Estoques ainda preocupam montadoras
De Valor Econômico
A pequena reação do mercado e os cortes de produção não foram suficientes para adequar os estoques de veículos no país, que permaneceram acima do normal no mês passado. O encalhe nos pátios de montadoras e concessionárias alcançou 413,4 mil veículos em outubro, 8,2 mil a mais do que em setembro, como resultado de uma produção que, embora em queda, não foi totalmente absorvida pelo mercado interno e pelas exportações.
O volume é suficiente para abastecer o mercado por 40 dias, menos do que os 41 de setembro, mas ainda acima do giro de 30 a 35 dias perseguido pela indústria. Ao apresentar os números à imprensa, Luiz Moan, presidente da Anfavea, entidade das montadoras instaladas no Brasil, reconheceu que o nível de estoque segue “bastante alto”, levando a medidas de ajuste da produção mesmo diante da perspectiva de um mercado mais aquecido no último bimestre.
Entre janeiro e outubro, o setor produziu 16% a menos do que em igual período do ano passado, uma retração explicada pela queda de 8,9% do mercado interno e o declínio de 40,4% dos embarques ao exterior. Em outubro, o consumo brasileiro voltou a superar a barreira de 300 mil veículos, o que não acontecia desde janeiro, mas as exportações foram as mais baixas em sete meses.
As montadoras já eliminaram 10 mil postos de trabalho desde o início do ano, o que reduziu a ocupação no setor para 147 mil empregados, no mesmo nível de maio de 2012, quando a indústria fechou o pacto de manutenção de empregos como contrapartida aos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Fora isso, o número de operários afastados das montadoras em virtude da suspensão de contratos de trabalho – o chamado “layoff” – gira ao redor de 4 mil funcionários, incluindo na conta os 850 empregados da General Motors (GM) em São Caetano que entram em “layoff” na segunda-feira.
Ontem, Moan admitiu que o setor não deve alcançar a meta de vendas traçada para este ano, embora, oficialmente, a Anfavea tenha mantido as projeções que apontam para queda de 5,4% do mercado interno, o que significaria um volume de 3,56 milhões. “Não alteramos a previsão, mas agora o viés é de baixa. Sabemos da dificuldade de atingir 3,564 milhões de veículos”, disse o executivo durante a apresentação à imprensa dos resultados de outubro.
A entidade começou o ano projetando alta de 1,1% das vendas em 2014, mas com a forte queda no consumo teve que reverter, em julho, a expectativa para a baixa de 5,4%. Mas mesmo para chegar à meta revista, a demanda teria que subir 14,3% no segundo semestre, comparativamente à primeira metade do ano, o que não foi confirmado até agora.
A Anfavea ainda aposta na corrida de consumidores às concessionárias antes do aumento do IPI para fechar o último bimestre do ano com números mais expressivos. Segundo Moan, o mercado voltou a girar volume diário superior a 15 mil veículos na primeira semana deste mês, saindo da média um pouco acima de 13 mil unidades por dia útil dos últimos meses.
Ele lembrou do aquecimento sazonal das vendas nos dois últimos meses do ano, quando a injeção de recursos do décimo terceiro salário estimula o consumo, e disse ter a expectativa de que a medida provisória que facilita a retomada de veículos pelos bancos – já aprovada pelo Congresso – seja sancionada pela presidente Dilma Rousseff até a semana que vem. Espera-se que, ao agilizar a recuperação de carros dos inadimplentes, a medida melhore o apetite dos bancos em dar crédito à compra de veículos.
Fonte: ABLA