Grandes drones sobre rodas estão sendo testados como opção mais acessível que helicópteros
No filme “De volta para o futuro 2”, Marty McFly e Doctor Brown saem de 1985 e chegam a 2015 a bordo de um DeLorean DMC-12 voador. Em outro clássico dos anos 80, “Blade Runner”, Los Angeles de 2019 está congestionada de carros voadores, apesar de os personagens usarem “orelhões” para telefonar. E eles continuam voando na continuação lançada no ano passado, “Blade Runner 2049”.
Já estamos em 2018, e o único carro voando neste momento é o Tesla Roadster vermelho alçado ao espaço por um foguete. E ele nem poderia sair do chão sozinho. Apesar de tentativas que já duram 101 anos, carros voadores ainda são coisa de ficção científica. O que falta para eles se tornarem realidade? Em termos tecnológicos, falta pouco. Em termos de legislação, custos e logística, ainda há muito a percorrer.
Sejam os carros de ficção ou as tentativas reais de voar, a lógica deles era sempre semelhante à de aviões, que precisam ter asas, propulsão a jato e ganhar velocidade para decolar. Mas o que veremos nas ruas e nos céus em cerca de uma década serão drones sobre rodas, que podem decolar e pousar verticalmente. Como helicópteros, só que mais versáteis e mais baratos.
Um bom exemplo dos avanços práticos é o conceito Pop.Up Next, exibido há poucos dias pelo estúdio italiano Italdesign (atualmente controlado pelo Grupo VW) no Salão de Genebra. Trata-se de uma versão mais factível do modelo exibido no ano passado, no mesmo salão suíço, em parceria com a Audi e a Airbus. O Pop.Up Next é um sistema modular totalmente elétrico e de emissão zero, projetado para ajudar a resolver os congestionamentos em grandes áreas urbanas.
Vendo as fotos, percebe-se que é um grande drone sobre rodas, com um módulo de dois assentos. O módulo roda como um carro normal, mas pode ser acoplado a um conjunto de quatro hélices no teto, podendo decolar como um drone. Ou seja, não dá para rodar com o carro normalmente no chão quando as hélices estiverem acopladas. Não dá para simplesmente decolar no meio de um congestionamento. Mas dá para dirigir até um posto de acoplamento, voar até outro ponto para desacoplamento e sair rodando novamente, abreviando rotas congestionadas.
Ao longo do ano, as equipes da Airbus trabalharam no refinamento do projeto aerodinâmico do módulo de ar e dutos do rotor para melhorar o desempenho e reduzir o consumo de energia em voos de cruzeiro. A empresa de aviação também apresentou um conceito para um sistema de acoplamento com funcionalidades de bloqueio e trava. A Airbus também trabalhou no design interno do Pop.Up Next para harmonizar a linguagem de estilo com o exterior, que é da Audi. Na parte técnica, os engenheiros da Airbus e da Italdesign trabalharam em várias frentes para melhorar a eficiência do sistema, trabalho em redução de peso, aerodinâmica, sistema de acoplamento de vários módulos e evolução dos sistemas eletrônicos de bordo.
Leis de trânsito aéreo
Divulgação – Volocopter desenvolvido com ajuda da Mercedes, de cinco lugares, para ser uma espécie de táxi aéreo
Obviamente, esses modelos demandarão uma regulamentação especial das autoridades de trânsito e aéreas. Onde e a que altura eles poderão voar com segurança? Em que locais terão autorização para decolar e pousar? Serão autônomos, ou terão motoristas-pilotos?
No segundo caso, como será a licença para pilotar? Vale lembrar que o uso indiscriminado de drones (os pequenos, de lazer, fotos e vídeos) já preocupa autoridades de tráfego aéreo, sobretudo nas proximidades de aeroportos.
O fato é que, se bem regulamentados, esses carros-drones serão mais baratos e práticos que helicópteros para percorrer curtas e médias distâncias. E deverão ser viáveis como serviços de táxi solo/aéreo em cerca de uma década, na estimativa das montadoras. Dificilmente serão liberados para uso particular, como nos filmes supracitados ou no desenho dos “Jetsons”, que trazia uma visão dos anos 60 sobre a mobilidade do futuro.
É cedo para falar em leis para esses táxis rodo-aéreos, mas muitas empresas apostam nisso, além do consórcio que trabalha no Pop.Up Next. A Porsche, também do Grupo VW, anunciou recentemente que vai entrar na corrida pelos módulos híbridos voadores. Na visão dela, essa modalidade de transporte será uma realidade no prazo de uma década.
A rival Mercedes-Benz está entre as empresas que investem na alemã Volocopter, para ajudar a desenvolver um táxi elétrico com decolagem e aterrisagem vertical, de cinco lugares. Também na Alemanha, a startup Lilium recebeu um aporte milionário para financiar o projeto de um carro voador autônomo para cinco pessoas. Com o investimento de alguns milionários – entre eles os criadores do Skype e do Twitter, a startup captou US$ 90 milhões para tirar o conceito do papel. Nesse caso, o veículo já tem o conjunto para decolar na vertical e voar, sem necessidade de acoplamento.
É a mesma aposta da chinesa Geely (sempre ela), que comprou recentemente o desenvolvedor de carros voadores norte-americano Terrafugia. Ela espera entregar seu primeiro carro voador ao mercado em 2019. A Geely é dona da Volvo, da Lotus, da London Taxis, da Lync&Co (empresa de carros por assinatura) e acaba de comprar quase 10% de participação na Daimler (dona da Mercedes, Smart e AMG).
Divulgação – Protótipo feito por Glenn Curtiss, um dos pioneiros da aviação, em 1917
Outra empresa que investe pesadamente nessa modalidade de transporte é a norte-americana Uber, que espera estrear seu serviço de carros voadores elétricos em Dallas (EUA) e Dubai (Emirados Árabes). Quando? Já em 2020. Um dos desafios é viabilização dos “vertiports”, pontos para carregamento das baterias, pousos e decolagens. As parceiras da Uber nessa empreitada são Pipistrel Aircraft, Mooney, Bell Helicopter, Aurora Flight Sciences e até a brasileira Embraer.
Vale lembrar que o sonho do carro voador começou em 1917, com um protótipo feito por Glenn Curtiss, um dos pioneiros da aviação. Desde então, seguiram-se dezenas de tentativas fracassadas de se criar um híbrido de carro e avião. A era dos drones, da automação, da eletrificação e dos transportes por aplicativos parece ter criado o caldo cultural necessário para este velho sonho de tornar realidade na próxima década.
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