EUA determinam câmera de ré obrigatória em carros até 2018
A câmera de ré vai se tornar item obrigatório de segurança para todos os veículos zero-quilômetro (incluindo ônibus, pequenos caminhões e picapes) dos Estados Unidos a partir de 1º de maio 2018, determinou nesta segunda-feira (31) a NHTSA (a Administração de Segurança e Trafégo norte-americana). De acordo com a agência reguladora de trânsito e segurança, a medida pode evitar a morte de 70 pessoas por ano e economizar até US$ 396 milhões (quase R$ 900 milhões) em custos de tratamentos e indenizações.
Esta medida vai aumentar também o grau mínimo de exigência para que um veículo obtenha cinco estrelas no NCAP (Programa de Avaliação de Carros Novos). Pela atual regra americana, válida para 2014, além de habitáculo resistente a impactos definidos a velocidades de até 48 km/h, carros zero-quilômetro precisam ter controle de estabilidade, aviso de mudança de faixa involuntária (alertas sonoros ou visuais no painel/cabine e/ou volante/banco que treme quando o motorista troca de faixa sem dar seta) e aviso de colisão frontal iminente (alertas sonoros e/ou visuais no painel/cabine). A partir de agora, a câmera de ré entra na lista de exigência recomendada, passando à lista mínima em 2018.
Repare que freios com ABS (sistema que evita que as rodas travem) e airbag duplo frontal, exigência em 100% dos carros brasileiros desde 1º de janeiro pela atualização da lei brasileira, sequer são citados na lista do NCAP americano por sua obviedade. Para comparar, o Latin NCAP (a versão latino-americana/brasileira do programa de avaliação de carros novos) passa a cobrar, além de ABS e airbags e resistência a impactos determinados a 64 km/h, resistência a impactos laterais e alerta de cintos de segurança desafivelado.
Ao redor do mundo, os programas de testes de impactos do NCAP classificam modelos novos à venda com índices que vão de zero (inseguro) a cinco estrelas (nota máxima em segurança).
LEI ATRASOU, MAS ADESÃO É FÁCIL
Associações de crianças vítimas de atropelamentos nos Estados Unidos chegaram a criticar o NHTSA por acreditar que o órgão demorou a determinar a obrigatoriedade da câmera de ré. De fato, a nova norma tem como base um decreto assinado pelo ex-presidente americano George W. Bush em 2007, aprovado pelo Congresso americano e enviado para regulamentação da agência em 2011.
Este intervalo de sete anos teria ocorrido por lobby de fabricantes e revendedores, que atribuem custo entre US$ 700 milhões e 1,6 bilhão (de R$ 1,6 bilhão a 3,7 bilhões) para instalar o sistema de câmera de ré em todos os carros novos até 2018. Custo que seria repassado aos compradores.
Para tais associações, é fácil derrubar a premissa de que o custo de instalação da câmera de ré é excessivo. Os próprios dados oficiais do NHTSA mostram isso.
Cálculos norte-americanos apontam que, em média, 210 pessoas morrem e outras 15 mil ficam feridas anualmente ao serem atropeladas por carros em marcha à ré. As maiores vítimas são crianças com menos de cinco anos e idosos com mais de 70 anos, grupo envolvido em 57% das ocorrências.
Apenas o gasto com tratamentos e indenizações dessas vítimas é estimado em US$ 396 milhões (quase R$ 900 milhões) anuais, de acordo com o NHTSA, metade do custo total de instalação das câmeras na frota de carros novos.
Além disso, os dados oficiais também mostram que quase metade dos compradores de carros novos já escolhem modelos com câmera de ré instaladas, índice que deve aumentar para 73% em 2018. Assim, seria preciso fazer um upgrade em apenas 27% dos carros zero-quilômetro vendidos até lá.
Por estas contas, uma câmera de ré custa até US$ 45 (pouco mais de R$ 100) para carros que já têm tela no console central, valor que sobe para até US$ 142 (R$ 320) se for necessário instalar também a tela.
Além de relativamente barata, a câmera de ré pode reduzir em 1/3 o total de mortes a cada ano, aponta a agência governamental. Ao todo, seriam 70 vidas salvas por ano.
ENXERGAR É SEMPRE MELHOR
De acordo com o NHTSA, a demora foi necessária para determinar os detalhes da regulamentação e tipos ideais de equipamento. O órgão afirma que foram testados sensores simples de estacionamento (com avisos sonoros), sensores avançados (com aviso sonoro e gráfico) e câmeras de ré, que foram escolhidas por orientarem melhor o motorista.
Pela norma, a câmera de ré deve ser instalada em todo veículo zero com peso de até 4,5 toneladas, incluindo aqueles de quatro rodas que rodem a velocidades baixas (entre 20 e 25 km/h), e deve capturar imagens de uma área retangular após a traseira do carro de 3 metros de largura por 6 metros de comprimento. Na prática, a afeta de carrinhos de golfe a ônibus e alguns caminhões.
“Os requisitos de visibilidade traseira vão salvar vidas e livrar muitas famílias do sofrimento causado por estes incidentes trágicos [atropelamentos por veículos em ré]”, afirmou David Friedman, diretor do NHTSA. “Já estamos recomendando que esta tecnologia seja cobrada pelo NCAP para encorajar motoristas a considerá-la na hora de comprar um carro”, completou.
Do Uol.