Usado de locadora pode ser bom negócio
Fonte: Folha Metropolitana
Quilometragem baixa e garantia de procedência são vantagens. Mas aceitação não é unânime. Até recentemente, as locadoras costumavam repassar seus carros usados a lojistas, pois era comum o consumidor ver esse tipo de veículo com desconfiança. O maior receio era comprar um modelo que havia passado pelas mãos de muitos motoristas, nem sempre zelosos.
Atualmente, a presença de usados de locadoras no mercado é ostensiva. Isso porque essas empresas se transformaram nas maiores compradoras de carros novos do País e a cada troca da frota, colocam milhares se seminovos à venda.
Várias criaram lojas específicas para esse fim. A mais recente investida é da Porto Seguro, que vai inaugurar na próxima sexta-feira um local no centro da cidade para vender os modelos utilizados no “Carro Fácil”, nome do serviço de carro por assinatura da companhia. “A locadora precisa ter canais para escoar esse estoque, permitindo a renovação da frota”, afirma o presidente da Unidas, Luís Fernando Porto.
Trata-se de um negócio promissor. A Movida começou a vender seminovos diretamente ao público em março de 2015, em seis lojas. Atualmente, são 62. De janeiro a março deste ano a locadora vendeu 12.700 usados – alta de 42% ante o mesmo período de 2018.
“Hoje, o carro de locadora é mais novo, com revisões e garantia de fábrica. Às vezes, dá para encontrar modelos com apenas 8 mil, 10 mil km, que são verdadeiros ‘filés’”, afirma Paulo Garbossa, da consultoria ADK Automotive.
“Se no passado o nome da locadora teve peso negativo no histórico de um carro, hoje isso pode ser até positivo”, diz Luiz Carlos Augusto, da DDG Consultoria.
Dois tipos de seminovo
Os carros de locadora podem ter dois tipos de uso. O mais conhecido é locação no varejo, cobrada por diárias avulsas. Esses veículos rodam em torno de 30 mil km antes de serem colocados à venda.
“O ideal é o carro rodar entre 25 e 35 mil km. Mas às vezes não conseguimos desligá-lo no tempo previsto, por causa da alta demanda”, diz o CEO da Movida, Renato Franklin. “Em geral, eles são revendidos com 14 ou 15 meses de uso.”
O outro tipo de uso são as frotas corporativas. Nessa modalidade o carro é locado para uso por uma única empresa, com contratos de dois a cinco anos. “São mais rodados pois ficam disponíveis para uso por mais tempo”, conta o diretor de vendas da Localiza Seminovos, José Carlos Batista.
Assim como ocorre em qualquer tipo de loja, carros mais caros têm procura menor. Com isso, quando atingem o tempo de uso para desativação, a maioria rodou pouco. “Alguns chegam ao pátio com menos de 10 mil km. Temos um Mercedes C 180 ano 2017 à venda com apenas 6 mil km rodados. Na tabela a cotação é de R$ 144 mil, mas nosso preço é de R$ 130 mil”, diz Franklin.
Oferecer carros por preços abaixo do mercado ainda é comum nas locadoras. Na Unidas, por exemplo, os valores são entre 3% e 5% menores que as médias da tabela.
Triagem e pós-venda
Nem todos os usados que faziam parte da frota ficam disponíveis nas lojas das locadoras. “O que levamos para o varejo é o nosso melhor”, diz Batista, da Localiza. Ele garante que modelos com histórico de avarias ou quilometragem alta são repassados a lojistas. “São revendedores que atendem outro perfil de cliente e buscam preços mais agressivos”, explica Franklin, da Movida. Outro destino são os leilões, sobretudo se o veículo tiver avarias.
Em caso de defeitos, algumas locadoras, como a Movida, oferecem carro reserva. Da Localiza, o serviço de pós-venda é feito nas unidades da empresa em qualquer lugar do País. “Se há falta de peças na autorizada, cedemos um carro reserva ou, em certos casos, até trocamos o veículo por outro”, garante Batista.
Definição do preço segue critérios sofisticados
Os seminovos oferecidos diretamente pelas locadoras estão pulverizados em lojas por todo o Brasil. A pioneira nesse tipo de negócio foi a Localiza, que abriu seu primeiro ponto de venda em 1991 e atualmente tem 108 lojas. A Unidas, outra gigante do setor, tem 93.
Os estoques podem ser vistos nos sites das empresas e o interessado escolhe o carro independentemente do local onde ele estiver. A Unidas, por exemplo, faz o traslado sem custo.
Carros como Hyundai HB20, Chevrolet Onix e Fiat Palio, que costumam figurar no topo da lista dos mais transferidos do País, têm os maiores números de unidades à venda. Mas um mesmo modelo pode ter grande variação de preços dentro da mesma locadora. Vários fatores influenciam na chamada precificação – a quilometragem é um aspecto importante, mas está longe de ser o único.
“Se em uma determinada região há menor oferta de um modelo, posso cobrar mais ali. Se há excesso de oferta, tenho de reduzir o preço”, explica Renato Franklin, da Movida.
“O carro preto vai mal no Nordeste e o vermelho é pouco aceito no Sul. Já o Renault Sandero vende melhor no Rio de Janeiro. Com base nisso, realoco os carros para o local onde vendem melhor”, diz ele.
Diretor de seminovos da Localiza, José Carlos Batista diz que 80% dos modelos com os quais a empresa trabalha estão bem distribuídos em lojas localizadas em todas as regiões do País. “Só carros específicos estão disponíveis em uma região e não em outra”, afirma.
Facilidade de venda depende do segmento
A aceitação de usados que pertenceram à locadoras divide a opinião de lojistas. Enquanto alguns não têm objeção, outros impõem desvalorização extra por causa dessa origem.
Na Fiat Amazonas, não há restrição para modelos nacionais. Já os importados são recusados. “O cliente desse segmento é mais exigente e não quer saber de carro que foi de locadora. Muitas dessas empresas não fazem as revisões e teríamos de dar a garantia”, diz o gerente de seminovos da autorizada, Kleber Olaya.
Gerente comercial da multimarcas Planet Car, Diego Martinez diz que a praxe é pagar 5% a menos por esses carros. “Você fica limitado a um público específico. Alguns dizem que se quisessem carro de locadora iriam direto à loja deles.”
Martinez concorda que o público de carros mais caros foge dos de locadoras. “Já o do ‘popular’ muitas vezes quer um carro para trabalhar de Uber. Ele vê o que cabe no bolso.”
Para o gerente de vendas da Hyundai Caoa Imirim, Marcelo Sinhorine, não há distinção. “Muitas locadoras trabalham com o HB20. Recusar esses carros seria dar um tiro no pé”, diz. “Mas se não fez as revisões, deprecio em até 10%.”
Idec dá dicas para evitar dor de cabeça
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), tem uma espécie de cartilha que ajuda a reduzir os riscos de o comprador fazer um mau negócio. Confira algumas dicas:
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece que, caso o veículo apresente problemas de fácil constatação, o consumidor tem até 90 dias para reclamar. Se não forem resolvidos em 30 dias, o comprador pode exigir a troca por outro bem do mesmo padrão, o cancelamento da compra ou desconto proporcional do preço.
Esses direitos são garantidos quando se tratar de relação de consumo, que ocorre quando a compra for realizada entre o consumidor (pessoa física ou jurídica) e um fornecedor, como uma loja de veículos ou locadora por exemplo. Se o vendedor for particular (pessoa física), em caso de problemas será utilizado o Código Civil.
Se o veículo apresentar defeito que não estava aparente no momento da compra (os chamados defeitos ocultos) a queixa será formalizada assim que forem descobertos, obedecendo o prazo legal de 90 dias.
Outra dica importante antes de realizar a compra é consultar o Cadastro de Reclamações Fundamentadas do Procon, em busca de queixas anteriores em nome da loja, bem como o comportamento da empresa na resolução dos casos. Se houver muitas reclamações não solucionadas, o recomendável é evitar fechar negócio.
Documentação
– Os documentos que devem ser exigidos do vendedor (pessoa física ou empresa) são:
– Certificado de Registro e Licenciamento do veículo;
– Certificado de transferência, datado, preenchido e com firma reconhecida;
– Comprovantes de pagamento do IPVA e do DPVAT;
Se houver as letras “RM” impressas no documento do veículo, próximo ao número do chassi, indica que foi feita remarcação. O número de chassi pode ter sido adulterado após o veículo ser furtado ou roubado e recuperado. É comum haver grande depreciação de valor de mercado e risco de ter a contratação de seguro negada.
Há ainda lojas que emitem nota fiscal ou recibo com as palavras “venda no estado”. Isso significa que o veículo não está em perfeitas condições. Se mesmo assim o consumidor quiser prosseguir com o negócio, deve solicitar ao vendedor que especifique no corpo da nota ou recibo todos os problemas apresentados, o que garante proteção ao comprador caso surja algum novo defeito.
Checagem prévia
SITES TÊM AVALIAÇÃO: Consultar fóruns de discussão e sites de queixas antes de comprar um carro de locadora é recomendável. No Reclame Aqui, por exemplo, apenas uma das três maiores revendas do tipo está bem avaliada.
No site, A Localiza recebeu 7,9 de 10 pontos possíveis. Na consulta feita ontem, a média de resolução de problemas relatados era de 89,6%.
Movida Seminovos e a Unidas Seminovos tinham avaliação ruim. A primeira recebeu nota 5,4 e a outra 5,3. Ontem, a média de resolução dos problemas relatados era de, respectivamente, 70,7% e 67,4%.
Imagem: Agência Brasil