Realidade virtual, o novo recurso de venda das montadoras
Para atrair compradores, as montadoras estão oferecendo experiências de simulação virtual de seus carros em feiras internacionais
Os avanços na tecnologia de microprocessadores e sensores eletrônicos ajudaram a transformar o carro de hoje em uma experiência imersiva de multimídia com telas de alta definição, mas as empresas automotivas não limitam o apelo tecnológico ao interior do carro: o novo recurso do marketing usa tecnologia de ponta inspirada em jogos.
As montadoras estão oferecendo experiências de realidade aumentada, monitores de vídeo que envolvem o espectador e simulações de realidade virtual para atrair compradores. Os recursos mais sofisticados foram desenvolvidos primeiramente para eventos como o Salão Internacional do Automóvel de Nova York, encerrado em oito de abril.
Nas feiras cheias de carros com conceitos inovadores e belos modelos fazendo sua estreia, é preciso mais que beleza para se destacar. Os visitantes podem ficar sabendo dos planos de uma montadora para a mobilidade urbana enquanto sobrevoam uma paisagem fantástica, experimentam uma corrida de realidade virtual, ou voam por uma pista de prova de arrancada ao volante de um modelo modificado.
O simulador de uma pista da Dodge está no meio do caminho entre a realidade e o faz de conta, onde a engenharia automotiva invade o campo da ciência do videogame. A versão mais recente surgiu no ano passado, em Nova York, e de novo este ano: uma disputa entre dois Dodge Demons genuínos, com uma infinidade de dispositivos eletrônicos e hidráulicos localizados onde costumavam ficar os motores, em uma briga vista através do para-brisa dos veículos.
Levantando as rodas da frente, os carros deixam a linha de partida virtual com um tranco no assento causado pela força G de aceleração, gerada pelos 808 cavalos do Demon. Controlados eletronicamente, os mecanismos hidráulicos simulam eventos dinâmicos, incluindo o da largada. Mudanças na vibração do motor e na pista são transmitidas ao assento do motorista e sincronizadas com o vídeo. Um feedback realista vem através do volante, e o som extremamente alto é reproduzido por alto-falantes dentro e fora dos carros.
O motorista deve usar o regulador de pressão e controlar o volante e o câmbio com precisão, a intervalos corretos, para registrar um bom tempo e a velocidade máxima. A capacidade de imitar a coisa real é absurda: o desempenho do simulador da Dodge foi semelhante ao de um Demon testado pela Associação Nacional de Hot Rod.
“Usamos a tecnologia do automóvel para criar uma campanha de marketing, o que garante a admiração à marca. Os computadores que controlam a simulação são do Demon”, disse Mark Malmstead, chefe de marketing da Dodge SRT, setor de alto desempenho da empresa.
Enquanto as simulações colocam os visitantes no assento do motorista de um dispositivo que age e se parece com um veículo de verdade, a realidade virtual pode gerar um ambiente tridimensional de 360 graus em vídeo, tais como o interior de um carro e a visão que se tem das janelas. A experiência é muitas vezes reforçada pela manipulação eletrônica do assento do espectador. Algumas montadoras usaram esses sistemas de VR no Salão do Automóvel Internacional de Detroit, em janeiro, e a tecnologia já está sendo usada em concessionárias.
A Ford desenvolveu um display de VR chamado City of Tomorrow (“Cidade do Amanhã”). A experiência inclui um passeio em uma máquina voadora que sobrevoa uma paisagem urbana fantástica e mostra um pouco da tecnologia de transporte da empresa. O controle dinâmico do assento simula aceleração e outras forças. Ele foi muito popular na feira de Detroit e fez parte da exibição da Ford em Nova York.
Após o sucesso da VR desenvolvida para o showroom de uma concessionária em Connecticut, a Cadillac está expandindo seu uso para várias outras.
Como ela, a Lexus desenvolveu uma experiência de VR para concessionárias e outras feiras, que leva o visitante a um espaço virtual onde poderá andar em torno dos veículos, abrir a porta para olhar por dentro e configurar um carro, mesmo antes que esteja disponível para venda.
“A Lexus e a Team One oferecem o Showroom Virtual para apoiar lançamentos nas concessionárias, criar interesse em eventos e gerar encomendas”, disse Todd Lewis, estrategista de marketing de eventos da marca.
Mas, no mundo digital atual em que tudo muda rapidamente, a tecnologia de VR do ano passado é meio defasada. Então, algumas montadoras estão desenvolvendo telas que exibem uma mistura de objetos reais e virtuais no mesmo espaço.
A Honda utilizou esse sistema para comparar seu Civic Type R com uma versão para videogame do mesmo carro. A competição, realizada na pista de corrida Road Atlanta, está documentada em um vídeo do YouTube. Um piloto estava no carro real, enquanto um jogador experiente de games dirigiu seu gêmeo virtual. O resultado é interessante – os carros chegam com uma diferença de um segundo um do outro –, mas reduzi-lo à tela plana do vídeo tira um pouco da magia.
Na feira de Detroit, a Honda ofereceu uma mistura diferente de realidades que utilizou a tecnologia HoloLens da Microsoft: usando óculos especiais, os visitantes foram capazes de andar ao redor e entrar em um carro, com a visualização holográfica promovendo o produto durante toda a experiência.
As montadoras estão usando também o vídeo interativo em suas promoções. Muitas concessionárias que vendem modelos AMG de alta performance da Mercedes-Benz estão utilizando um sistema chamado Power Wall para demonstrar a tecnologia dos carros. O veículo e seus componentes são exibidos em grandes telas de vídeo com controle de toque, e os usuários podem ver as partes internas, analisar qualquer uma delas e selecionar vídeos ou demonstrações que fornecem informações detalhadas.
A Fiat Chrysler criou uma ferramenta de tamanho mais modesto que usa para ajustes de mercado – modificações que preparam o veículo para um determinado trabalho, como reboque – para suas Ram. Usando um iPad em pontos chave de uma caminhonete, os consumidores podem visualizar uma variedade de opções de ajustes.
Mas a maneira mais impressionante com as quais as empresas utilizam a tecnologia de ponta continua sendo as experiências difíceis de reproduzir, como o simulador do Dodge Demon ou a experiência de realidade virtual da Chevrolet, que coloca os usuários em uma versão digital da pista de testes da General Motors em Milford, Michigan, e no campo de provas da montadora no deserto em Yuma, Arizona.
A Chevrolet chama a exibição de VR em Quarta Dimensão porque envolve não apenas a visão de 360 graus, mas também movimento dinâmico, vibração e até um pouco de vento no rosto. Assentos controlados eletronicamente se movem acompanhando o trajeto e subindo e descendo morros em vários modelos de carros.
Esse recurso foi lançado em Detroit e foi parte da exposição da marca no Salão do Automóvel de Chicago em fevereiro, segundo Paul Edwards, vice-presidente de marketing da Chevrolet. Mais de 20 mil pessoas os experimentaram nessas duas feiras, e também na de Nova York.
“Quisemos levar os consumidores para os bastidores e mostrar o que fazemos para garantir a qualidade dos veículos. O nível tecnológico da experiência é transferido para a marca”, disse Edwards.
Fonte: Exame | Por Paul Stenquist | © 2018 New York Times News Service – Publicado em 13 abr 2018, 13h32