Cotação na máxima estimula oferta
A mudança na precificação das empresas está estimulando algumas delas e seus acionistas a cogitar uma oferta subsequente de ações (“follow-on”). Com o preço da ação mais alto e a perspectiva de melhora de resultados, os múltiplos se tornam mais atraentes.
O banco Credit Suisse avalia que 12 a 15 companhias podem fazer follow-on neste semestre. A visão do banco é que há uma mudança de patamar em curso na bolsa brasileira e que as companhias devem aproveitá-la no curto prazo.
“Na nossa visão, é melhor uma companhia fazer a operação agora, aos 90 mil pontos, do que esperar a bolsa chegar a 140 mil pontos, diz Bruno Fontana, chefe do banco de investimento do Credit Suisse. A lógica está relacionada ao fluxo e interesse de investidores.
“Nessa mudança de patamar, há um fluxo de novos investidores entrando em bolsa, migrando da renda fixa para ações, e comprando novos papéis”, afirma Fontana. Isso é mais relevante para os grandes gestores nacionais e institucionais estrangeiros, que começam a rever sua alocações.
Na perspectiva de crescimento econômico, a conta das empresas leva em consideração o valor em que os atuais acionistas serão diluídos e quanto de retorno sobre capital investido terão com o uso de caixa.
“Essa análise começa a fazer mais sentido nos preços e cenário atuais”, diz Fontana, que não fala sobre empresas específicas.
A locadora de veículos Localiza já engajou assessores financeiros para avaliar um follow-on, em que faria captação primária para reforçar caixa para crescimento e reduzir alavancagem.
As concorRentes listadas em bolsa fizeram capitalização no ano passado – a Unidas fez follow-on em dezembro e a Movida fez um aumento de capital em junho. A captação ajudaria a Localiza a melhorar a estrutura de capital e a garantir que a empresa não terá que desacelerar crescimento, diz uma fonte.
No setor de energia, AES Tietê e Light chegaram a contratar bancos para um follow-on, mas adiaram esses processos. Agora, a mais adiantada na conversa com bancos para uma nova captação primária é a Equatorial Energia, conforme o Valor apurou. Procurada, a Equatorial não comentou.
Quase todos os bancos também estão com suas ações em torno da cotação máxima. Mas, nesse caso, a maioria já tem capital suficiente para crescer, depois de anos de marasmo econômico, e também tem outras formas de captação mais baratas como alternativa.
As ações do Bradesco, do Banco do Brasil e do Itaú Unibanco bateram as cotações máximas esta semana, desde o início da série histórica da Economatica, em 1986.
O follow-on em estudo no setor é do Banrisul, conforme um executivo com conhecimento do assunto, que faria uma oferta secundária – o endividado governo do Rio Grande do Sul detém 98% das ações ordinárias e 48,8% das preferenciais classe A. O Banrisul diz que a informação não procede.
Outras empresas com participação relevante de governo ou estatais estão no grupo das potenciais ofertas secundárias – mas que ainda não estão engatadas. Na lista do BNDES, por exemplo, está previsto o desinvestimento dos 21,3% detidos na empresa frigorífica JBS, diz uma fonte – que pode ser via oferta secundária ou blocktrade.
“A JBS poderia aproveitar para reduzir alavancagem e aumentar caixa com uma primária nessa mesma transação, já que o papel subiu bastante. Mas a capitalização avaliada ali é com o IPO da JBS Foods”, diz um executivo próximo à empresa.
O plano de fazer uma listagem da JBS Foods já foi anunciado pela companhia no passado. A ação da JBS é negociada no maior patamar desde 2015.
Na linha de redução de participação estatal, dois executivos citam a BB Seguridade como potencial follow-on secundário – o Banco do Brasil detém 66,25% da empresa.
“O que temos ouvido da equipe econômica do governo é que há interesse em manter o controle em certas empresas mas com percentuais menores”, diz uma das fontes. Nesses dois casos, não há processo em andamento.
“Nem todo mundo que avalia um follow-on no curto prazo precisa de caixa, mas quer aproveitar o preço para otimizar sua estrutura de capital e se preparar para crescimento”, reforça o chefe de um banco de investimento americano.
“Fundos que têm posição acionária relevante também avaliam a possibilidade de monetizar essas ações”, complementa.
Apesar da atividade aquecida entre empresas e bancos de investimento, o diretor de gestão da Quantitas, Wagner Salaverry, não espera um grande volume de follow-ons neste início de ano. Na ponta compradora, ele pondera que as empresas
aproveitaram a recessão para arrumar seus balanços, reduzindo alavancagem. Isso diminui a necessidade de capital no curto prazo e abre espaço para tomar dívida.
“Com o juro baixo atualmente, compensa mais para algumas empresas tomar dívida do que captar via equity”, avalia. O gestor considera ainda que algumas empresas devem preferir aguardar a reforma da Previdência – e seu esperado reflexo positivo em bolsa.
Fonte: Valor Econômico