Chery espera triplicar vendas em 2015
De Automotive Business
A Chery aposta na força da produção nacional, que efetivamente começa este mês na fábrica de Jacareí (SP), para triplicar suas vendas no Brasil de 10 mil unidades este ano para 30 mil em 2015. A montadora chinesa está, de fato, cada vez mais brasileira, inclusive nos costumes: assim como todas as outras instaladas aqui, também espera aumentar os preços de seus carros e filiar-se à associação dos fabricantes, a Anfavea – hoje a empresa está na Abeifa, que reúne importadores e futuros fabricantes que não se sentem bem representados na outra entidade.
Luis Curi, vice-presidente da Chery Brasil, diz que a filiação à Anfavea “é um caminho natural e pode acontecer no decorrer de 2015”. A Chery é a primeira fabricante de fato da Abeifa, que mudou de nome este ano para abrigar, além dos importadores que estavam na antiga Abeiva, também os que iriam começar a produzir no País. Na opinião de Curi, contudo, a Anfavea é a entidade com representatividade junto ao governo, que de fato exerce influência sobre as políticas fundamentais para os resultados do setor automotivo. “Quando precisamos ir a Brasília negociar algo nem somos ouvidos, precisamos ter representação mais forte”, afirma.
Segundo Curi, em 2015 a Chery vai mudar sua estratégia no País: “O preço não será mais a peça-chave de nossa política”, diz. “Apesar de saber que o preço é muito importante para uma marca ainda sem reconhecimento no mercado, nós já nos consideramos aptos a colocar mais valor em nossos carros”, completa. De acordo com ele, os produtos que começam a ser fabricados em Jacareí (o primeiro é o Celer, hatch e sedã) “têm qualidade até superior aos que hoje são feitos da China”. Baseado em clínicas com clientes e conversas com os concessionários, Curi entende que a marca já é melhor reconhecida no Brasil, mas garante que continuará a cobrar valores “muito competitivos, só que em vez de custar 20% mais barato vai ser uns 10% menos”, avisa.
Além de toda a conversa de valorização da marca, Curi reconhece que a primeira razão para subir preços é o aumento de custos, principalmente por causa dos componentes importados, que respondem por mais da metade dos carros montados em Jacareí e são fortemente impactados pela alta do dólar diante do real. “Vamos aumentar porque precisamos, mas também acreditamos que não há mais necessidade de deixar os preços em patamares tão baixos”, pondera o executivo.
Com a pressão da alta do dólar, estão sendo apressadas as medidas para aumentar o nível de nacionalização dos veículos produzidos em Jacareí, com a instalação da “Cidade Industrial Chery”, ocupando uma área no entorno da fábrica de 4 milhões de metros quadrados, cuja desapropriação já está sendo negociada com o município. Já existem cinco fornecedores, dois deles da China, acertados para se instalar no parque. “Queremos elevar a nacionalização ao grau máximo o mais rápido possível, antes de 2016”, revela Curi.
A Chery causou impacto em 2011 quando começou a vender o QQ no Brasil por R$ 22.990, o carro mais barato do mercado e com um bom pacote de equipamentos. Três anos depois de seu lançamento no Brasil, o QQ encareceu só R$ 1 mil (R$ 23.990). Isso deve mudar com a chegada, em fevereiro de 2015, da nova geração do modelo, melhor acabada, com design mais moderno e maior valor, dentro da nova política da Chery. O carro primeiro será importado da China e conviverá durante um curto período com sua versão antiga e mais barata, montada no Uruguai. No início do segundo semestre o novo QQ começa a ser produzido na planta brasileira e o modelo anterior será gradualmente retirado de linha.
A Chery também decidiu fabricar no Brasil a quinta geração do SUV urbano Tiggo, hoje montada na linha uruguaia. O carro já foi mostrado ao público brasileiro este ano no último Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro passado. O plano inicial era importar o modelo da China a partir de dezembro de 2015, mas pelo visto a alta do dólar mudou a perspectiva de negócios. O novo Tiggo, segundo Curi, deve se tornar o terceiro carro da Chery produzido em Jacareí ainda no segundo semestre do ano que vem. “Já entramos com o projeto no Ministério do Desenvolvimento para inclusão no Inovar-Auto”, revelou o executivo.
A expectativa é que, com quatro modelos nacionais (contando o Celer como dois, hatch e sedã), as vendas da Chery no Brasil finalmente decolem. Depois de vender 27 mil carros em 2011, os emplacamentos da marca no País mergulharam para 12 mil em 2012 e apenas 7,4 mil em 2013. Mesmo com a expressiva alta de 35% este ano, as 10 mil unidades vendidas ainda estão bastante abaixo do que se esperava no início de 2014, quando a projeção era de 15 mil. “O ano não foi fácil para ninguém e para os mais novos fica ainda mais difícil”, justifica Curi.
Para ele, contudo, as perspectivas da Chery são bem melhores para 2015. “Não esperamos um bom resultado (da economia) no próximo ano, mas os 30 mil carros que pretendemos vender significam apenas 1% do mercado. Não é algo tão difícil de atingir”, avalia. “Já existem condições de financiamento mais favoráveis depois da aprovação da nova legislação (de retomada rápida de carros de clientes inadimplentes)”, diz. Nesse sentido a montadora terá uma ajuda adicional no ano que vem, com a chegada de seu braço financeiro ao País, a Chery Finance Services. “Isso deverá nos ajudar bastante”, espera.
Depois de investir R$ 1 bilhão para construir a fábrica brasileira, a meta da Chery é chegar a 3% do mercado brasileiro até 2018, quando espera vender de 100 mil a 120 mil carros/ano, para então dar prosseguimento a seus planos de expansão no País, com a inclusão de novos produtos na linha de montagem nacional. “Vislumbramos um mercado futuro muito bom para a Chery no Brasil, concordamos com a visão da Anfavea (de 7 milhões de veículos/ano em 2034), há espaço para crescimento”, afirma Curi. Outro fator que pode dar impulso adicional à produção brasileira da Chery é a exportação. A fábrica de Jacareí irá atender vendas para todos os países da América do Sul. Com isso, a expectativa é virar a década produzindo cerca de 150 mil carros/ano.
Fonte: ABLA