BH: Ruas não comportam progresso
Trafegar em bairros tradicionais de Belo Horizonte exige cada vez mais atenção e paciência de motoristas e pedestres. Além das ruas estreitas, algumas com menos de dez metros de largura, e muitas vezes de mão dupla, a falta de sinalização deixa a vida de quem precisa passar pelas vias ainda mais complicada. E o pior é que, com a verticalização dessas regiões e o incremento do comércio em áreas antes restritas a residências, esses corredores absorvem cada vez mais veículos leves e pesados, acentuando o problema.
O bairro Sagrada Família, na região Leste, tem exemplos de sobra de equívocos na gestão do tráfego. A rua São Roque tem oito metros de largura, é de mão dupla, recebe ônibus, e tem estacionamento permitido nos dois sentidos. Soma-se ao contexto o fato de que muitos motoristas param em fila dupla, principalmente os que fazem carga e descarga. Para circular no local, condutores precisam entrar em um jogo de passe e deixe passar o tempo todo. O processo se repete quase que a cada veículo com que se encontra em sentido contrário.
A situação é a mesma nas ruas São Joaquim e São Luiz, que têm aproximadamente oito metros de largura, são de mão dupla e têm estacionamentos dos dois lados. Segundo a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), não é permitido estacionar nos dois lados de alguns trechos da São Luiz, e o grande fluxo na São Roque é consequência de um supermercado. Não há demanda prevista para a São Luiz.
Para quem não conhece a região, se deslocar fica ainda mais difícil. “Vim visitar um amigo e estou meio perdido, é difícil saber se estou na direção certa ou entrei na contramão”, diz o administrador Pedro Henrique Silveira, 36.
No bairro Santa Tereza, na mesma região, o problema acontece em qualquer hora do dia, já que, em uma das partes mais boêmias da cidade, o movimento em bares e restaurantes é um complicador. O vendedor Wesley Carvalho, 51, aponta como vias mais críticas as ruas Pouso Alegre, Amianto, Quimberlita e Raimundo Nonato, que, na sua avaliação, deveriam ser transformadas em mão única. “Andar por aqui está cada vez mais difícil, seja a pé ou de carro”, reclamou.
O maior problema, segundo os frequentadores, é o grande fluxo de pessoas de fora do bairro. “Aqui tem comércio e escolas, e todo mundo vem de carro, é uma confusão danada”, avalia a comerciante Rosane Neves, 40, que é dona de um salão de beleza na rua Pouso Alegre. “As clientes reclamam que é impossível conseguir vaga”, conclui. (Com Camila Bastos)
BHTrans
Padrão. De acordo com a BHTrans, grande parte das ruas dos bairros do município têm sete metros de largura, “que é o padrão na capital”.
Largas. Segundo a autarquia, as vias de dez metros de largura estão concentradas no bairro Belvedere, no hipercentro e na região da Pampulha.
Trânsito
Sem regra. O Código Brasileiro de Trânsito não estabelece dimensão máxima ou mínima para faixas de rolamento. Cabe ao poder público municipal determinar as medidas da largura das vias.
Por Jader Rezende, do O Tempo.