‘Carro voador’ traça futuro da mobilidade aérea
Quem se deparava com a aeronave desenvolvida pela Hyundai em parceria com a Uber não entendia bem o porquê de ser chamada “carro voador”. Traça futuro da mobilidade aérea.
O veículo exibido no início de 2020 em Las Vegas, na última edição presencial da feira de tecnologia CES, parecia mais um misto de drone com avião comercial.
Passados 18 meses da apresentação, já é possível chamar aquele veículo de futuro.
O nome oficial é eVTOL, sigla em inglês para veículo elétrico com pouso e decolagem vertical. Não é um automóvel que voa como os vistos no desenho “Os Jetsons” (1962) ou no filme “Blade Runner” (1984), mas as características de uso e os custos mais baixos em comparação a outras aeronaves justificam o apelido.
O projeto de Hyundai e Uber é apenas um entre uma centena de veículos apresentados mundo afora. A versão brasileira foi desenvolvida pela Embraer e já tem encomendas.
A Eve Urban Air Mobility, startup ligada à empresa brasileira de aviação, confirmou acordos internacionais. Um deles foi firmado com a Helisul Aviation, uma das maiores operadoras de helicópteros da América Latina. O contrato prevê a entrega de até 50 eVTOLs a partir de 2026.
No mesmo ano, a norte-americana Blade Air Mobility vai receber 60 “carros voadores” da Embraer e vai pagar por hora de voo utilizada.
Apesar da euforia e das encomendas que se multiplicam, imaginar um carro voador aterrissando no estacionamento do supermercado é ainda um sonho distante.
Os caminhos convergem para uma opção mais em conta e menos ruidosa do que as existentes hoje de deslocamento aéreo em áreas urbanas.
Vinicius Valarini, gerente de vendas para a divisão AD&M (Aeroespacial, Defesa e Militar) da TE Connectivity, diz que versatilidade e facilidade operacional são os principais atrativos. “Não é algo feito nem para viagens entre estados, é um novo mercado.”
Valarini explica que a evolução tecnológica é veloz, mas ainda será preciso criar regras para uso na cidade.
Trata-se de uma aeronave maior que um helicóptero, mas que trafega em altitudes inferiores, tem baixa autonomia de voo e vai precisar de novas rotas de operação.
O gerente de vendas calcula que, quando ganhar escala de produção, um eVTOL para duas ou quatro pessoas poderá custar entre R$ 400 mil e R$ 500 mil. Um helicóptero de mesmo porte tem preços entre R$ 600 mil e R$ 800 mil, calcula o especialista.
Ou seja: em um futuro não muito distante, uma aeronave elétrica deverá ser vendida pelo mesmo valor de um SUV médio de luxo, como o Mercedes GLC 220 (R$ 440 mil)
Mas Alexandre Vargha, pesquisador da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e presidente do Comitê Auto e Mobilidade da Abinc (Associação Brasileira de Internet das Coisas), lembra que uma aeronave está submetida a condições muito mais severas de uso. Vai ter de seguir uma trajetória vetorizada, lidar com lufadas de ar e oferecer salvaguardas que garantam a segurança no uso. É um mundo muito mais complexo do que o das quatro rodas sobre o asfalto.
“Não é qualquer pessoa que vai pilotar, será necessário ter um treinamento complexo, como o de pilotos de helicóptero, e não será possível sair de casa decolando”, diz Vargha.
Afora todas as questões ligadas à tecnologia, o mais importante no momento é estabelecer as regras.
“O lançamento desse novo meio de transporte envolve vários tipos de regulação e cria novas demandas de infraestrutura e de uso do espaço aéreo urbano brasileiro”, diz a advogada Cristiana Secco, especialista em aviação e sócia do escritório Albuquerque Melo.
A advogada afirma que, apesar dos avanços em alguns países, ainda não há um conjunto regulatório consistente em relação ao eVTOL.
“É certo que demandará a criação de regras para certificação dos veículos e seus operadores, práticas de segurança, controle antirruído e aprimoramento do sistema de controle de tráfego aéreo urbano para garantir rotas de navegação seguras.”
Entre todas as dúvidas, há uma certeza. O carro voador será muito diferente do imaginado na ficção e também não terá nada a ver com protótipos que se deslocam por ruas, mas que também precisam de pista para decolagem e asas retráteis.
O futuro da aviação urbana será dominado por aeronaves silenciosas e elétricas.
Fonte: www1.folha.uol.com.br