Montadoras tentam viabilizar uso de fibra de carbono

carbono

De Valor Econômico

A “asa” é feita de fibra de carbono, um material forte e leve, que também é muito caro, o que significa que seu uso até agora se mantém restrito a veículos de ponta e produção pequena. Mesmo assim, há sinais em Detroit de uma mudança de atitude da indústria automobilística em relação a esse material complexo. As montadoras americanas General Motors (GM) e Ford estão tentando transformar a fibra de carbono em uma base para a produção de automóveis em grande escala.
Isso porque o material poderá representar uma grande mudança no consumo de combustíveis, ao tornar os veículos muito mais leves – a fibra de carbono é tão forte quanto o aço mas tem a metade do peso, ou menos. Jeff Owens, diretor de tecnologia da Delphi Automotive, uma fabricante de autopeças, diz que a fibra de carbono sempre foi uma espécie de “Cálice Sagrado” para a indústria automobilística. “Ela é extremamente resistente e muito leve”, acrescenta ele.
Mas as montadoras enfrentam desafios significativos à transformação da fibra de carbono em um material para o mercado de massa – especialmente a capacidade de as empresas desenvolverem processos eficientes para a produção de componentes de fibra de carbono em grandes quantidades.
A Ford anunciou no Salão de Detroit que está iniciando um esforço conjunto de pesquisa com a DowAksa – uma joint venture envolvendo a Dow Chemical dos EUA e a Aksa da Turquia – sobre a fibra de carbono para uso no mercado automobilístico. A GM, controladora da Cadillac, há mais de três anos está envolvida em um programa de pesquisas com a Teijin do Japão, que é parecido com o esforço da Ford.
O esforço para desenvolver a fibra de carbono para o setor automobilístico é apenas a mais recente de uma série de mudanças decorrentes das leis americanas que exigem que as montadoras melhorem o consumo médio de combustível de seus modelos de 44 km por galão (3,6 litros) em 2012, para 87,2 km até 2025.
A questão para as montadoras é se haverá um momento decisivo para a fibra de carbono, equivalente ao lançamento no ano passado à carroceria de alumínio para as picapes F150 da Ford, o veículo mais vendido na América do Norte. É a primeira utilização do alumínio em um mercado automobilístico verdadeiramente de massa e o abandono do aço reduziu o peso da F150 em 13% em relação ao modelo anterior.
Assim como outras montadoras e fabricantes de componentes, a GM diz que é difícil prever ser haverá em breve um momento para a penetração da fibra de carbono. “Talvez tenhamos um novo processo de fabricação em um curto período de tempo – talvez não”, afirma a companhia.
A fabricação de componentes de fibra de carbono tende a exigir muita mão-de-obra, além de ser lenta e pouco adequada à maneira como as montadoras operam. Isso porque as peças são feitas selando-se os filamentos de carbono com resina e cozendo-os em alta temperatura, além do que os componentes geralmente emergem em grandes lotes, ao invés de num fluxo contínuo.
As pesquisas de GM estão explorando o potencial das misturas de fibra de carbono com plásticos, para tornar o processo de fabricação mais simples. Jim deVries, diretor de pesquisa de materiais e produção da Ford, diz que o tempo necessário para produzir os componentes de fibra de carbono é o maior problema. “A fibra de carbono está sendo usada em muitos carros de luxo, de produção menor”, diz ele. “O desafio e o foco de nosso programa é transferir de um nicho, com volumes menores, para o mercado de massa.”
Há um sinal inicial em Detroit de que a fibra de carbono pode estar perto de entrar no mercado de massa. A Johnson Controls, uma fornecedora do setor automobilístico, exibiu no salão do automóvel local um protótipo do assento Camisma, com molde em fibra de carbono e 40% mais leve que os equivalentes em metal. Andreas Eppinger, diretor de tecnologia da divisão de assentos da Johnson Controls, diz que o projeto do assento resolveu muitos dos problemas que afligem outras empresas do setor.
A companhia simplificou o processo de produção e desenvolveu robôs para produzir a fibra de carbono, o que significa que será possível produzir 200 mil assentos por ano em uma única linha de produção. No entanto, esses métodos de produção deverão permanecer mais caros que as técnicas existentes num futuro previsível.
Mas Owens observa que as montadoras enfrentam custos ainda maiores nos principais meios alternativos que estão sendo usados para reduzir o consumo de combustível dos automóveis. “Com outros meios para atender as regras de emissão e consumo de gasolina tornando-se mais e mais caros, algumas das alternativas começam a parecer mais viáveis”, diz Owens num aceno em direção à fibra de carbono.
Fonte: ABLA

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