Financiamento de carros usados cresce 3,8%

Enquanto o crédito para compra de veículos está escasso, há um único segmento que tem contado com a generosidade das instituições financeiras. Trata-se do mercado de carros usados, com entre quatro e oito anos de uso.
Entre janeiro e maio deste ano, o número de contratos de financiamento com esse destino cresceu 3,6% frente ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Cetip, que reúne e consolida todas as operações de crédito automotivo do Brasil, incluindo consórcios, leasing, crédito direto ao consumidor e BNDES Finame.
Na contramão do mercado de novos e seminovos, os carros mais velhos têm sido mais negociados por meio do crediário. O consumidor dessa categoria – com a renda menor, em busca do primeiro carro – ainda não encontra entrada suficiente para partir para um seminovo ou um zero.
“É um grupo de pessoas com poder aquisitivo menor e o financimento é essencial para que ele consiga efetuar a compra”, comenta Ilídio dos Santos, presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
Santos explica que a redução na oferta de financiamentos para os carros de até três anos tem a ver, em boa parte, com a utilização de um usado como entrada. “Ele dá o carro dele de entrada e paga a diferença à vista, a necessidade de crédito é menor”, sinaliza. Entre os seminovos, a diferença que vem sendo financiada, segundo a Cetip, é de R$ 27,359 mil – 3,5% a mais que no ano passado.
Os carros estão mais caros. A média do valor financiado subiu em todos os segmentos – especialmente entre os mais antigos. Em carros de entre 9 e 13 anos, a alta do valor médio de financiamento foi de 7%. No caso dos veículos de mais de 13 anos, a diferença do total financiado chega a 15,4%.
Primeiro semestre foi de aperto no crédito
O mercado todo acumula uma queda de 6% no número de financiamentos concedidos, e de 8% no volume de crédito ofertado. Este é mais um dos efeitos do saneamento das carteiras de crédito, iniciado com as medidas macroprudenciais que marcaram o começo da gestão de Alexandre Tombini à frente do Banco Central (BC). Em nome da redução da inadimplência, foi encerrado o parcelamento sem entrada e os 48 meses para pagar.
A inadimplência já dá sinais de enfraquecimento – em abril chegou à mínima histórica de 4,9% –, mas o crédito ainda não ganhou força suficiente para retomar o ritmo do ano passado. Santos é otimista e já vê uma oportunidade para redução das restrições ainda neste ano. “Conforme a inadimplência for reduzindo, a tendência é de o aperto do crédito diminuir”, diz o presidente da Fenauto.
A redução na oferta direcionada ao mercado automotivo tem provocado a reclamação das montadoras. As promoções de taxa zero dão um empurrãozinho nas vendas, mas não resolvem a falta de crédito – pelo menos, o tempo de financiamento caiu de 39 para 36 meses.
Este elemento é crítico para a indústria, que já amarga redução de vendas de 5,5% neste ano, até maio. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) chegou a discutir com o governo algumas ações de fomento ao crédito, mas nenhuma medida foi aprovada.
Na avaliação de Marcus Lavorato, gerente de Relações Institucionais da Unidade de Financiamentos da Cetip, ainda não há sinais claros de um afrouxamento do crédito – e o contexto não favorece. “Temos um problema com a garantia de retomada do veículo, o crescimento pequeno, aumento da taxa de juros e ano de incerteza”, reforça. “Não vejo sinais de melhora no curto prazo.” Recentemente, a indústria automotiva levou ao governo um projeto para criação de um fundo que oferecesse maior segurança aos bancos. No entanto, as negociações não evoluíram.
Vendas não voltarão a crescer no mesmo ritmo
Ainda que a venda de carros novos continue acontecendo, no saldo da operação a frota nas capitais tende a se manter estável – ao menos nas capitais. A demanda não será mais a mesma do passado, portanto, não voltaremos a assistir um ritmo de vendas alucinado como o da última década anos, tampouco a farra o crédito.
Nas grandes capitais, as vendas já estão em ritmo de reposição, com níveis próximos à Europa em quantidade de carros por habitante nas capitais. Em Curitiba, por exemplo, as ruas abrigam 1,8 carro por pessoa.
A média nacional é de um automóvel para cada seis habitantes e, por isso, o maior empenho das montadoras estará na ampliação de sua rede de concessionárias no interior do País. “Para chegarmos ao nível da Argentina em relação ao número de carros por habitante, precisamos incorporar mais 20 milhões de unidades à frota”, diz Luiz Moan, que preside a Anfavea.
A redução da inadimplência, no entanto, é uma indicação clara de que o mercado deverá melhorar a disponibilidade de crédito em breve. “Estamos trabalhando fortemente na recuperação do crédito”, diz Moan, que destaca os consórcios.
A modalidade representa mais de 20% dos créditos concedidos no País nos primeiros quatro meses do ano, segundo dados do Banco Central. Números da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) indicam que o volume de crédito disponibilizado para compra de veículos nos primeiros cinco meses do ano chegou a R$ 12,5 bilhões – 14,7% mais que no ano passado.
Moan destaca que o crescimento na venda de usados não é um problema para a indústria – principalmente porque pode ser utilizado como entrada para um veículo zero quilômetro. “É uma indicativo de que a demanda não sumiu”, diz. “Temos uma frota de 38 milhões de veículos e vendemos um pouco menos de quatro milhões de carros por ano. É natural que esse mercado tenha mais volume.”
Do iG.

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