Futuro da mobilidade vai ser mais ‘opções’ e menos carros elétricos

A Tesla surgiu como um oásis em meio ao deserto. Tecnológica e moderna, a empresa de Elon Musk queria revolucionar a indústria automotiva com carros elétricos potentes e confortáveis. Mas não foi assim que aconteceu. Passados treze anos desde sua fundação, a Tesla ainda não apresenta bons resultados financeiros e o carro elétrico não deslanchou.

 

Afinal, para fazer sentido, o veículo movido a eletricidade precisa de tecnologia para baterias e infraestrutura completa. Não há armazenamento o suficiente para longas horas de estrada e não são encontrados postos de reabastecimento com facilidade. A comodidade, para o usuário, passa longe.

O que esperar do futuro?

 

Hoje, a melhor perspectiva ficou pra 2040, segundo a Bloomberg New Energy Finance, com veículos elétricos sendo metade da frota global, com 56 milhões de unidades.

“Era para o carro elétrico, hoje, ser uma realidade absoluta”, afirma Carlos Cavalcantti, pesquisador de infraestrutura e novas tecnologias de locomoção. “O que estamos vendo, no lugar, é uma transformação da indústria automobilística como um todo. O futuro do carro elétrico fica condicionado ao que acontecerá com as empresas e o setor como um todo.”

Sob demanda

 

Enquanto todos discutiam quando veriam mais Teslas na rua, a grande transformação nos meios de transporte chegou no meio da década de 2010, quando aplicativos como Uber, 99 e Lyft fizeram com que o usuário pudesse se locomover a partir de poucos toques na tela do celular. Não era preciso ter um carro na garagem de casa para se locomover sob quatro rodas, com segurança, e gastos controlados.

A tendência se confirmou: segundo a pesquisa Global Automotive Consumer Study 2019, da consultoria Deloitte, metade dos 25 mil consumidores entrevistados, em 20 países, questiona a utilidade de possuir um carro no futuro devido ao uso de apps. E 56% dos usuários mais jovens estão prontos para deixar de ter carro.

“A 99 ajudou a mudar a forma como as pessoas estão se locomovendo”, afirma Miguel Jacob, gerente de pesquisa e políticas públicas da 99. “A facilidade de pedir um meio de transporte pelo celular fez com que usuários começassem a enxergar suas rotas de maneira diferente e complementar, com patinetes, bicicletas, motos, carros e por aí vai”.

Assim, o usuário passou a enxergar a mobilidade sob uma outra ótica. Não é preciso mais “ter”. Os meios de transporte podem estar espalhados pela cidade, sem proprietários.

Dessa forma, cria-se novas relações entre as empresas do setor. As montadoras fornecem automóveis como serviço, pensando no carro como um bem que irá trabalhar em prol de seu proprietário — e não mais para ficar na garagem. Aplicativos variados, por outro lado, promovem a conexão entre usuários e os mais diferentes tipos de modais disponíveis.

“As empresas do setor de mobilidade precisam olhar mais para a jornada do usuário do que qualquer outra coisa”, afirma Elias de Souza, sócio da Deloitte para a indústria de Infraestrutura, Governo e Serviços Públicos. “É preciso ter diversidade de transporte, comodidade ao usuário, rapidez na locomoção. Tudo isso importa no processo.”

De olho no mercado

 

Uma companhia que tenta embarcar nessa transformação do mercado é a Moovit, que atua como um “Waze para o transporte público”. O usuário insere seu destino e o app mostra as rotas mais rápidas e práticas, que pode ser realizadas com ônibus, metrô, trem, Uber, bicicleta e a pé. Agora, a companhia israelense, que já atua em 95 países, quer ir além.

“Estamos desenvolvendo uma plataforma de transporte coletivo sob demanda”, afirma Pedro Palhares, chefe das operações da empresa no Brasil. “Queremos ajudar o usuário a encontrar as melhores maneiras de completar a última milha entre sua origem e seu destino. Por exemplo: a pessoa poderá pegar um coletivo sob demanda até o metrô”.

Pedro não definiu uma data cravada para a expansão do serviço pela Moovit, mas novas formas de conectar o transporte já são consideradas pelo executivo. “Podemos ter patinetes bicicletas, motos compartilhadas. Podemos integrar meios de pagamento, como RioCard e Bilhete Único”, afirma. “Queremos não seja preciso vários apps para se locomover por aí”.

Já a startup GO, em operação há um mês na cidade de São Paulo, começa a testar um outro formato de transporte multimodal sob demanda. A empresa cobra uma assinatura mensal, de R$ 499, para que o usuário possa usar transportes da empresa — 60 horas de carro, 80 horas de patinete ou bicicletas elétricas e tempo livre para a bicicleta manual. 

“Queremos concretizar a cultura de não ficar preso num único transporte, com um carro na garagem. Assim, a GO quer que a pessoa encontre a melhor forma de ir e voltar de seus destinos”, explica Simião Fernandes, cofundador da startup. “A ideia, no futuro, é que nós tenhamos a frota espalhada pelo Brasil, para ser usada onde e quando o usuário quiser”.

E o carro elétrico?

 

Com esse novo cenário vindo com força no mercado global de transportes, fica a pergunta: será que o carro elétrico ainda fará sentido para este novo tipo de proprietário de veículos?

Para Alan Ávila, diretor de produtos da ValeCard, que faz gestão de frotas, há um ponto positivo: o baixo custo de manutenção. “O carro convencional possui cerca de 25 mil peças”, afirma o executivo. “O elétrico, três mil. Fica melhor, nesse cenário de uso constante e sob demanda, ter uma manutenção mais barata e uma maior tranquilidade de uso”.

No entanto, Carlos Cavalcantti chama a atenção para um ponto essencial: a infraestrutura. “É lindo falarmos de carro elétrico servindo ao modelo multimodal e sob demanda. Mas, antes disso, é preciso ter preparo”, afirma. “O dono de frota ou o motorista vai querer deixar seu carro trabalhando o tempo todo. Será que isso vai ser possível com o carro elétrico?”

Por fim, Elias, da Deloitte, lembra que o carro elétrico pode fazer sentido em algumas realidades. Em outras, não. “Não podemos esquecer que, no Brasil, temos várias realidades”, afirma. “Pode ser que o transporte multimodal e sob demanda faça sentido nas grandes cidades, mas não em áreas menores. E com isso, há de se repensar todo sistema”.

 

 

 

FONTE: https://br.financas.yahoo.com/

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