhece essa realidade. Acha que basta fazer um produto um pouco pior e mais barato que vai conseguir atender a classe C”, disse.
“Boa parte do nosso sucesso no Beleza Natural é que a gente sempre quis dar o melhor para as mulheres”, disse. Apesar de o salão ter começado em um local muito pequeno, Leila disse que o uniforme sempre esteve impecável, havia café passado e muita disposição para atender.
Para Pablo Brenner, sócio do fundo Prospéritas Capital Partners, do Uruguai, a chave para antender a classe C é buscar um empreendedor que conheça essa realidade. “O investidor já sabe que há uma oportunidade nesse mercado e que só terá sucesso quem conhecer bem o segmento”, disse. “É importante buscar um empreendedor apaixonado e que tenha a habilidade de executar suas ideias.”
Já Juliano Seabra, diretor de educação e cultura empreendedora do instituto Endeavor, contou que a organização tinha a fama de ser muito elitista, mas que houve uma mudança de paradigma. “De algum tempo para cá, decidimos aumentar o impacto do nosso programa, com o desafio de levar histórias de empreendedorismo para esse público”, disse. Para ele, o maior desafio do Endeavor é promover mais acesso à informação para essas pessoas. “O Brasil tem uma das piores taxas do mundo de acesso à educação empreendedora. E a gente sabe que o empreendedor que tem um nível educacional melhor consegue ter mais sucesso nos seus projetos.”
Negócios sociais
O Women´s Forum Brazil também discutiu modelos de negócios sociais voltados para a base da pirâmide. A carioca Alice Freitas, executiva da rede Asta, falou sobre o modelo de negócio que hoje reúne 50 grupos de trabalho com mulheres de regiões de baixo poder aquisitivo. “Queríamos criar acesso aos produtos para gerar consumo”, contou.
A Asta adotou o modelo de venda direta por catálogo como uma maneira de ampliar o faturamento da rede e garantir a sustentabilidade do negócio.
Hoje, são 800 revendedoras que, em 2011, asseguraram um faturamento de R$ 700 mil ao empreendimento. Segundo Alice, a rede aposta agora em um novo modelo de negócio que tem crescido a uma taxa de 50% ao mês: recolher resíduos de empresas, como papel e plástico, desenvolver produtos a partir dessa matéria-prima e revender para as empresas.
Para Anamaria Schindler, copresidente da Ashoka Internacional, o modelo de negócios sociais ainda é incipiente no Brasil. “Há uma geração nova disposta a ganhar um pouco menos, mas gerar valor social para os seus negócios. O conceito e a prática ainda são muito novos”, disse. Para ela, os “negócios do bem” precisam estar alicerçados em um quatro princípios integrados: empreendedorismo, acesso à educação, fomento financeiro e transformação social.
O painel que discutiu modelos de negócios sociais teve a apresentação do case da L’Oréal, que transformou mulheres no Complexo do Alemão em microdistribuidoras de sua linha de produtos profissionais para atender a grande concentração de salões de beleza da comunidade. “Identificamos mulheres empreendedoras na comunidade e construímos um modelo de negócio que ficou bom para elas e para a empresa também, investindo na educação profissional das cabeleireiras da comunidade”, disse Weider Cristian Campos, gerente de novos negócios da L’Oréal.
Light, companhia de energia do Rio de Janeiro, também apresentou o modelo de estímulo à formalização no consumo de luz nas comunidades pacificadas da cidade. Segundo Fernanda Mayrink, gerente de serviços comunitários, a companhia decidiu criar um programa de troca de lixo reciclado por créditos no consumo de energia. Antes do programa, só na comunidade do Santa Marta, havia 1.600 casas, sendo que só 80 tinham a rede de luz regularizada e 24 pagavam a conta em dia – a receita na região era de R$ 650 por mês. Hoje, todas as unidades estão regularizadas, e a receita subiu para R$ 800 mil mensais.
Créditos: Pequenas Empresas e Grandes Negócios

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