Volkswagen, Ford, Fiat e GM já perderam 19% da participação nas vendas de carros

Durante todo o mês de fevereiro deste ano, a advogada Meirielen Rigon, de 33 anos, de Arapongas (PR), procurou o veículo ideal para suas necessidades. Ela até gostava da sua picape, a Montana, da Chevrolet – que “quase não dava trabalho” –, mas estava na hora de trocar de carro.
A advogada lançou mão de todas as ferramentas facilitadoras: pesquisas na internet, test drives, orçamentos e conselhos do pai. Apesar de ter gostado muito do Fiesta, da Ford, e do Up!, da Volkswagen, bateu o martelo pelo HB20, da Hyundai. Por R$ 43 mil, levou a versão completa. “Ele é mais espaçoso por dentro e tem cinco anos de garantia, o que ajuda muito”, comenta.
Meirielen é uma das personagens de uma mudança ampla no mercado automobilístico brasileiro. As tradicionais Ford, Volkswagen, Fiat e Chevrolet estão perdendo participação para novatas no mercado nacional, como a Nissan, a Honda e, mais recentemente, a Hyundai. O HB20 já é o quinto carro mais vendido no Brasil, encostando em modelos como o Ônix, da GM, o Palio, da Fiat, e o Gol, da Volkswagen.
Um levantamento da consultoria Jato Dynamics, especializada no setor automotivo, aponta uma perda de participação de mercado de 19% nos últimos dez anos entre as montadoras mais tradicionais. As quatro mais antigas somavam 81% das vendas em 2004, hoje não passam dos 65%.
Em algumas montadoras, a redução foi gritante. A Volkswagen, por exemplo, encolheu para metade do seu tamanho nos últimos 20 anos – de 34,2% de participação no mercado para 17,7% no acumulado em 2014.
Leandro Mattera, autor do livro “Como Escolher o Seu Carro Ideal”, tem visto a curva na prática, com as consultorias que presta a usuários finais e frotistas.
Para Mattera, não se trata apenas de uma nova moda, mas de um atraso das montadoras que dominavam ostensivamente o mercado nacional por anos e acabaram acomodadas nos seus processo de inovação. “O consumidor não só pesquisa mais, como está mais consciente, consegue fazer comparações e chegar à melhor escolha para seu padrão”, explica.
Há uma questão técnica envolvida. Gábor János Deák, engenheiro da SAE Brasil, associação especializada no debate da indústria automotiva, explica que ao chegar em um mercado novo, os fabricantes sempre aproveitam a oportunidade para inserir inovações em seus produtos.
Esse foi o caminho trilhado pelos freios ABS e os airbags, hoje obrigatórios, os carros com foco em redução do consumo de combustível, o câmbio automático, a popularização do ar condicionado e até mesmo a ampliação do espaço interno dos veículos. Em resumo, as montadoras tradicionais no Brasil estavam habituadas a vender o chamado “carro pelado”.
Daqui para frente, as ferramentas associadas à conectividade, por exemplo, deverão fazer a cabeça dos motoristas brasileiros – e esvaziar os bolsos, já que são até 6% mais caros. “A entrada de novos players gera um ciclo virtuoso, já que você se vê obrigado a atualizar seu produto para não perder mercado”, comenta Deák. “Dentro do Inovar-Auto, por exemplo, esse é um gatilho importante.”
“São projetos antigos, é natural que haja alguma rejeição ao velho quando o novo vem para o mercado”, afirma Milad Kalume Neto, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Jato Dynamics. “Entre as mais tradicionais, a Ford é quem tem trazido os carros mais atualizados, mesmo que insistam que não estão interessados na liderança de mercado.”
Atualmente, a Volkswagen tem a maior desvantagem entre as quatro tradicionais. “Há 30 anos o Gol está entre os mais vendidos, com um projeto antigo”, explica. Entre os dez carros de passeio mais vendidos, em setembro, dois são da marca alemã. Um deles é o famoso Gol, que está fora da liderança de mercado pelo quarto mês consecutivo.
Perderam participação, mas ainda são líderes
Embora tenham perdido participação de mercado, as quatro gigantes ainda estão claramente na liderança – e assim devem ficar por mais algum tempo. René Martinez, sócio da consultoria EY para a indústria automobilística, ressalta que, estando há mais tempo no Brasil, essas montadoras tiveram a oportunidade de vivenciar alguns períodos de altas e baixas. Essa experiência os torna mais flexíveis às oscilações do País.
Exatamente por isso, um possível aperto do mercado nesses tempos de baixa de vendas deve gerar um impacto menor sobre as mais maduras. “Sabemos hoje que há uma capacidade produtiva muito maior do que a nossa real demanda”, alerta Martinez. “Só vamos entender se essa tendência é realmente crescente e sólida quando esse cenário se estabilizar.”
Há um fato: as mais maduras estão investindo pesado na renovação dos seus portfólios de entrada. “O desejo do consumidor muda em uma curva cada vez mais acelerada. É isso que vai direcionar o mercado daqui uns anos”, lembra. Vale lembrar que daqui para frente, a maior parte dos novos motoristas a serem adicionados ao trânsito das cidades já são nascidos na década de 1990 e, portanto, não enxergam a preponderância das antigas com o mesmo viés. “Quanto mais entenderem os desejos do consumidor, melhor.”
Mercado deve se dispersar ainda mais
O momento não é dos melhores, tampouco para fazer bons prognósticos para a indústria automotiva. Especialistas contam com um 2015 de baixo crescimento, esboçando uma retomada, até que a recuperação do mercado venha de fato em 2016.
Essa é a análise mais otimista que tem despontado entre os analistas, mas nenhum deles nega a tendência de dispersão deste mercado. O ritmo de crescimento da frota nacional não será o mesmo.
Nos últimos 14 anos, o número de carros emplacados no País mais do que dobrou – de 19,972 milhões de veículos em 2000 para 47,035 milhões em agosto deste ano. É natural que esse ritmo siga se desacelerando. O bolo não crescerá na mesma proporção do avanço no número de convidados para a festa do mercado automobilístico. “Se todas as montadoras cumprirem a participação de mercado que almejam, somamos 130%”, diz Milad Kalume, da Jato Dynamics.
Mais que isso, a implementação do programa Inovar-Auto trouxe diversas montadoras para o mercado nacional. Recentemente, a chinesa Chery inaugurou sua fábrica em Jacareí (SP). Ainda há investimentos anunciados que não estão em operação, como da Audi, da Jaguar, entre outras – uma vez inauguradas, as novas fábricas também disputarão o mercado. Em outras palavras, as marcas dificilmente conseguirão manter sua participação.
Por Bárbara Ladeia – iG.

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